O comitê ‘Chelsea Resists!’ de apoio a Chelsea Manning , que está presa por se negar a depor contra o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, como quer um júri secreto, denunciou que ela está submetida a confinamento solitário há 17 dias, desde seu encarceramento no Centro de Detenção de Truesdale em Alexandria, Virgínia, em 8 de março.
Manning se recusou a depor, fazendo uso das prerrogativas da Primeira e Quinta Emendas à Constituição norte-americana, e teve sua prisão decretada até que fale, sob pretexto de desacato ao tribunal. Desacato que não existia, inclusive porque ela já assumira todas as responsabilidades diante de corte marcial há nove anos e respondido a perguntas semelhantes.
Como vazou, os EUA preparam um julgamento de Assange em segredo, dentro da argumentação do então chefe da CIA, agora secretário de Estado, Mike Pompeo, de que o WikiLeaks, por expor os crimes de guerra dos EUA, é “uma entidade não-estatal de espionagem”.
A pressão contra Manning é para arrancar dela qualquer declaração que possa ser manipulada para incriminar Assange como tendo sido quem a teria convencido a expor os arquivos do Pentágono.
Assange, que recebeu asilo do então presidente equatoriano Rafael Correa na embaixada em Londres há sete anos, teve essa condição praticamente transformada em prisão política pelo presidente fantoche Moreno, que virou a casaca, e faz tudo o que pode para forçá-lo a sair para que seja extraditado para os EUA.
Em 2010, Manning, que era analista em uma base no Oriente Médio, se deparou com arquivos do Pentágono revelando inúmeros crimes de guerra no Iraque e no Afeganistão, incluindo o agora infame “Assassinato Colateral”, que mostra um ataque com um helicóptero Apache norte-americano em Bagdá que matou 16 civis, incluindo dois jornalistas da Reuters. Imagens registradas pelo próprio helicóptero que cometeu o massacre.
Tomou a decisão de mostrar ao mundo esses crimes de guerra. Nessa divulgação, contou com o apoio do WikiLeaks e de alguns dos principais jornais do mundo, entre esses o New York Times. Manning foi preso em 2010, torturado e condenado a 35 anos de prisão militar, dos quais cumpriu sete antes de ter sua sentença comutada em 2017.
Ao que se sabe, o processo secreto contra Assange foi iniciado pelo governo Obama e mantido pelo governo Trump. Quando secretária de Estado, Hillary Clinton chegou a propor usar um ataque com drone para silenciar Assange.
O Comitê classificou essas medidas contra Manning como tortura e exigiu sua imediata libertação da solitária.
“Desde sua chegada a Truesdale em 8 de março, Chelsea foi colocada na segregação administrativa, ou ‘adseg’, um termo projetado para parecer menos cruel do que ‘confinamento solitário’. No entanto, Chelsea foi mantida em sua cela por 22 horas por dia”, assinalou o Comitê.
“Chelsea não pode ficar fora de sua cela enquanto outros prisioneiros estão fora, então ela não pode falar com outras pessoas, nem visitar a biblioteca e não tem acesso a livros ou material de leitura. Ela não saiu durante 16 dias. Ela tem permissão apenas para fazer ligações e sair da cela entre 1h e 3h da manhã ”
Cinicamente, os funcionários da prisão alegam que o sistema ‘adseg’ é para a “própria proteção” de Manning por se tratar de prisioneira de alto perfil e que as alegações de tortura “não são precisas”.
O comunicado online do Comitê fornece um link para documento do Relator Especial da ONU sobre tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, Juan Mendez, que fundamenta sua denúncias de tortura e confinamento solitário prolongado de Manning.
A corajosa atitude de Manning, se recusando a ser cúmplice da perseguição a Assange e a todos os que denunciam os crimes imperialistas, também explicitou para muitos a existência do júri secreto nos EUA contra o editor do WikiLeaks.
O Comitê também expressou preocupação sobre como o confinamento solitário poderá vir a afetar a saúde de Manning. No entanto, a declaração registra que “Chelsea é uma pessoa de princípios e deixou claro que, embora esse tipo de tratamento possa prejudicá-la e quase certamente deixará cicatrizes duradouras, jamais mudará sua opinião sobre a cooperação com o Grande júri”.
Os advogados de Manning também têm denunciado que ela tem sido alvo de assédio contínuo e vigilância eletrônica ilegal desde que sua sentença foi comutada em 17 de janeiro de 2017 e ela deixou a prisão em Fort Leavenworth.
A. P.