A Agência Humanitária da ONU avalia que a passagem do ciclone Idai, com ventos que alcançaram 220 quilômetros por hora, e provocaram imensas enchentes, deslizamentos e desabamentos, afetaram cerca de 1,85 milhão, somente em Moçambique. Em Zimbábue e no Malaui, a situação também é grave, com os três países vivendo risco das mais de 800 mortes serem multiplicadas nas próximas semanas devido às epidemias de cólera e malária, preveem as autoridades.
A inundação dos rios impediu a fuga de moçambicanos, que tiveram de se socorrer no teto das casas e em cima das árvores. A prioridade segue sendo levar água potável, comida e remédios para quem está isolado nas regiões mais distantes, mas faltam aviões e helicópteros.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que “é extremamente doloroso constatar as centenas de mortos que o ciclone Idai provocou; ver localidades inteiras alagadas; saber que casas, hospitais e escolas estão em ruínas; verificar que colheitas vitais para a alimentação das populações foram perdidas; temer as doenças e epidemias que, normalmente, surgem nestas ocasiões”. Diante de todo esse horror, enfatizou, a ONU estará mobilizando e reforçando a solidariedade, que deverá ser duradoura: “estamos juntos”.
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de Moçambique confirmou no domingo a existência de 446 óbitos e deixou 434 escolas e 2.600 salas de aulas afetadas, deixando sem estudar mais de 90 mil estudantes, e um milhão de crianças precisando de ajuda. No país, mais de 11.000 casas foram completamente destruídas.
Na cidade de Beira, com mais de 530 mil habitantes, no litoral de Moçambique, entre 80 a 90% da população perdeu absolutamente tudo. O principal hospital da cidade teve 40% do teto arrancado pela força dos ventos. Ilhada, com as rodovias de acesso submersas ou apagadas do mapa, Beira é o retrato da dor e do sofrimento de povos que clamam por ajuda imediata.
SOLIDARIEDADE CUBANA
Frente à catástrofe, a vice-ministra de Cuba, Anayansi Rodríguez Camejo anunciou que um hospital de campanha com todo seu pessoal e equipes imprescindíveis se somará aos 372 colaboradores que a Ilha já enviou a Moçambique, fortalecendo ainda mais os vínculos históricos entre os dois povos.
Viúva de Samora Machel, herói da libertação de Moçambique, e atual primeira dama, Graça Machel, lamentou a dimensão da tragédia: “tenho a maior dor de dizer que é o meu país e o meu povo que vai ficar na história como tendo sido a primeira cidade a ser devastada completamente pelas mudanças climáticas”. Ela disse que o mundo deve estar preparado nos próximos dias “para pedidos de assistência de grande escala e de uma sofisticação e complexidade de como é que se reorganiza uma cidade que ficou totalmente arrasada. Nunca aconteceu, aconteceu aqui”.
“A operação de busca e salvamento ainda não está completa, todos nós podemos imaginar o que significa estar pendurado em cima de um teto ou de uma árvore. As pessoas começam a cair de exaustão por causa de todas as coisas que podemos imaginar”, lamentou Graça Machel, frisando que “devemos nos sentir profundamente preocupados”, pois é preciso agir e “conseguir fazer em tempo relativamente curto”.