A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga o rompimento da Barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG) no dia 25 de janeiro deste ano, ouviu na última quarta-feira, os engenheiros responsáveis pela inspeção de estabilidade da barragem e o gerente da mineradora. 217 pessoas morreram e 86 permanecem desaparecidas.
A engenheira Ana Lúcia Moreira Yoda, da empresa Tractebel Engineering, que assinou laudos de estabilidade da barragem de Brumadinho de 2017 a junho de 2018, declarou na CPI que enquanto atuou na mina, não havia nenhum indicativo de risco iminente de rompimento da estrutura. Ainda de acordo com a engenheira, os indicadores estavam “dentro das leituras históricas”.
Ela esclareceu que, após uma reclassificação pela Tractebel do fator de segurança da barragem, em junho de 2018, o gestor da Vale encarregado pelo contrato da Mina de Brumadinho, Washington Pirete, achou melhor deixar a análise sob a responsabilidade da alemã Tüv Süd, que atestou por último a estabilidade da estrutura na barragem que se rompeu.
Ainda segundo Ana Lúcia, o gestor justificou que a troca de empresas foi devido a alemã ter uma estrutura melhor para avaliar a barragem. “A Tractebel decidiu não trabalhar mais com declarações de segurança de estruturas de barragens”, afirmou aos senadores.
Ela disse não saber o que teria causado o rompimento da estrutura em Brumadinho. “Muito difícil [saber o que aconteceu]. A coisa que está mais perturbando a comunidade técnica é essa pergunta. Eu não saberia dizer com os elementos que eu tenho. A gente tem tentado estudar, mas eu não saberia dizer, tenho medo de ser leviana”, concluiu.
O gerente de Geotecnia Corporativa da mineradora Vale, Alexandre Campanha, disse que não coagiu os engenheiros da Tüv Süd a atestar o laudo de estabilidade da barragem. Ele negou ter feito qualquer tipo de pressão sobre a Tüv Süd para que a empresa de engenharia fornecesse laudo atestando a estabilidade da barragem em Brumadinho.
Alexandre Campanha foi preso temporariamente, depois de ter sido acusado de coação pelo auditor da Tüv Süd, Makoto Namba. O auditor também foi convocado na condição de testemunha pela CPI, mas exerceu o direito de ficar calado, garantido por um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Nunca fiz nenhuma pressão ao senhor Makoto e nunca me reuni com algum funcionário da Tüv Süd de forma isolada. Em 30 janeiro, durante depoimento à força-tarefa da polícia e do Ministério Público mineiros, ele não citou nenhuma pressão. Posteriormente, em 1º fevereiro, ele disse ter se sentido pressionado por uma pergunta que lhe tinha feito. Já num outro depoimento, em 25 de fevereiro, ele afirmou que entendeu a minha pergunta como sendo uma pressão, embora tivesse assinado o laudo com base em critérios técnicos”, se defendeu.
Alexandre Campanha disse que havia apenas perguntado a Makoto, durante uma reunião, se a Tüv Süd já tinha um posicionamento sobre uma declaração da condição de estabilidade exigido por uma portaria do antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Ao ser questionado pelo relator Carlos Viana (PSD-MG) e pelo vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sobre a presença do refeitório e de outras instalações bem abaixo da barragem, o técnico da Vale respondeu que toda intervenção ou obra no complexo precisa ser autorizada pela área técnico-operacional da mina.
“Essa ocorrência em Brumadinho me causou profunda tristeza e sentimento de vazio muito grande porque pessoas morreram e famílias estão sofrendo; eu perdi colegas de trabalho. Sobre o restaurante e unidades administrativas que ficavam abaixo, quem tinha que tomar a decisão sobre retirar ou não era o gerente operacional da mina, que infelizmente veio a falecer no acidente. Acima dele, fica o gerente executivo e, depois o diretor de operação”, disse.
Além de Makoto Namba, outro auditor da Tüv Süd Brasil que prestaria depoimento, André Yassuda, também preferiu ficar em silêncio e foi dispensado pela presidente da CPI, senadora Rose de Freitas (Pode-ES).
A presidente da CPI comunicou que recorrerá da decisão do STF que permitiu que os engenheiros Makoto Namba e André Yassuda, da empresa Tüv Süd, ficassem em silêncio na CPI de Brumadinho. Os senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Juíza Selma (PSL-MT) pediram a quebra de sigilos e acesso aos dados bancários e telefônicos de Makoto Namba.
Além de soterrar centenas de pessoas, o rompimento da barragem de rejeitos tóxicos destruiu o Rio Paraopeba, afluente do Rio São Francisco. Os últimos números apontam para 217 pessoas mortas e 87 desaparecidas em meio à lama.