O governo de Daniel Ortega e a oposição suspenderam, na quarta-feira, dia 3, as negociações que tinham como objetivo superar a crise política em que a Nicarágua está submersa há quase um ano. O prazo estabelecido para os diálogos políticos se concluiu sem acordos sobre itens fundamentais envolvendo democratização e justiça.
Os encontros iniciaram-se em 27 de fevereiro, visando “a estabilização e a pacificação da Nicarágua” e o processo já havia sido paralisado em três ocasiões, diante da repressão governamental.
Ortega nega-se a aceitar a antecipação das eleições marcadas para 2021, além da investigação dos massacres perpetrados por policiais, paramilitares e agentes do regime, mantendo os crimes na impunidade. Tais eram as condições definitivas da oposição para selar com o regime um acordo de compromisso, com subsequente pedido conjunto de suspensão de sanções internacionais que pesam contra o governo de Ortega.
Mesmo sem estes pontos centrais, houve alguns avanços nas discussões e, cinco dias antes da suspensão das negociações, as partes haviam acordado em 18 pontos, entre eles o compromisso do governo nicaraguense de libertar os 700 presos políticos, anular os julgamentos de todos os presos por opinião ou manifestação contra o governo, assim como os processos judiciais em curso contra presos políticos. Também se compromete Ortega a restabelecer as liberdades de mobilização popular no país e desmontar os aparatos paramilitares que reprimiram e assassinaram manifestantes.
As manifestações contra Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, começaram em 18 de abril do ano passado, repudiando a tentativa de impor reformas que cortavam o orçamento das universidades, salários e demitiam professores, além de mexerem na Previdência, aumentando a idade mínima para as aposentadorias, encarecendo as contribuições tanto para os trabalhadores quanto para os patrões. A repressão às manifestações populares deixou ao menos 325 mortos e milhares de exilados.
A oposição afirma que “a negociação está encerrada ante a falta de vontade política do regime. O governo só faz de conta”.
Participaram dos encontros seis delegados oficiais, encabeçados pelo chanceler Denis Moncada, e seis representantes da opositora Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (ACJD), que é presidida pelo diplomata Carlos Tünnermann. Como “testemunhas” do diálogo assistiram Waldemar Sommertag, indicado pelo Vaticano, e ainda o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes.
A negociação se realizava a portas fechadas na sede do Instituto Centro-Americano de Administração de Empresas (INCAE), em Manágua, sem acesso aos meios de imprensa e sem informações sobre o conteúdo das discussões.
Tünnerman disse que as partes “têm total divergência” sobre os temas que levaram à suspensão do diálogo, mas ficou decidido “fazer consultas até se conseguirem as condições que permitam retomar o debate”.
“Para não continuar na armadilha de um diálogo interminável, decidimos nos afastar porque não há consenso. Vamos nos dedicar a implementar o acordado, ou seja, o diálogo se dedica a implementar esse pouco por duas razões: não podemos deixar nossos presos políticos jogados, nem deixar de gozar as liberdades”, disse José Pallais, integrante da Aliança Cívica, ao jornal Confidencial
Personalidades como Ernesto Cardenal, Dora MaríaTéllez, Víctor Hugo Tinoco, Mónica Baltodano, Jaime Wheelock, Alejandro Bendaña, Sergio Ramírez ou Henry Ruiz, lideranças históricas da Frente Sandinista no momento da revolução que depôs o ditador Somoza, condenam a política vigente na Nicarágua nos dias de hoje. “O atual governo da Nicarágua usa algumas vezes um discurso de esquerda, uma estridência nas palavras que nada têm a ver com sua prática real, muito distante de um projeto progressista. Pelo contrário, na Nicarágua são os banqueiros, a oligarquia tradicional e grupos econômicos formados de elementos que participaram da revolução contra a ditadura somozista, mas que renegaram seus princípios e se tornaram especuladores, os que enriquecem. Têm se aproveitado disso, os mais reacionários da hierarquia católica”, assinalou a outrora comandante guerrilheira Mónica Baltodano.
O jornal hora do povo não sabe o real motivo da crise na Nicarágua?
Sabemos: Daniel Ortega.