Com o argumento de propor uma “saída ecológica” ao crime ambiental provocado pela Vale em Brumadinho (MG), que causou a morte de 224 pessoas e deixou 69 ainda desaparecidas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, propôs que a mineradora deixe de pagar os cerca de R$ 250 milhões em multas aplicadas pelo IBAMA e passe a “adotar” sete parques nacionais em Minas Gerais administrados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Segundo ele, as multas deverão ser transformadas em “investimentos” nos parques.
Com a gestão desses parques a Vale seria desobrigada a pagar a multa de R$ 250 milhões aplicada pelo Ibama em ações ambientais da mineradora.
Minas Gerais possui oito parques nacionais. O do Itatiaia, na divisa com o Rio de Janeiro, foi privatizado no início deste ano. Os demais são os parques nacionais do Caparaó (Zona da Mata), Grande Sertão Veredas (Norte de Minas), Cavernas do Peruaçu (Norte de Minas), Serra do Gandarela (Grande BH), Serra do Cipó (Grande BH), Sempre-Vivas (Vale do Jequitinhonha) e Serra da Canastra (Centro-Oeste de Minas). Salles também informou que propôs que a mineradora adote o museu do Inhotim, em Brumadinho.
“Além de generosamente dispensar a Vale de sete licitações para concessões de belíssimos parques nacionais, a proposta “generosa” do ministro prevê também dar “de mão beijada” para a mineradora o dinheiro que ela, como concessionária, deveria investir nas unidades de conservação – os R$ 250 milhões que deixariam de ser pagos na forma de multa para custear ações de recuperação ambiental. Mas que num passe de mágica podem se transformar em investimento da empresa”, considerou Maurício Tuffani, editor do portal Direto da Ciência no artigo ‘Saída ecológica’ proposta por Salles para a Vale é ilegal e imoral.
Salles disse acreditar que os investimentos iniciais feitos com o dinheiro da multa colaborarão para tornar as áreas mais atrativas. “Ao estruturar essas unidades, a companhia poderá deixá-las prontas para um processo de concessão futuro, muito mais atrativo, que traz empresas que podem administrá-las em bloco”, disse o ministro.
Em entrevista concedida à Globo News na manhã desta segunda-feira, ele explicou que a mineradora já pagou a multa do governo de Minas Gerais e a do Ibama ainda está pendente. A Vale já recorreu desta última e pode recorrer novamente em outras instâncias. Então, para evitar uma discussão, ele fez essa proposta de beneficiar a Vale por matar mais de 400 pessoas.
Em entrevista à coluna de Sônia Racy, no jornal O Estado de S. Paulo, o ministro adiantou que sugeriu a proposta e “a Vale concordou”, acrescentando que ainda falta “confirmar se é juridicamente possível”. A nota informou também que o Ibama está participando das negociações sobre a proposta.