Segundo Juca Kfouri, em seu blog, o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, afirmou, durante uma reunião com presidentes de Tribunais de Contas estaduais:
“Estamos convencidos de que Lula não roubou um tostão. E seu patrimônio prova isso. Ele não teve foi quem o avisasse do que acontecia em torno de seu governo. Acabou vítima do jeito de fazer política no Brasil. Serve como exemplo”.
“Estamos”? Quem é “estamos”? Bolsonaro também está convencido disso? Seu colega de Ministério, Sérgio Moro, que, em outra quadra da sua vida, condenou Lula, também está convencido disso?
Ou será que Guedes, como os parasitas feudais, usa o chamado “plural majestático”?
Pelo ridículo, deixemos isso pra lá e vamos ao assunto que mais interessa.
Lula não foi condenado pelo que acontecia em torno dele. Muito menos por aquilo que não sabia. Nem está sendo processado por essas razões (incluídos os dois em que já foi condenado, ele é réu em oito processos).
Foi exatamente o patrimônio anômalo e oculto de Lula (o triplex, o sítio, as obras em um e em outro) a principal prova, embora não a única, que o condenou (e, quanto ao patrimônio, há mais: v., p. ex., PT diz que Lula enriqueceu com palestras).
Mas é natural (ou, melhor, é esperável) que Paulo Guedes, um golpista do mercado financeiro, contumaz nas fraudes contra os fundos de pensão das estatais, tenha a opinião de que esses problemas de Lula são demasiado pequenos para merecer alguma atenção – e, até, algum direito à existência.
Daí, a afirmação de que “Lula não roubou um tostão”.
Guedes está acostumado com o roubo por atacado. O varejo, para ele, nem existe, porque lhe parece infinitesimal, mesmo quando se trata de alguém que foi duas vezes presidente da República.
Além disso, existe a solidariedade (que Deus nos perdoe o uso dessa palavra) de quem está sendo investigado por seus malfeitos. Que Guedes, por esse lado, se identifique com Lula, é algo que também não é surpreendente.
Porém, a questão é que um atestado de honestidade pespegado por Guedes, equivale a um certificado de ladroagem – até maior do que a vítima merece.
Por isso, é cômico que alguns lulistas tenham feito um escarcéu (“Guedes reconhece a inocência de Lula”, “Guedes dá um tapa em Moro”, etc.) em torno desse suposto atestado, passado por um ladrão.
Sinceramente, Lula, apesar de seus problemas, não merecia isso.
Quanto ao mais, Guedes é aquele sujeito capaz de dizer qualquer coisa, se acha que seus interesses – que sempre se resumem a ganhar dinheiro – podem ser favorecidos.
Pode puxar o saco do Olavo de Carvalho (“o líder da revolução”, disse ele em Washington) ou do Lula – mesmo à custa de passar a ideia (ou, mais que isso, de dizer) que seu colega, Sérgio Moro, condenou, por roubo, alguém que “não roubou um tostão”.
E, depois dessa performance, no dia seguinte, Guedes pode se reunir com Moro – como se nada tivesse acontecido – para receber um reforço intelectual para o governo, composto da Luciana Gimenez, Regina Duarte e outros luminares.
Quanto a Moro, parece confirmar aquela teoria nada científica, segundo a qual as pessoas ficam com a cara do que engolem…
[E antes que haja algum mal-entendido: estamos nos referindo a sapos, leitores, sapos, nada mais que isso. É duro ter que explicar a piada, mas, com Bolsonaro no governo, que que se vai fazer?]
C.L.