Prévia do PIB registra 2ª queda consecutiva
Congelamento anunciado do salário mínimo torna pior o que já estava ruim
O Banco Central divulgou nesta segunda-feira (15) seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) registrando uma queda de 0,73% em fevereiro, em relação ao mês anterior, maior recuo mensal desde maio do ano passado.
Em janeiro, o IBC-Br recuou 0,31% ante dezembro/2018.
Os números foram anunciados apenas quatro dias após Bolsonaro ter dito que “o mar está revolto”, mas “o céu é de brigadeiro”, durante ato de 100 dias de governo.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam queda nas atividades da indústria, comércio e serviços.
Contudo, nada é tão ruim que não possa ser piorado. Com a crise evidente que se arrasta há pelo menos cinco anos, Bolsonaro está conseguindo a proeza de afundar ainda mais o país.
Mesmo analistas do sistema financeiro têm essa percepção. “Os dois primeiros meses foram bem decepcionantes e os primeiros indícios para março também não são favoráveis”, declarou ao Valor Econômico o economista Lucas Nóbrega, do Santander.
A economista Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) informou que diante dos resultados de fevereiro e as expectativas para março, a instituição deve rever para baixo as suas projeções de crescimento do PIB para este ano, atualmente em 2,1%.
Não se tem notícia de nenhuma ação de Bolsonaro e seus Chicago’s Boys para a retomada do crescimento e geração de vagas – faltam empregos para 27,9 milhões de brasileiros, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao contrário, manteve a política de juros reais siderais, privatizações e “desinvestimento” na Petrobrás.
E agora a recente proposta de espremer ainda mais o mercado interno. É o que vai acontecer com a proposta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de salário mínimo de R$ 1.040 para 2020, com o reajuste apenas da inflação, ou seja, sem aumento real.
Para os dois anos seguintes, o governo propôs um salário mínimo de R$ 1.082 e de R$ 1.123, com correção apenas pela estimativa do governo para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INPC).
E o governo se basta em repetir a velha ladainha da “reforma da Previdência” – na verdade, desmonte da Previdência pública – para supostamente resolver a crise.
De acordo com o economista e escritor Eduardo Moreira, em quase 4 mil municípios, o pagamento de benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) ultrapassa os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Isto é, mais de 70% dos municípios seriam prejudicados se as aposentadorias e pensões forem reduzidas.
Assim, a reforma de Guedes/Bolsonaro em vez de enfrentar a crise iria piorá-la.
RETROCESSO
O IBC-Br foi criado para refletir “a evolução contemporânea da atividade econômica do país e contribuísse para a elaboração da estratégia de política monetária”, segundo o BC. Ou seja, para a definição dos juros básicos (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
O IBC-Br incorpora cálculos sobre agropecuária, indústria e o setor de serviços, além dos impostos, a partir de estimativas do mercado financeiro.
Apesar do cálculo do IBC-Br diferir do usado para o PIB, indicadores pesquisados pelo IBGE têm confirmado o declínio apontado pelo indicador do BC.
Para o Instituto de Estudos ara o Desenvolvimento Industrial (IEDI), “o primeiro bimestre deste ano foi de retrocesso para mais da metade (54%) dos segmentos industriais do país. Mas a situação é ainda pior para setores como o de calçados e o têxtil, que acumulam perdas pelo menos desde outubro”.
Segundo o economista Rafael Cagnin, do IEDI, o setor mais preocupante é o de bens intermediários, porque já está em recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de queda.
“Os bens intermediários são o coração da indústria. Quando não vai bem é porque o panorama geral do setor está fraco”, disse Cagnin.
Ante um quadro de perda de dinamismo na atividade da indústria, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisou de 3% para 1,1% 2019 a variação do PIB industrial este ano.
O economista do IEDI ressaltou que alguns setores crescem muito pouco, apenas recompondo parte das perdas. Alguns, inclusive, “dão sinais de retrocesso, como alimentos, têxtil e confecção, couro, entre outros, que são ramos prejudicados pela desaceleração do comércio internacional e pelo fraco mercado doméstico”.
Conforme o IEDI, “no final de 2017 e início de 2018 [o setor de serviços] conseguiu frear o declínio de seu faturamento e só a partir de meados do ano passado deu sinais de reação. O problema neste início de 2019 é que vemos alguns indícios de perda de fôlego, em um quadro que só não é mais nítido devido à existência de bases muito deprimidas de comparação”.
“São os sinais de curto prazo que preocupam, pois caso se tornem frequentes poderão comprometer a recomposição do faturamento do setor. Tais sinais são captados pelas variações na margem, isto é, frente ao mês anterior com ajuste sazonal. Tanto em janeiro como em fevereiro houve retração de mesma magnitude: -0,4%, que somadas anulam a expansão de dez/18 (+0,8%)”, acrescentou o instituto.
De acordo com a avaliação do IEDI, “o varejo vem apresentando um crescimento fraco, fazendo do início de 2019 um período morno não apenas para a indústria, mas também para o comércio”.
Em fevereiro, as vendas reais do comércio varejista ficaram estagnadas (0%) na comparação com janeiro, com desconto sazonal, e recuaram -0,8% em seu conceito ampliado – consideradas as vendas de veículos, autopeças e material de construção.
Em 2018, o PIB teve alta de 1,1%. o mercado financeiro estima uma expansão do PIB de 1,95% para este ano, estimativa esta em queda pela sétima semana consecutiva.
VALDO ALBUQUERQUE