Em pronunciamento na 14ª Assembleia Popular Suprema, o líder da Coreia Popular, Kim Jong Un, advertiu que a realização de uma terceira cúpula com os EUA está na dependência de que Washington abandone sua “política hostil” e “arrogância anacrônica” e estabeleceu como prazo “até o final deste ano”.
“Vamos esperar por uma decisão ousada dos EUA com paciência até o final deste ano, mas acho que definitivamente será difícil ter uma oportunidade tão boa quanto a cúpula anterior”, assinalou.
Enquanto isso, como anunciou, a Coreia Popular continuará a “aumentar as capacidades de defesa”.
Analisando os entraves que conduziram a cúpula de Hanói, a segunda EUA-RPDC, ao impasse, Kim destacou que o problema residiu no “diálogo ao estilo americano”, que consiste em fazer “exigências unilaterais” sem estar pronto a sentar “frente a frente conosco e resolver os problemas”.
Na cúpula de fevereiro, enquanto Pyongyang se mantinha no quadro da declaração Kim-Trump de Singapura, de aproximação passo a passo até à confiança mútua e desnuclearização, e propôs o fechamento, sob supervisão internacional, de seu principal centro nuclear, em troca da suspensão de cinco das 11 sanções, especialmente as que atingem a população civil, Washington exigia a entrega de todas as armas nucleares antes do fim das sanções.
Ou seja, matar de fome o povo coreano da parte norte da península. Os EUA também se recusam até aqui a assinar uma declaração formal de fim da guerra da Coreia e paz definitiva na península coreana.
“Se [o governo dos EUA] continuar pensando dessa maneira, nunca irá se mover para a Coreia Popular, não importa quantas vezes haja reuniões em nível inferior”, ressaltou Kim. O líder norte-coreano convocou a resistir àqueles que punem a Coreia do Norte tentando “colocá-la de joelhos”.
Ele também rejeitou a possibilidade de que seu país participe de uma próxima cúpula apenas para aliviar as sanções. “O que está claro é que, se os EUA persistirem em seus métodos atuais de cálculo político, a perspectiva de resolver os problemas será sombria e muito perigosa”, acrescentou.
Kim sinalizou sua disposição de negociar “sob a condição de que [os EUA] tenham a atitude correta e busquem uma solução que possamos compartilhar”.
Como exemplos recentes de atos abertamente hostis de Washington, Kim apontou um ‘teste de simulação de interceptação de míssil norte-coreano’ e a retomada de exercícios militares conjuntos com Seul no sul.
Enquanto a Assembleia Suprema do norte se reunia em Pyongyang, o presidente do sul, Moon Jae In, estava em visita a Washington, com o objetivo declarado de recompor o diálogo entre EUA e a Coreia Popular, visando uma nova cúpula bilateral o quanto antes.
Após seu encontro com Moon, o presidente Trump tuitou que “uma terceira cúpula seria bom pois entendemos completamente onde cada um está”. Ele voltou a sublinhar seu bom relacionamento pessoal com Kim e a asseverar que a Coreia do Norte tem “um potencial tremendo” de sucesso econômico, assim que se desarmar.
As avaliações de Kim sobre as relações intercoreanas mereceram a atenção do jornal sul-coreano Hankyoreh, que citou o jornal do norte, Rodong Sinmun.
“Deixe-me esclarecer mais uma vez que estou resolutamente determinado a trabalhar com o governo da Coreia do Sul ao escrever um novo capítulo na história de nosso povo, um capítulo de paz e prosperidade mútua”, afirmou Kim.
“O Partido dos Trabalhadores da Coreia e o governo norte-coreano continuarão a trabalhar com seriedade e paciência pelo contínuo desenvolvimento das relações intercoreanas e a alcançar a unificação pacífica de nossa nação”, ressaltou.
Kim advertiu que os EUA “estão coagindo o governo sul-coreano a desacelerar as coisas e a implementação de acordos intercoreanos, como parte de sua política de pressionar o Norte através de sanções”.
O líder coreano convocou o governo do sul a “pôr um fim à sua política de depender de poderes estrangeiros e passar a subordinar tudo a melhorar as relações entre os coreanos”, para que se efetivem os progressos significativos estampados na Declaração de Panmunjom de 27 de abril do ano passado e na Declaração de Pyongyang de 19 de setembro.
Como destacou a publicação sul-coreana, Kim enfatizou que, em primeiro de tudo, o governo de Seul “precisa se tornar um defensor dos interesses do povo coreano, em vez de agir como um ‘mediador’ ou ‘facilitador’ intrometido”. Ele exortou Moon a uma “decisão ousada” que se traduza “não através de palavras, mas de ações práticas”.
No entendimento do Hankyoreh, a mensagem de Kim é de que, apesar das severas sanções dos EUA ao Norte bloquearem a cooperação intercoreana, o Sul precisa tomar medidas significativas nesse sentido. E que Moon deveria assumir uma atitude “mais proativa” do que até agora em mudar “a abordagem linha-dura dos EUA em relação ao Norte”.
“Não importa quais desafios e obstáculos estejam em nosso caminho, nossa posição e atitude primárias devem ser o esforço constante para manter intactas as declarações intercoreanas e implementá-las fielmente”, afirmou Kim à Assembleia Suprema.
Fazendo um balanço da visita de Moon a Washington, a Casa Azul (palácio presidencial) considerou que seu principal resultado é ter “reavivado o ímpeto para alcançar a desnuclearização por meio do diálogo”.
Moon reafirmou seu compromisso em “fazer o que for preciso” para alcançar “a completa desnuclearização da península e um regime de paz”. Ele também prometeu um “relacionamento de cooperação próxima com os EUA no processo”. O presidente sul-coreano apontou, ainda, que “melhorar as relações intercoreanas ajudará com as negociações de desnuclearização”.
A.P.