A catedral estava a apenas de 15 a 30 minutos de colapsar, afirmam os bombeiros que arriscaram suas vidas para impedir que o fogo tomasse conta das duas torres góticas ocidentais que sustentam os pesados sinos da igreja.
“Podemos considerar que a estrutura da Notre-Dame está salva e preservada em sua globalidade”, afirmou o general Jean-Claude Gallet, comandante da Brigada dos Bombeiros de Paris, ao final de 8 horas de lutas contra as chamas que se elevaram, no momento mais intenso das labaredas, a 90 metros de altura, em um incêndio que teve início às 18:50 (hora local) da segunda-feira, dia 15.
Nenhum dos cerca de 500 bombeiros, envolvidos na operação, ficou ferido. Eles se colocaram entre o prédio central da catedral que era consumida pelas chamas e as duas torres da fachada ocidental e, com jatos, criaram uma cortina de água que impediu o fogo de se alastrar para as duas construções.
Gallet explicou que “o calor (que no núcleo do fogo chegou a 800ºC) era muito difícil de suportar, tornando a operação ainda mais complicada”.
Enquanto vão surgindo doadores para o levantamento de recursos para a restauração daquele que segundo o presidente do Conselho do Instituto do Patrimônio Nacional, Jean-Michel Leniaud, é “o monumento mais amado pelos franceses”, são computadas as perdas e o que foi milagrosamente preservado.
Leniaud e outros arquitetos e historiadores lembram que durante anos houve uma disputa entre o Estado e a arquidiocese parisiense sobre quem deveria arcar com a restauração, enquanto partes da alvenaria despencavam e as gárgulas que adornam o topo da catedral perdiam as formas consumidas pela erosão.
“Era algo bastante previsível, a falta de atenção real necessária para um prédio dessa estatura é a causa desta catástrofe”, opina Leniaud, sabendo-se que o prédio histórico é propriedade do Estado francês.
Alexandre Gady, historiador de arte, concorda: “Temos dito durante anos que o orçamento para a manutenção dos prédios históricos é extremamente baixo”.
O teto, feito com centenas de feixes de carvalho datados do século XIII, foi totalmente consumido e o momento de seu colapso – junto com a flecha gótica, como é chamada torre mais alta da catedral – para dentro da nave central do prédio, foi um dos de maior dor sentida pelos milhares de franceses que acompanhavam, consternados, o desastre.
Caso o fogo chegasse às torres, uma delas comportando o Sino Emanuel, de 13 toneladas, poderia fazê-lo cair e levar consigo toda a estrutura que o sustenta.
Os bombeiros seguem no local, junto com arquitetos, examinando a dimensão dos danos causados à estrutura que restou de pé, em especial aos arcos de pedra que sustentavam o teto e que em parte também desabaram. “Identificamos algumas vulnerabilidades”, afirmam os arquitetos presentes.
O piso de mármore que ficou coberto de lama e cinzas, foi preservado assim como outras relíquias, a exemplo da estátua Pietá (representando Maria com Jesus ao colo, denominada “Pietá, a descida da cruz, obra do escultor Nicolas Coustou de 1712), o órgão que também ficou pronto no mesmo período e que tem 8.000 tubos e cinco teclados, assim como os principais vitrais redondos denominados de “rosáceas”. Também sobreviveram as dezesseis estátuas, em cobre, representando os 12 apóstolos e os quatro evangelistas, que estavam em outro local para restauração. As estátuas assim como a Pietá ficarão armazenadas no Louvre até o final das obras de restauração de Notre-Dame que pode levar até dez anos.
A procuradoria-geral de Paris acredita que o desastre foi “uma destruição involuntária pelo fogo”.
O papa Francisco, que se solidarizou com os franceses, afirma esperar que a tristeza causada pelo incêndio que destruiu parte da catedral, “seja transformada em esperança com sua reconstrução”.
Disse o papa, em sua mensagem direcionada ao arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit: “Depois do incêndio que assolou grande parte da catedral de Notre-Dame, associo-me à sua tristeza, bem como aos fiéis da sua diocese, aos habitantes de Paris e a todos os franceses. Nestes dias santos, quando nos lembramos da paixão de Jesus, sua morte e sua ressurreição, asseguro-lhe minha proximidade espiritual e oração. Este desastre danificou seriamente um edifício histórico. Estou ciente de que também afetou um símbolo nacional caro aos parisienses e a todos os franceses na diversidade de suas crenças. Pois Notre-Dame é a preciosidade arquitetônica de uma memória coletiva, o ponto de encontro de muitos grandes eventos, o testemunho da fé e da oração dos católicos na cidade”.
Ele elogiou o trabalho dos bombeiros e expressou a esperança de que a recuperação da Notre-Dame “pode tornar-se – graças ao trabalho de reconstrução e a mobilização de todos, para recuperar esta bela joia do coração da cidade, um sinal da fé daqueles que a construíram, a igreja mãe de sua diocese – numa herança arquitetônica e espiritual de Paris, da França e da Humanidade”.