“Diante do espetáculo terrivelmente angustiante do incêndio na Notre-Dame, catedral de Paris que unifica a França, nós oramos a Deus para salvaguardar este monumento tão precioso para os nossos corações”, disse, nesta terça-feira, Dalil Boubakeur, presidente do Conselho Francês da Fé Muçulmana e Mufti (líder religioso islâmico) da Grande Mesquita de Paris.
A Mesquita, a maior da França e terceira maior da Europa, lançou uma campanha pedindo para os muçulmanos contribuírem financeiramente com a reconstrução da Notre-Dame.
Nos dias que se seguem ao incêndio que pôs abaixo a torre mais alta, a chamada flecha gótica, assim como o teto produzido há 850 anos com feixes de carvalho, católicos, praticantes de todos os credos e franceses em geral passeiam pela região, banhada pelo rio Sena, para pensar no dano, na importância do monumento mais visitado no mundo e imaginar o que levou ao desastre (ainda não há conclusão definitiva. As autoridades apontam para um incêndio acidentalmente provocado em algum ponto da montagem que servia aos trabalhos de restauração que estavam em curso).
Na terça, 16, os amigos argelinos Walid Dahmano e Dadi Dama, estudantes, também muçulmanos, que moram em Paris, comentavam seu sentimento diante da visão da destruição.
“A Notre-Dame é um símbolo da França, o fogo nela é tão trágico como se fosse na Torre Eiffel, ou no Arco do Triunfo, no Louvre. Para mim, por ser muçulmano, não importa que seja um templo católico mas, me toca por ser um lugar importante para o mundo, para a história, construído há quase mil anos. Sabemos que nem todos pensam igual, mas é preciso ter respeito sempre”, disse Walid.
“Hoje conclamamos os muçulmanos na França à solidariedade atuante na busca de caminhos para a reconstrução deste lugar de história do nosso país”, afirmou o decano da Mesquita de Lyon e presidente do Conselho das Mesquitas do Reno, Kamel Kabtane.
“Os muçulmanos de nossa região estão consternados por este desastre tanto quanto todos os nossos compatriotas que professam outas religiões. A Notre-Dame de Paris, além de um local de oração e de uma obra prima de arquitetura, é a alma de nosso país”, acrescentou.
Selsabil Beloued, estudante de 21 anos, ficou até tarde no dia do sinistro acompanhando a luta dos bombeiros contra as chamas. Ele declarou, ao passar pelo local na quarta-feira: “Como muçulmanos, sentimos tudo de ruim que acontece a um prédio de devoção como uma tragédia”.
“Nos dias de hoje, ainda mais em uma cidade muito secular como Pais, está se tornando raro que um local religioso seja visto de forma tão elevada, ela precisa ser reconstruída e preservada”, prosseguiu Beloued.
A católica Anne Marie Leclerc, que frequentava a Notre-Dame, falou do sentimento que reina entre os que estão agora dirigindo-se ao local: “Não importa qual seja a religião, o amor está sendo compartilhado por todos aqui. É assim que tem que ser. A Notre-Dame é um lugar sagrado para nós cristãos, mas eu já vi hoje aqui muçulmanos, judeus, budistas e ateus demonstrando seu apoio e amor. O que aconteceu toca no coração de todos”.
O ministro do Exterior do Irã, Javad Zarif, declarou-se “entristecido de ver um monumento icônico, dedicado à devoção de nosso Deus único, em chamas”. Já o Ministério do Exterior do Egito, em nota ao governo francês, expressou sua “dor e tristeza” pelas perdas na catedral.
PAPA
O papa Francisco expressou sua compreensão de que Notre-Dame é um monumento que transcende as religiões.
Ele afirmou, dirigindo-se ao arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit: “Depois do incêndio que assolou grande parte da catedral de Notre-Dame, associo-me à sua tristeza, bem como aos fiéis da sua diocese, aos habitantes de Paris e a todos os franceses. Nestes dias santos, quando nos lembramos da paixão de Jesus, sua morte e sua ressurreição, asseguro-lhe minha proximidade espiritual e oração. Este desastre danificou seriamente um edifício histórico. Estou ciente de que também afetou um símbolo nacional caro aos parisienses e a todos os franceses na diversidade de suas crenças. Pois Notre-Dame é a preciosidade arquitetônica de uma memória coletiva, o ponto de encontro de muitos grandes eventos, o testemunho da fé e da oração dos católicos na cidade”.
Ele elogiou o trabalho dos bombeiros e expressou a esperança de que a recuperação da Notre-Dame “pode tornar-se – graças ao trabalho de reconstrução e a mobilização de todos, para recuperar esta bela joia do coração da cidade, um sinal da fé daqueles que a construíram, a igreja mãe de sua diocese – numa herança arquitetônica e espiritual de Paris, da França e da Humanidade”.