A indústria de transformação do país operou neste início de ano com grande parte da sua capacidade ociosa. Praticamente todos os segmentos funcionaram, nos primeiros três meses de 2019, com operação abaixo da média histórica – em 74,6% de utilização. Isso significa que quase 26% das máquinas da indústria brasileira estiveram paradas no primeiro trimestre do ano. Para o período, a utilização média histórica é de 81% para a indústria em geral.
Os dados foram apresentados por um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) encomendado pelo jornal Estadão.
Apenas dois dos 15 setores da indústria pesquisados – entre eles o farmacêutico e o de papel celulose – ocuparam a sua capacidade produtiva em alinhamento com a média histórica, já descontados os efeitos sazonais.
Além de abaixo da média histórica, a ociosidade também é alta em relação ao mesmo período do ano passado, afirma o estudo.
Uma das maiores disparidades entre a média e a utilização da capacidade instalada foi verificada no macrossetor de bens de capital, que no primeiro trimestre de 2019 operou 10,1 pontos abaixo do que o usual. A indústria de bens intermediários e a de bens duráveis estiveram, respectivamente, 6,1 e 4,7 pontos percentuais abaixo da média de operação.
Entre os segmentos, as maiores ou mais significativas diferenças média histórica x primeiro trimestre de 2019 foram:
Alimentos:
78,3% – média
73,5% – 1º tri de 2019
Derivados de petróleo
82,4% – média
76,9% – 1º tri de 2019
Metalurgia
86,3% – média
77,8% – 1º tri de 2019
Veículos
80,1% – média
71,4% – 1º tri de 2019
Produção e PIB industrial
A produção industrial medida em volume pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já acumula queda de 0,2% nos primeiros dois meses do ano, segundo pesquisa divulgada este mês. À medida que o ano avança – e os dados oficiais revelam que estamos distantes de superar a crise econômica seguindo os passos da atual e perversa política de ajuste – as previsões começam a ir cada vez mais para o campo negativo.
O Estadão entrevistou para a mesma reportagem o gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, que afirmou que o PIB industrial, antes projetado em 3,3% para este ano, não deve passar de 1,1%.
Para ele, o ciclo de desemprego elevado e condição financeira crítica dos brasileiros afetam as vendas e o faturamento das indústrias. “Com isso, hoje as indústrias não precisam ampliar o uso da sua capacidade instalada”, diz.
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, afirmou que não há nenhum indicativo de que o mercado vá melhorar nos próximos seis meses, pelo menos.
“Sem a diminuição do desemprego, não tem alta do consumo nem melhora da ocupação das fábricas. É um nó difícil de desatar”, disse Coelho.