A deputada Clarissa Garotinho (PROS-RJ) afirmou, em sua intervenção na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), nesta terça-feira (23), no debate sobre a desmonte da Previdência, que o Brasil não pode apequenar o debate reduzindo a discussão a uma falsa polarização. “Infelizmente, o que está cegando o debate desta reforma, e de tudo que vem por aí, é que parece que o Brasil virou um duelo entre Bolsonaro e Lula, entre o PT e o PSL”, afirmou.
“Como eu disse, o Brasil é muito maior do que isso. Nós não podemos apequenar o nosso País com essa discussão”, observou Clarissa.
“Parece que mudaram as estações, mas, pelo menos na política econômica, nada mudou. A grande verdade – e muitos não têm coragem para enfrentar este debate – é que as elites econômicas, o sistema financeiro, os bancos, comandaram o País e continuam comandando”, denunciou a deputada fluminense.
Clarissa fez um retrospecto lembrando que “depois de sucessivas derrotas, no ano de 2002, o Presidente Lula decidiu fazer a famosa carta ao povo brasileiro. E o que era essa carta? Nada mais do que um aceno à elite econômica e ao mercado financeiro. Assim, Lula foi eleito. É verdade que, mesmo acenando para as elites econômicas, ele foi mais garantista nos direitos do povo”. “Mas”, acrescentou a deputada, “as elites econômicas, os bancos continuam mandando no Brasil”
Para a parlamentar do Rio de Janeiro, “as elites econômicas, os bancos continuam financiando os telejornais, patrocinando os maiores periódicos, as revistas, patrocinando e financiando aqueles que formam a opinião pública. Financiam a opinião publicada e formam a opinião pública”, observou.
“Essa é a grande verdade que muita gente não tem coragem de encarar. E isso está cegando o povo brasileiro diante dessa reforma”, acrescentou.
“Agora”, disse ela, “nós temos um Presidente eleito que, durante a sua campanha eleitoral, nunca fez da reforma da Previdência o grande ato do seu Governo. Pelo contrário, é um presidente que pregou o combate à corrupção, um presidente que foi eleito pregando o combate à criminalidade e que, agora, faz do ato central do seu Governo a reforma da Previdência”.
Fazendo um paralelo dos governos, Clarissa Garotinho, disse que “a grande verdade é que, enquanto ele [Bolsonaro] se opunha à reforma da Previdência e falava sobre as disparidades do Brasil, ao mesmo tempo, ele também apresentou a sua carta aos brasileiros. Mas ele não precisou nem escrevê-la, porque a carta era o próprio Paulo Guedes, que foi anunciado como Ministro. Essa é a grande verdade”.
“É inegável que o Brasil precisa de uma reforma, mas não é essa, porque essa é uma reforma que mexe com a Seguridade Social, que mexe com os direitos dos pequenos”, afirmou a deputada. “A reforma de que o Brasil precisa não pode ser a reforma que vai sacrificar ainda mais quem sobrevive com 998 reais, quem sobrevive com um salário mínimo”, acrescentou.
“Tirar 2 mil ou 3 mil reais de quem ganha 30 mil não prejudica a qualidade de vida dessa pessoa, mas tirar 100 reais por mês de alguém que ganha 998 reais é uma crueldade. Pedir para que trabalhadoras rurais fiquem até os 62 anos com enxada na mão, debaixo de sol, é crueldade. Querer mexer no BPC é crueldade. Querer não garantir nem um salário mínimo para aposentados e pensionistas é crueldade. Nós não podemos aceitar essa crueldade”, insistiu Clarissa Garotinho.
Ela cobrou coerência do discurso contra “privilégios”. “Está faltando coerência a um presidente que nunca fez da reforma da Previdência o seu grande discurso de campanha. Diz estar combatendo privilégios, mas, aos 33 anos de idade, o Capitão Bolsonaro saiu da ativa, foi colocado na reserva e passou a receber uma espécie de aposentadoria de 10 mil reais todo mês, valor 70% acima daquele do Regime Geral”, denunciou.
“Está faltando coerência a um presidente que, agora em janeiro, averbou aqui na Câmara os seus sete mandatos de Deputado Federal. A qualquer momento – pode ser depois da votação da reforma da Previdência -, ele pode vir à Câmara requerer e receber a sua aposentadoria de mais 27 mil reais. Isso é combater privilégio?”, indagou.
“Eu acho que o Presidente Bolsonaro deveria encaminhar a esta Casa, hoje ainda ou amanhã, uma carta renunciando definitivamente ao seu privilégio de aposentadoria especial parlamentar. Aí, sim, estaria dando exemplo”, completou Clarissa Garotinho
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