Sudaneses, apoiadores do levante que levou ao afastamento do governo de Omar Bashir, se mantêm acampados diante do Ministério da Defesa, na capital Cartum, desde a quinta-feira, quando avançaram as discussões para a formação de um Conselho Civil-Militar com uma composição que garanta de “liberdade, mudanças e punição dos responsáveis pela repressão durante o governo recém-afastado e pelos conflitos que afligiram o Sudão”.
Na quinta-feira, as multidões convergiram de diversas partes do país, naquela que foi denominada “marcha do milhão”, tocando tambores e entoando canções revolucionárias e decididas a apoiar uma greve geral caso os líderes do Conselho Militar de Transição (TMC), formado com o afastamento de Bashir, se negassem a entrar em acordo.
No domingo os manifestantes festejaram o anúncio de que as negociações para a formação de um comitê conjunto haviam avançado e que “grande parte das demandas” das organizações civis seriam atendidas.
Entre as colunas de manifestantes que chegaram a Cartum, entrou na cidade um trem superlotado por dentro, assim como milhares no teto dos vagões. O trem vinha da cidade de Atabara, conhecida – por sua produção siderúrgica – como a cidade do “ferro e do fogo”, de onde partiram as primeiras manifestações, assim que Bashir, atendendo a recomendações do FMI, cortou subsídios elevando os preços de combustíveis e triplicando o preço do pão.
Quando da chegada do trem, com os passageiros bradando durante o trajeto, “Revolução! Revolução!” Kaltom Ahmedan, um dos organizadores dos protestos de Atbara, declarou: “Estou muito orgulhoso de minha cidade e do seu povo porque foi com ele que começamos a revolução e nós continuamos fazendo grandes sacrifícios para alcançar os grandes objetivos desta revolução”.
Ahmedan também se referiu ao fato de que o trem foi recebendo manifestantes que lhe subiam ao tetro durante a passagem de Atabara em direção a Cartum: “Fico cheio de orgulho quando vejo pessoas nos esperando ao longo do traçado da ferrovia para saudar-nos ou para se juntarem a nós”.
As colunas de manifestantes prosseguiram chegando de outras cidades para se juntarem aos já acampados diante do prédio do Ministério da Defesa.
Para abrir espaço às negociações o porta-voz do TMC, tenente-general, Shamseddine Kabbashi, já anunciou o afastamento de três de seus integrantes mais implicados com a repressão que cresceu durante o regime do deposto Bashir.
A Aliança por Liberdade e Mudança (ALC) um grupo que lidera as manifestações e congrega diversas organizações civis do país e atua em conjunto com a Associação dos Profissionais do Sudão (SPA) foi quem lançou o chamado para a marcha, alertando que “os protestos devem continuar para proteger nossa revolução e garantir que todas as nossas demandas sejam alcançadas”.
A Associação dos Profissionais do Sudão saudou o avanço das negociações em um clima de “construção de confiança”.
“Ambos os lados concordaram na importância de uma cooperação conjunta para que o país seja conduzido em direção à paz e estabilidade”, afirma a SPA.
No entanto, a composição do Conselho Civil-Militar ainda apresenta pontos de discordância importantes: enquanto os manifestantes propõem uma formação de 15 integrantes, com 8 civis e 7 militares, os militares querem um conselho de 10 membros, 7 militares e 3 civis.
EXIGÊNCIAS DA ALIANÇA POR LIBERDADE E MUDANÇA
As principais exigências apresentadas pela organização que reúne as forças que promoveram as manifestações são:
- Um Conselho Civil (com a participação de militares) para formar um Governo Civil Transitório até a realização de eleições.
- Que a Constituição do país, de 2005, tornada nula pelo Conselho Militar Transitório seja reinstituída.
- A libertação de todos os civis detidos em relação ao movimento, assim como a soltura dos militares e policiais presos por se recusarem a reprimir os manifestantes.
- Fim ao estado de emergência imposto por Bashir no dia 22 de fevereiro e ainda não suspenso.
Um dos líderes das manifestações que participou do encontro, Ahmed Najdi, afirmou que sua expectativa é “a formação de um comitê sobeano civil-militar, que seria o meio do caminho e que, penso, seria apoiado pela maioria dos manifestantes”.
“Mais multidões são esperadas, não vamos nos dispersar, vamos continuar em nosso acampamento amanhã e até quando alcancemos o atendimento de nossas exigências”, afirma Najdi.