27Produtos proibidos foram apreendidos na galeria C, onde estão presos Sérgio Cabral, Jorge Picciani, Jacob Barata Filho e outros integrantes da quadrilha
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) apreendeu, na última sexta-feira (24), durante uma vistoria, inúmeros quitutes na cela de Sergio Cabral (PMDB) e de outros presos ligados à Lava Jato, na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, no Rio de Janeiro. Há indícios de que os alimentos tenham sido encomendados em restaurantes da região, em desacordo com as regras penitenciárias.
Durante a vistoria foram encontradas nas celas porções quentes de risoto, bacalhau e frango desfiado com temperos. Além de suprimentos, como queijos importados, iogurtes, castanhas, especiarias. E ainda produtos eletrônicos, uma cafeteira e um filtro de água. Tudo em desacordo com as normas da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
A promotora Elisa Fraga, coordenadora de Segurança e Inteligência do MP carioca, explicou que é permitido o ingresso, nos presídios, de alimentos levados por visitantes, em até três sacolas. “Mas o que nós verificamos lá é muito mais do que isso, alimentos que evidentemente não foram trazidos por visitantes, porque são [praticamente todos] iguais”.
O Ministério Público trabalha com a hipótese de que a comida tenha sido fornecida por algum restaurante, já que as porções eram todas idênticas, e algumas ainda estavam quentes.
Além de comida de luxo considerada irregular, o Ministério Público encontrou material de ginástica, tal como halteres, corda para crossfit, além de chaleira, sanduicheira e aquecedores elétricos. “Essa corda é totalmente irregular. Pode ser usada inclusive para enforcar algum desafeto. Por isso é proibida no sistema carcerário”, disse o MP.
Durante a vistoria, o MP notou que o luxo estava restrito à ala dos acusados da Lava Jato, onde estão presos o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, o empresário Jacob Barata Filho, o presidente da Alerj Jorge Picciani, os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi (os três do PMDB), e um grupo de presos da Lava Jato, além do ex-governador Anthony Garotinho (PR) e na ala feminina a esposa de Cabral, Adriana Ancelmo e a ex-governadora Rosinha Garotinho. Os outros presos da ala especial (destinada a presos com ensino superior) não contavam com o mesmo luxo.
O MP chegou à cela de Cabral e encontrou do lado de dentro o ex-governador em uma reunião intima com Jorge Picciani. Os dois sentados um de frente para o outro em cadeiras de plásticos com seus petiscos de luxo ao lado. Na ala dos políticos e empresários corruptos presos as celas ficam abertas, todos circulando livremente como numa colônia de férias, como foi demonstrado nos vídeos divulgados pelo MP.
Os presos da Lava Jato usufruem de colchões que foram utilizados por atletas durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano passado. Um único colchão deste tipo foi encontrado na ala feminina (onde não há separação entre as presas do regime comum e especial), e o MP desconfia que seja de Adriana Ancelmo.
Os alimentos luxuosos também foram encontrados, em menor quantidade, na ala feminina.
A promotoria do MP listou uma série de indícios sobre possíveis benefícios à galeria C do 2º andar da cadeia de Benfica, onde estão os presos da Lava Jato e vai investigar se houve distribuição por parte de restaurantes e se funcionários do presídio participaram do esquema. Os fatos serão comunicados à 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e à Justiça Eleitoral de Campos.
Adriana Ancelmo também está em Benfica
Por três votos a dois, o Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro da 2ª Região (TRF-2) decidiu que a ex-primeira-dama do Rio, Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), volte para prisão preventiva, a ser cumprida em regime fechado no sistema penitenciário.
Na volta ao regime fechado, Adriana passou a dividir cela com 16 mulheres, entre elas sua inimiga política Rosinha Garotinho, ex-governadora do Rio e esposa de Garotinho, na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde na ala C estão os presos da Lava-Jato, inclusive seus maridos.
As ex-primeiras-damas não estavam na escala das presas para fazer a faxina na ala feminina. Das quinze mulheres encarceradas ali, Adriana era a única a ter colchão alto, seminovo, usado por atletas na Olimpíada, como os dos presos da Lava Jato.