MARCO CAMPANELLA (*)
Desde 2016, quando Temer assumiu a Presidência da República, a Petrobrás decidiu, na linha mercadológica do presidente da empresa, Pedro Parente, alinhar os chamados preços proporcionais dos combustíveis produzidos em suas refinarias aos de importação desses produtos.
Ora, o Brasil produz e refina petróleo e produz combustíveis, mas, apesar disso, o país, a partir daquele período, resolveu subordinar preços de produtos essenciais ao nosso desenvolvimento econômico e social às ações especulativas que acontecem fora de nossas fronteiras pelas grandes corporações internacionais do petróleo.
Em maio de 2018, precisamente em razão dessa política irresponsável, os caminhoneiros brasileiros promoveram um movimento contra os aumentos abusivos do diesel, que paralisou o país por uma semana. Ali, naquele episódio, a população, por variados motivos, sentiu na pele as consequências do atrelamento do preço do combustível a variações internacionais sobre as quais não temos nenhuma governança.
O fato é que, com preços altos em relação ao custo de importação, o diesel produzido pela Petrobrás fica encalhado nas refinarias e parte do mercado é transferido para os importadores. Resultado: aumento da capacidade ociosa das refinarias, redução do processamento de petróleo e da produção de combustíveis, e, consequentemente, incremento da exportação do petróleo cru em um país que já descobriu, graças aos investimentos históricos em pesquisa e tecnologia promovidos pela Petrobrás, o Pré-Sal e outros tantos bolsões de produção petrolífera.
Combustível produzido nos Estados Unidos é importado por multinacionais estrangeiras, que desenvolvem toda uma logística para distribuir o produto aos concorrentes da Petrobrás, reduzindo sua participação no mercado, o que onera o consumidor desnecessariamente diante da política míope de alinhamento aos preços internacionais do petróleo e à cotação do câmbio.
Quem ganha com essa política: as refinarias dos EUA, as corporações da logística e as distribuidoras privadas, assim como os produtores e importadores de etanol, com a gasolina relativamente mais cara que perde mercado.
A “intervenção” de Bolsonaro na Petrobrás com o objetivo de represar, momentaneamente, o preço do diesel não resistiu a um telefonema de quem “entende de economia”, o ministro Guedes, que afirmou, na sequência, não ver problema em o presidente errar uma vez ou outra, pois sempre haverá condições de “consertar”. “Consertaram” rapidamente, com o apoio do próprio Bolsonaro, que voltou atrás, gerando uma grande revolta nos caminheiros, que se sentiram traídos.
Agora, o governo está sendo obrigado a fazer um verdadeiro malabarismo para impedir iminente paralisação, que chegou a ser anunciada por algumas lideranças do movimento, oferecendo compensações à retomada da escalada dos preços do diesel. Uma delas, já apresentada, seria a disponibilização, pelo BNDES, de uma linha de crédito a custo baixo no valor de R$ 500 milhões para os caminhoneiros, ao que eles já reagiram, afirmando que se trata de uma “esmola” que não resolve o problema, até porque a maioria dos integrantes da categoria, por conta da crise que atinge o setor, está com o nome sujo no Serasa.
Diante desse quadro, a solução milagrosa do presidente da Petrobrás, Castello Branco, é a privatização da empresa, com a venda das refinarias. E aí vem a pergunta que não quer calar: se estamos praticando preços mais altos que os custos de importação, mesmo produzindo e refinando no país, imagine o que vai acontecer com esses preços se houver a desnacionalização das refinarias? A privatização tem um endereço muito claro: acabar com a política de preços e entregá-la inteiramente ao mercado. Se o consumidor quiser reclamar, que procure o Papa, pois o Estado e a Petrobrás já não terá nenhuma responsabilidade sobre essa política, ou seja, estaremos renunciando ao controle de preços num segmento altamente oligopolizado e vital ao desenvolvimento nacional.
A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) insurgiu-se publicamente contra a atual política de preços praticada pela empresa e as manifestações privatizantes de seu atual presidente, lembrando o papel histórico da Petrobrás na defesa da soberania do país, numa área estratégica do ponto de vista do mercado mundial. E alertou para movimentos, muitas vezes induzidos ou patrocinados por grupos e instituições de países centrais, como a CIA, sempre com receitas do cardápio neoliberal das privatizações e da renúncia à soberania nacional. São vários os casos conhecidos em todo o mundo, em alguns dos quais provocou-se a deposição de governos e, até, o assassinato de chefes de Estado que resistiram às pressões externas.
A solução, inadiável como nunca, é o fortalecimento e resgate da Petrobrás como instrumento capaz de suprir o mercado doméstico de derivados com preços abaixo do custo de importação para obtenção de resultados compatíveis com a indústria internacional.
Dessa forma, teremos uma consistente e permanente política de investimentos no desenvolvimento da indústria petrolífera nacional.
Os caminhoneiros, que já anunciam nova paralisação dia 21 de maio, caso o preço do diesel continue subindo (o que é o mais provável, diante do reposicionamento da política da Petrobrás), além de não aceitarem a “esmola” governista, devem, agora, se unir aos trabalhadores da Petrobrás e a todo povo brasileiro na defesa da empresa, contra sua privatização ou a entrega de suas refinarias.
Apenas por esse caminho será possível reduzir os custos dos combustíveis em geral e, em especial, do diesel consumido pelos caminhoneiros. O caminho de desatrelar a Petrobrás da atual política aferrada ao mercado especulativo e monopolista internacional, profundamente lesiva ao interesse nacional.
(*) Jornalista, foi editor-chefe da Hora do Povo.
Mas na hora de leiloar petróleo, o Temer não coloca preços internacionais ao barril, R$ 0,84 o barril. Só leilão para o Petróleo Paulista . Uma empresa de economia mista + cessão onerosa = Nova ordem Mundial: Islã, Eurásia e Ricos Ocidentais