O empresário Jorge Theodócio Atherino confessou ter recebido R$ 500 mil da Odebrecht para Beto Richa (PSDB), ex-governador do Paraná. O dinheiro foi repassado para Pepe Richa, irmão de Beto Richa, e para o tesoureiro da campanha, Juraci Barbosa.
Jorge Atherino, operador financeiro do esquema de propina de Richa, afirmou ter contatado a Odebrecht que, por sua vez, disse ter interesse em subsidiar a campanha, mas com dinheiro vindo “por fora”.
“Eu mesmo fui na Odebrecht, perguntei se eles queriam participar da campanha. (…) Passados dez dias, ele me convida e diz ‘olha, vamos participar da campanha com um número em torno de R$ 4 milhões, só que tem uma dificuldade: o dinheiro é por fora”, disse.
Segundo Atherino, ele próprio pegou a primeira parcela de R$ 500 mil e repassou o dinheiro para o irmão de Beto Richa, Pepe. Como não se sentiu confortável com a forma como estava sendo feita a operação, não ficou responsável pelos R$ 3,5 milhões restantes.
Para a entrega do meio milhão, passou seu endereço e esperava um executivo da Odebrecht. “Mas chega um ‘boy’, de chinelo, calção, eu fiquei meio, fiquei muito desconfortável. Por quê? Pensei ‘eu vou sair lá fora’, entro no carro para voltar para Curitiba, alguém me esperando na porta diz: ‘olha, aquele ali, oh’, e com isso posso ser assaltado, pode acontecer alguma coisa. Fiquei com medo. Não fiz as outras viagens, eu não fiz”, afirmou durante depoimento.
O depoimento foi dado à Operação Piloto, desdobramento da Operação Lava Jato, que investiga um esquema um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude licitatória na construção da PR-323, obra que nunca aconteceu.
Para ser favorecida, a Odebrecht fez três reuniões com o ex-chefe de gabinete de Beto Richa, Deonilson Roldo, durante as quais foram acertados os valores de contrato e de propinas.
Atherino foi preso em 11 de setembro de 2018, na 53ª fase da Operação Lava Jato. Desde então teve vários pedidos negados para responder o processo em liberdade. No entanto, graças a uma liminar deferida em habeas corpus pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, durante o plantão judiciário, ele obteve a substituição da pena por medida cautelar diferente da prisão.
Em fevereiro deste ano, no agravo regimental apresentado ao STF, Raquel Dodge solicitou a reconsideração da decisão de Toffoli ou que o pedido fosse apreciado pela Primeira Turma. Segundo a procuradora, há perigo de que em liberdade, o réu continue a cometer crimes.
“Há fortes indícios de que grande parcela dos recursos ilícitos obtidos pelos envolvidos, entre eles Jorge Atherino, ainda permanecem ocultos, no Brasil e no exterior, podendo ser usufruídos e dilapidados por eles, caso permaneçam em liberdade”, explicou.
Empresário de Curitiba, do círculo próximo de Beto Richa, Jorge Atherino desempenhava papel relevante dentro do esquema criminoso, agindo como intermediário do grupo nas solicitações e no recebimento de parte das propinas pagas pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. Era ainda responsável pela disponibilização, ocultação e dissimulação dos valores.
GREVE
Além da corrupção, a gestão de Beto Richa no governo do Paraná foi marcada por uma sangrenta agressão contra professores em greve.
No dia 29 de abril de 2015, 20 mil manifestantes em frente à Assembléia Legislativa do Paraná (Alep) foram vítimas da violência de Richa, atacados com bombas, tiros de bala de borracha, cães e jatos d´água.
A ação da polícia de Richa resultou em 200 professores feridos e – segundo o serviço médico municipal de Curitiba – 8 manifestantes, 3 com traumatismo craniano, foram levados para os hospitais em estado grave.
Jornalistas foram atacados e um cachorro pitbull da PM mordeu um repórter cinematográfico da TV Bandeirantes. Ele foi levado em estado grave e teve que passar por uma cirurgia. Um jornalista da CATVE foi atingindo por uma bala de borracha no rosto.
Em imagens gravadas no local policiais chutavam manifestantes que já estavam rendidos, sentados no chão.
Os professores reagiram a uma lei que estava para ser votada naquele momento que retirava benefícios e alterava as regras da previdência social prejudicial para o funcionalismo público. A greve dos professores começou em fevereiro e durou até março. Mas houve uma segunda fase que durou 45 dias, terminando em 9 de junho.
Além de mudar as regras para a previdência, o projeto de Richa extinguia benefícios, como o quinquênio, o vale transporte, entre outros.
O Ministério Público do Paraná responsabilizou Richa, em ação civil pública, “por omissão, principalmente por não ter impedido os excessos, bem como pelo apoio administrativo e respaldo político do governo à ação policial”.
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