Em 1968 a França tinha 255 favelas que foram reduzidas com política habitacional e zerou em 1982. Com a adoção do receituário neoliberal, as favelas voltaram a proliferar e atualmente já existem 571 em todo território francês, com destaque para as favelas localizadas em Paris.
Nos limites da capital localiza-se uma dessas favelas, no terreno da Boulevard Ney, onde 300 pessoas se instalaram em uma linha abandonada de trem, perto do anel viário Boulevard Périférique. Entre os barracos de madeira, as vielas estão cheias de lixo e há ratazanas por todos os lados, e em meio a tudo isso as crianças tentam brincar. Embora as autoridades digam que todas frequentam a escola, uma reportagem publicada pelo El País flagrou diversas crianças na rua durante horário de aula.
Entre elas, uma menina de 11 anos, com espanhol perfeito, explica que na época em que morava em Madri ela conseguia frequentar a escola, o que não ocorre desde que chegou em Paris. Duas gêmeas um pouco mais novas, que também brincavam com as crianças, tampouco frequentam a escola. Em outro barraco próximo dali é possível ver um casal cuidando do seu bebê, enquanto dois outros homens brigam aos gritos e um terceiro tenta apartar a confusão. É um cenário caótico.
A favela de Boulevard Ney é apenas uma entre as centenas de favelas que se multiplicam pelo país, que vê a pobreza crescendo ao passo que mais casas e terrenos são ocupados, conforme relata a Delegação Interministerial para o Acesso à Moradia. Segundo a organização, essas favelas abrigam pelo menos 16 mil pessoas, das quais, 30% são jovens e crianças.
Também se tornou comum ver-se desabrigados em barracas de camping ou mesmo em carros, a exemplo de uma área no município de Aubervilliers, onde se reúnem pessoas que abandonaram as favelas e muitas outras que não encontraram lugar melhor para viver.
O problemas das favelas ressurgiu no país na década passada, porém, segundo o escritor Julien Damon, autor de “Um mundo de favelas – migrações e urbanismo informal”, afirma que há duas categorias de favelas no país. Uma delas corresponde as favelas ocupadas por refugiados, a exemplo de Calais, que chegou a abrigar 7 mil imigrantes antes de ser desmantelada pelo governo. A outra corresponde às favelas habitadas por cidadãos europeus.