O EFF, partido que defende a expropriação das terras usurpadas aos negros durante a colonização do país e a nacionalização das riquezas minerais dobrou de votação, enquanto o AD, aquele que advoga soluções neoliberais à estagnação manteve a mesma proporção de votos da eleição anterior
Com o resultado final, proclamado neste sábado, o Congresso Nacional Africano (CNA), partido fundado por Nelson Mandela, venceu as eleições gerais na África do Sul, obtendo 57,50% dos votos.
Esse resultado dá a vitória a Cyril Ramaphosa, o candidato a presidente e seu principal dirigente. Ramaphosa já ocupa o posto de presidente do país.
O segundo colocado no pleito foi o partido Aliança Democrática, AD, com 23% dos votos. A AD, que tem na minoria branca (de onde saíram os ditadores que dominaram o país no período segregacionista do apartheid) a maior parte de seus os eleitores, tem propostas neoliberais para a economia sul-africana.
Enquanto a AD, teve resultado praticamente igual ao do último pleito, o CNA, viu sua vantagem se reduzir. Nas eleições de 2014, o CNA recebeu 62,15% dos votos e agora 57,507%.
EXIGÊNCIA DE MUDANÇAS
O partido que mais cresceu, entre os 48 que se apresentaram, foi o de esquerda, dirigido por Julius Malema, que chegou a 10,51% dos votos (tinha obtido 5% em 2014). Denominado Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF), o programa do partido de Malema defende a expropriação das terras usurpadas aos negros no processo de colonização, seguido do apartheid. EFF também advoga a nacionalização das riquezas minerais sul-africanas.
Além de eleger o presidente (pela lei eleitoral da África do Sul, o partido com mais votos, além de obter a maior bancada, indica o presidente), o CNA, consegue também maioria no parlamento. No entanto, o declínio é um recado claro aos herdeiros do legado de Mandela de que estes quatro anos são decisivos para que o CNA mostre mudanças reais na vida dos mais necessitados depois da chegada ao poder.
É por isso, que Ramaphosa, que substituiu Zuma em meio ao mandato, com este envolvido em um vasto leque de denúncias de corrupção e favorecimento de elementos de seu grupo, ao depositar seu voto na urna, mandou uma mensagem aos sul-africanos: “Essa eleição é mensageira de uma nova aurora, de um período de renovação, um período de esperança”.
“OS POBRES ESTÃO FICANDO MAIS POBRES”
O Congresso Nacional Africanos (CNA) tem enfrentado um aprofundamento da rejeição popular por sua incapacidade de resolver problemas fundamentais como a pobreza e a desigualdade que, na era pós-apartheid, permanecem em patamar similar ao de antes.
“Demos a eles 25 anos, mas os pobres estão ficando mais pobres e os ricos mais ricos”, declarou a jovem professora, Anmareth Preece, que acrescentou: “Precisamos de um governo que governe para o povo, não para os próprios governantes”.
O desalento com os resultados das gestões do CNA, ao longo dos 25 anos no poder, também foi retratado pela queda no número de eleitores que foram votar: 65,99 % este ano (no primeiro ano de votação com o fim do apartheid, 88% dos eleitores inscritos votaram, foram 76% em 2004, 77,3% em 2009 e 73% em 2014).
No ano passado, a África do Sul, se mostrou com sua economia estagnada, o seu PIB teve um crescimento de 0,8%. Conseguiu ser mais baixo do que o do Brasil, que depois dos anos de depressão com Dilma à frente do país, teve um crescimento do PIB de 1,1%, com Temer, enquanto que a Rússia teve crescimento de 2,3% e os dois outros integrantes do chamado grupo dos BRICS, Índia e China apresentaram taxas de 6,6% de elevação do Produto Interno Bruto.
A LUTA CONTRA O DESEMPREGO
O desemprego também é um demonstrativo das insuficiências do CNA em termos de política econômica.
No dia 14 de fevereiro, a África do Sul viveu um dia de greve geral contra o desemprego e privatizações que ameaçam elevar ainda mais a taxa de desocupação. A paralisação atendeu a uma convocação da COSATU (a maior das Centrais Sindicais sul-africanas) que reúne 21 sindicatos nacionais incluindo os dos setores de mineração, educação, saúde, confecções, serviços públicos, transporte, hotelaria e indústrias, num total de 1,6 milhão de trabalhadores filiados a seus sindicatos.
“Vamos continuar a fomentar a luta das forças progressistas para derrotar o massacre neoliberal dirigido contra a classe trabalhadora. Vamos trabalhar para intensificar nossa capacidade de lutar contra esta exploração escancarada”, foi o recado da COSATU ao saudar o sucesso da greve.
“As grandes corporações devem saber que os trabalhadores estão perdendo a paciência com a situação do trabalho e exigem mudanças reais já”, acrescenta a Central.
A greve foi acompanhada de concentrações de dezenas de milhares de trabalhadores nas quais os dirigentes sindicais sul-africanos se encontraram com os trabalhadores para denunciar uma taxa de desemprego oficial de 27% e real (desconsiderando os que fazem bicos ou sobrevivem de empregos por tempo parcial como efetivamente empregados) que alcança os 37%, com 10 milhões de trabalhadores oficialmente reconhecidos como na luta para conseguir emprego. Quando se trata dos trabalhadores jovens a taxa oficial de desocupação chega aos 50%.
Além disso, para os empregados, as condições de trabalho são precárias, o nível de acidentes de trabalho é uma das demonstrações disso. Na construção civil, que responde por 12% do PIB do país, a média e de duas vítimas de acidentes por semana.
Os dirigentes da COSATU também exigiram do governo de Cyril Ramaphosa, com um ano à frente da África do Sul, que atue no sentido de promover uma “significativa distribuição de riquezas, elevar os investimentos em programas sociais e os benefícios aos servidores públicos”.