Na primeira mobilização a nível nacional durante o governo Bolsonaro, mais de 2 milhões de pessoas em 240 municípios de todos os estados da federação, participaram das manifestações contra o corte de 30% nas universidades e institutos federais.
A Greve Nacional em Defesa da Educação foi convocada por entidades estudantes, de trabalhadores e dos movimentos sociais após o ministro da Educação Abraham Weintraub anunciar o corte de ao menos 30% na verba de custeio das universidades e institutos federais. Segundo denunciaram os reitores das instituições, o bloqueio dos recursos, destinados ao pagamento até de contas como água, luz, manutenção e limpeza, “inviabilizará” as universidades, de pesquisa ao ensino, a partir do segundo semestre deste ano.
O corte na verba do Ministério da Educação, realizado pela equipe econômica de Bolsonaro, soma um total de R$ 7,4 bilhões. Estranhamente, Weintraub saiu em defesa da política de arrocho.
Os protestos contra os cortes tomaram proporções gigantescas. Nas últimas semanas, centenas de assembleias de estudantes, pesquisadores, professores e trabalhadores de instituições de ensino aprovaram a adesão à Greve Nacional.
Segundo o levantamento feito pelo Jornal “Estado de S. Paulo”, foram registradas manifestações em ao menos 240 municípios de todos os estados do país. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), mais de 2 milhões de pessoas estiveram nas ruas.
São Paulo
Em São Paulo, 300 mil manifestantes se concentraram na Avenida Paulista e saíram em manifestação até a Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP). O protesto contou com a mobilização de diversas entidades estudantis, como União Nacional dos Estudantes (UNE), União Estadual dos Estudantes (UEE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES-SP).
Além dos centros acadêmicos da Unifesp, USP, IFs, FATEC e de universidade privadas, como PUC e FGV estão presentes no ato após uma semana de intensas mobilizações nas universidades e escolas com assembleias e atos contra os cortes.
O movimento Cientistas Engajados também participou da manifestação condenando as medidas do governo de ataques à pesquisa e ao desenvolvimento científico.
Na capital paulista, além da mobilização das universidades, também se somaram aos protestos professores estaduais e municipais. Até mesmo os trabalhadores de escolas particulares foram às ruas nesta quarta.
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Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, 250 mil pessoas estiveram na Candelária, com forte participação dos estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). O ato seguiu em direção à Estação Central.
Estudantes universitários e do ensino médio, alunos de institutos e colégios federais uniformizados, professores, funcionários da Educação, pais, representantes de centrais sindicais e entidades estudantis exibiam cartazes e faixas com dizeres como “Educação não é gasto, é investimento” e gritavam palavras de ordem afirmando que “a nossa luta unificou: é estudante, funcionário e professor”.
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Belo Horizonte
Em Belo Horizonte (MG), os manifestantes tomaram a Praça da Estação. Ao todo, 250 mil participaram do protesto. Os estudantes empunhavam cartazes em defesa da educação pública, com frases como “Contra o retrocesso”, “Esse ano eu vou formar”, “Lutei pra entrar, vou lutar pra ficar”, “Tira a mão do meu futuro”, “Universidade não é balbúrdia”.
Em Minas Gerais, os estudantes também protestam contra o governo de Romeu Zema (NOVO) que anunciou o fim da educação em tempo integral para 81 mil estudantes secundaristas.
Porto Alegre
Em Porto Alegre (RS), cerca de 80 mil professores e estudantes terminaram sua manifestação em frente à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Os manifestantes realizaram uma caminhada pelas ruas centrais da cidade, começando pela Osvaldo Aranha em direção ao Túnel da Conceição, que chegou a ser ocupado do início ao fim em determinado momento. “Eu tô na rua, não abro mão, essa balbúrdia vai salvar a educação”, “Ô Bolsonaro, presta atenção, balbúrdia é cortar da educação”, diziam as palavras de ordem cantadas pelos manifestantes, demonstrando que a desastrada frase do ministro da Educação, Abraham Weintraub, serviu de combustível para os protestos.
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Brasília
Mais de 50 mil manifestantes tomaram a Esplanada dos Ministérios durante a manhã e a tarde desta quarta-feira contra os cortes do governo nas verbas das universidades, instituições de ensino federais e programas de pesquisas.
Os estudantes e professores também aderiram em massa à greve nacional da Educação. Além da paralisação nas universidades, 90% dos professores das 678 escolas públicas do Distrito Federal aderiram à paralisação, segundo o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro).
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“O que queremos é o direito de estudar”, diz presidente da UNE
Para a presidente da UNE, Mariana Dias, que participou da manifestação em São Paulo, “a quantidade enorme de gente que foi se manifestar hoje é fruto de uma preocupação que estamos tendo com o futuro de nosso país. E estamos dando um recado muito direto: tudo que ele [Bolsonaro] quiser fazer e que o povo brasileiro não concordar, iremos para as ruas, vamos mobilizar as pessoas”.
A UNE anunciou, no fim do dia, uma nova manifestação nacional contra os cortes de Bolsonaro e Weintraub para o dia 30 de maio, “para que mais brasileiros possa vir para as ruas conosco e defender a escola e a universidade”, disse Mariana. “O que queremos é o direito de estudar em uma escola digna e em uma universidade digna”.
“Hoje foi só o primeiro pavor no governo Bolsonaro, para ele sentir o quanto que a mobilização popular e o povo organizado podem transformar a lógica que ele tenta estabelecer, para mostrar que ele não é dono do nosso país”.
Após a declaração de Bolsonaro de que os 2 milhões de manifestantes são “idiotas úteis” e “imbecis” que estão sendo “usados como massa de manobra”, Mariana afirmou que “idiota é aquele que faz arminha com mão de criança, que diz que livros são menos importantes do que armas”. “É, ainda por cima, desrespeitoso com todos aqueles discordam com ele. Um absurdo”.
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Pedro Gorki, presidente da UBES, que participou da manifestação em Brasília e depois, do protesto no Rio de Janeiro, destacou que “um estudante em um Instituto Federal de ponta, numa Universidade Federal de ponta, não muda só a vida do estudante em particular, mas a vida de um país inteiro, muda a situação do Brasil, para fazer dele um país soberano, independente, democrático”.
Bolsonaro e Weintraub “justificam que é balbúrdia, mas balbúrdia é tirar dinheiro da escola pública, da universidade. Se queremos construir um país democrático, gigante, é necessário investir na base, na escola pública, na universidade pública”.
Com os cortes, “o governo Bolsonaro se provou ainda mais um inimigo da educação. E para nós estudantes, guardiões e guardiãs da educação, se ele é inimigo da educação, ele é nosso inimigo também”.
“Vamos defender a ciência”, destaca a UMES de São Paulo
Para Lucas Chen, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), “é necessário que defendamos as universidades públicas e os institutos federais, porque são justamente essas instituições que produzem ciência, tecnologia. São elas que mais pesquisam no país, cerca de 95%”.
“O sonho de todo estudante secundarista é ter uma formação digna, entrar em uma universidade pública e poder devolver à sociedade tudo aquilo que ela investiu em nós. Para isso, precisamos derrotar o Weintraub, acabar com os cortes, vai ser a primeira grande derrota do governo Bolsonaro, de muitas que virão”, concluiu.
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