Segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG), a barragem Sul Superior da mina do Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), de propriedade da Vale pode se romper a partir de domingo (19).
A constatação foi realizada a partir de documento “Cava Gongo Soco – Análise Inverso da Velocidade Talude Norte”, da mineradora, que foi enviado ao MP-MG e à Defesa Civil e mostra os riscos de ruptura na estrutura. A barragem fica na região central de Minas Gerais, a 100 km de Belo Horizonte, capital mineira.
Na madrugada de hoje, a Defesa Civil do estado reforçou o efetivo em Barão de Cocais.
Segundo o relatório, um radar instalado em uma das cavas da barragem apontou existência de riscos de deslizamento da estrutura. “As trincas no talude estão evoluindo e os dados de monitoramento demonstram que a movimentação no talude norte da cava está aumentando”, diz.
A cava é a região da mina onde ocorre a extração do minério de ferro. Já o talude é uma estrutura construída acima da cava para impedir deslizamentos. Segundo o relatório, o que pode acontecer é que, caso o talude caia dentro da cava, haja um abalo sísmico que pode vir a afetar a barragem, localizada abaixo da cava .
Segundo o Relatório de Monitoramento Geotécnico da Vale, o abalo é capaz de ocasionar a liquefação da Barragem Sul Superior – o mesmo processo que as investigações apontam serem a causa do rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
De acordo com o documento da Vale, o talude tem um deslocamento diário de 3 a 4 centímetros. “Se estabilizar agora pode nem vir a romper, mas se continuar nessa progressão diária, pode se somar a uma proporção maior e, do dia 19 ao 25, indica que poderia haver rompimento”, relatou o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador-adjunto da Defesa Civil.
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ALERTAS
O MPMG expediu recomendação à Vale exigindo que a mineradora informe a população sobre os reais riscos de rompimento da Barragem Sul Superior. Eles pedem ainda que a Vale comunique, por meio de carros de som, jornais e rádios, “informações claras, completas e verídicas sobre a atual condição estrutural da Barragem Sul Superior, possíveis riscos, potenciais danos e impactos de eventual rompimento às pessoas e comunidades residentes ou que estejam transitoriamente em toda área passível de inundação”.
Outra recomendação foi que a empresa forneça às pessoas eventualmente atingidas “total apoio logístico, psicológico, médico, bem como insumos, alimentação, medicação, transporte e tudo que for necessário, mantendo posto de atendimento 24 horas nas proximidades dos centros das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo”.
O Ministério Público exigiu que esses locais contem com equipe multidisciplinar preparada para acolhimento, atendimento e atuação rápida e pronta a serviço dos cidadãos. Os promotores deram prazo de seis horas para a Vale responder se acolhe ou não a recomendação, “com informações específicas e detalhadas sobre as ações adotadas e/ou planejadas para seu cumprimento”.
RISCO DE ROMPIMENTO
A Barragem Sul Superior teve seu risco de segurança elevado para nível 3 no fim de março. De acordo com documentos oficiais da Defesa Civil, nesse nível uma estrutura está se rompendo ou em risco iminente de colapso.
No início de fevereiro, as sirenes da Vale foram acionadas pela primeira vez na cidade, depois que a consultoria contratada pela empresa se negou a dar laudo de estabilidade. A Agência Nacional de Mineração tinha determinado a retirada de 239 moradores das comunidades locais.
No início de fevereiro, 452 moradores da zona de autossalvamento (ZAS) foram retiradas de suas casas.
A barragem Sul Superior foi construída da mesma forma que a de Brumadinho, que se rompeu em 25 de janeiro, deixando 240 mortos e 32 desaparecidos, segundo o último informe da Defesa Civil. Além disso, esta estrutura foi uma das dez que a Vale prometeu desmontar após a tragédia de janeiro.
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