O professor Nilson Araújo de Souza desmistificou a declaração do governador de São Paulo e provável candidato tucano à Presidência em 2018, Geraldo Alckmin, de que pretende acabar com o “Estado paquidérmico” através de privatizações. “Paquidérmicos são os organismos que se apropriariam das estatais caso houvesse o choque de privatização que ele pretende dar. O que é paquidérmico? São os grandes monopólios internacionais que sugam não só os seus próprios trabalhadores como sugam também os trabalhadores e os povos da periferia do mundo capitalista”, afirmou o economista, em entrevista à Rádio Independência.
Nilson Araújo esclareceu o caráter paquidérmico dos monopólios, que ao invés de crescer na eficiência tecnológica, procuram crescer comprando matéria-prima abaixo do custo de extração e pagando a força de trabalho dos países da periferia, e inclusive dos países centrais, com um valor abaixo das necessidades básicas de sobrevivência.
Segundo Souza, “o Estado cumpriu um papel importante desde o início da história do capitalismo, desde a primeira experiência de desenvolvimento capitalista que foi o caso da Inglaterra. Mas cumpriu um papel mais importante ainda com a segunda geração de países capitalistas que se industrializaram: EUA, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia”.
Nesses países, destacou, o Estado teve papel decisivo na montagem de infraestrutura, criação de estrada de ferro e das empresas da indústria de base, no financiamento da produção e funcionando como comprador da produção gerada na economia: “Esses seis países conseguiram se desenvolver e chegaram ao nível que chegaram porque o Estado cumpriu um papel importante”.
“Depois teve uma terceira geração, que foi aqui na América Latina, com Brasil, Argentina, México, Colômbia, Chile e Uruguai, que também se desenvolveram com o Estado cumprindo um papel importante na economia. No Brasil, nós conhecemos a história da época do getulismo, a criação da Petrobrás, a criação da Eletrobrás, que foi implantada no governo João Goulart, na década de 60, a criação da Vale do Rio Doce. Se não fosse essa estrutura, a economia não teria se industrializado”, acrescentou.
Na avaliação de Souza, quanto mais tardiamente um país se industrializa, mais ele precisa da ação do Estado. “Você pode pensar que depois que o país se industrializa, o Estado sai da economia. Ora, depois que se industrializa, vai precisar mais ainda da ação do Estado. Vamos pegar o caso da China. A China já está num padrão de industrialização avançadíssimo e se não fosse a ação do Estado definindo os rumos da economia, planejando, financiando, comprando, montando infraestrutura, não estaria nesse estágio de desenvolvimento e teria mergulhado em profunda crise, como mergulhou o mundo capitalista no seu conjunto, a partir da crise de 2008-2009”, ressaltou.
“Mesmo nações já com economia avançada, precisam do Estado atuando na economia. Esse negócio de dizer que o Estado é paquidérmico é o contrário. É o elemento motor, é o elemento jovem, é o elemento inovador, que leva as economias a crescer. Paquidérmicos são os monopólios que vivem no afã de se apropriar do patrimônio público”, afirmou o economista.