O presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tomou posse nesta segunda-feira (20) fazendo um juramento de lealdade à população e anunciando a dissolução do parlamento (Rada) – controlado pelos apoiadores do fascista Petro Poroshenko – e a antecipação das eleições legislativas de outubro para o mês de julho.
Protagonista na tevê de uma série televisiva em que um professor desconhecido vira inesperadamente o primeiro mandatário por denunciar a corrupção nas redes sociais, Zelensky assumiu a Presidência, em meio à expectativa da população de que recupere os padrões de vida e resolva problemas básicos, como o conflito no Donbass e a grave crise na economia.
Após a posse, Zelensky pediu ao Parlamento que demita o chefe da inteligência (SBU), Vasily Gritsak; o procurador-geral, Yury Lutsenko; e o ministro da Defesa, Stepan Poltorak e apelou a todos os ucranianos, de qualquer lugar do planeta, que venham à Ucrânia “não para visitar, mas para voltar para casa”, trazendo “sua experiência e seus valores intelectuais”.
De acordo com os partidários do novo presidente, a antiga coalizão “Ucrânia Europeia”, que em novembro de 2014 incluiu a Frente Popular, Bloco Petro Poroshenko (BPP), Batkivshchyna, Autoajuda e o Partido Radical, desintegrou-se de fato em 2016. Dmitry Razumkov, conselheiro do governante eleito, disse aos repórteres que não há obstáculos legais para a assinatura do decreto que dissolve a Rada.
Conforme as últimas pesquisas, o partido de Zelensky, “Servo do Povo” – que leva o mesmo nome de sua série humorística – conta com a preferência do eleitorado para as eleições parlamentares.
“A dissolução da Rada é uma solução óbvia, baseada na situação atual. No momento, há uma reserva eleitoral deixada pela eleição presidencial. Para não perder esse apoio muito rapidamente, é claro que ele precisa realizar eleições antecipadas o quanto antes”, declarou Denis Denisov, diretor do Instituto de Pesquisa para Iniciativas de Paz e Conflitos.
“Enquanto as eleições legislativas não ocorrerem, com a atual composição do parlamento ucraniano, o governo Zelensky deverá ficar paralisado e o ministério e o comando das forças de segurança provavelmente permanecerão em seus lugares”, informou à RT um porta-voz do Partido da Frente Popular, em entrevista à RT.
O nível de confiança dos cidadãos ucranianos no atual parlamento é extremamente baixo (cerca de 4%), sendo que 38% dos ucranianos são a favor da sua dissolução, apontou um estudo publicado recentemente pelo Rating e o Centro de Monitoramento Social. “Com base na conjuntura atual, Zelensky pode não obter uma maioria absoluta, mas a maior facção, com base na qual será possível formar mais tarde uma maioria parlamentar”, acrescentou Denis Denisov.
Além da amarga luta política, o principal desafio para Zelensky como presidente será a difícil situação socioeconômica. O empobrecimento da população da Ucrânia é causado por uma forte queda no Produto Interno Bruto (PIB), quase pela metade em termos de dólares. A desvalorização do hryvnia (desde 2014, a taxa de câmbio da moeda nacional caiu três vezes em relação ao dólar) é agravada pelo nível da dívida pública em relação ao PIB (60%).
Uma das promessas do presidente – eleito com 73% dos votos – é reduzir as tarifas dos serviços públicos – nos últimos cinco anos, eles aumentaram várias vezes. Em particular, o preço do gás de aquecimento que até março de 2015 era de 1-1,3 hryvnia por metro cúbico, agora supera as 8 hryvnias.
“Os ucranianos estão esperando por um milagre. Eles aguardam uma correção instantânea da situação, a solução dos problemas mais prementes. E essa ingenuidade é uma das razões do sucesso fenomenal de Zelensky, famoso por criticar Poroshenko por baixos salários e altas tarifas. As acusações contra o ex-presidente eram razoáveis, mas a situação econômica no país é desesperadora. E ninguém da equipe Zelensky tem ideia de como melhorá-la”, declarou o analista Andrei Suzdaltsev.