Estrutura da mina da Mina Gongo Soco cede 7 centímetros por dia
Em meio às incertezas sobre a situação da barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco, da mineradora Vale, moradores de Barão de Cocais (MG) permanecem numa situação de tensão com possibilidade de rompimento da barragem. Ontem, a Agência Nacional de Mineração (ANM) informou que o rompimento do talude do complexo da mina deve acontecer até o próximo sábado (25).
A barragem é do mesmo tipo da que se rompeu em Brumadinho, em 25 de janeiro, matando 241 pessoas e deixando outras 29 desaparecidas.
O diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Eduardo Leão, considerou o rompimento como inevitável. “O talude da cava vai se romper com a gravidade, isso é um fato. O que estamos fazendo agora é minimizando os riscos, evitando que pessoas transitem dentro da cava ou que sejam atingidas”, afirmou.
Segundo a agência, que interditou o complexo na última sexta-feira (17), o talude norte da cava de Gongo Soco estava se deslocando 10 centímetros (cm) por ano desde 2012, um deslocamento aceitável dada a dimensão da estrutura. “Mas, desde o fim de abril, a velocidade do deslocamento aumentou para 5 cm por dia e, se esta aceleração continuar, o rompimento do talude pode acontecer entre os dias 19 e 25 de maio”, alertou a assessoria da ANM em nota publicada na segunda-feira (20).
De acordo com a assessoria da ANM, dados da agência já indicam que, desde ontem (19), a velocidade de deslocamento do talude já havia chegado a 7 cm por dia.
O talude é uma estrutura construída acima da cava – região da mina onde ocorre a extração do minério de ferro, para impedir deslizamentos. Caso haja o rompimento do talude, ele cairá dentro da cava, que possui uma profundidade de 100 metros e o abalo provocado pela queda poderá afetar a barragem Sul Superior, localizada a pouco mais de um quilômetro abaixo da cava.
A ANM já havia notificado a Vale e determinado que a empresa tomasse uma série de providências emergenciais, entre elas a suspensão imediata do tráfego do trem de passageiros no trecho do viaduto localizado a jusante [fluxo normal da água de um ponto mais alto para um ponto mais baixo] da cava; monitoramento por vídeo em tempo real das barragens e também a apresentação de estudo de comportamento da possível onda gerada pelo rompimento do talude norte.
No sábado, muitos moradores de Barão de Cocais que participaram do treinamento da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) reclamaram da falta de informes sobre a situação do complexo minerário. “Não chegou nada de informação para a gente. Só chegou pela imprensa. Não penso em me mudar de Barão de Cocais porque sou criada aqui e pertenço a esta cidade. Mas a falta de informação complica para a gente”, disse Maria de Fátima, de 60 anos, ao jornal Estado de Minas. No dia do treino, a Vale realizou uma reunião com a população em uma universidade da região. Contudo, pessoas que participaram do evento disseram que os representantes da companhia não responderam claramente a muitas perguntas feitas.
A barragem Sul Superior é uma das mais de 30 estruturas da Vale que foram interditadas após a tragédia de Brumadinho (MG), ocorrida em 25 de janeiro. Em diversos casos, a interdição foi acompanhada da evacuação das zonas de autossalvamento, isto é, aquelas áreas que seriam alagadas em menos de 30 minutos ou que estão situadas a uma distância de menos de 10 quilômetros. Atualmente, mais de mil pessoas estão fora de suas casas em todo o estado.
Estrago pode ser ainda maior
O estrago causado pelo rompimento da barragem da Mina de Gongo Soco poderá ser ainda maior do que o previsto no relatório da Vale, de acordo com pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Segundo o professor do Departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Bruno Milanez, as projeções apresentadas no relatório da Vale subestimaram a capacidade destrutiva da onda, por não levar em consideração o aumento de sua densidade por conta dos objetos de médio e grande porte que seriam arrastados ao longo do percurso.
“O modelo que usaram foi baseado em onda de água, considerando a altura do rejeito e a velocidade. No entanto, o rejeito terá uma densidade maior, porque ao longo do trajeto a onda carregará também os objetos que estiverem pelo caminho”, disse Bruno Milanez à Agência Brasil.
O engenheiro alerta que “se essa onda trouxer consigo objetos como troncos ou até mesmo caminhões, ela terá uma densidade ainda maior de rejeitos. Dessa forma, o potencial de destruição nas áreas amarela e verde [áreas que segundo o estudo não seriam atingidas ou seriam parcialmente destruídas] seria ainda maior”.