A presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, advertiu, na terça-feira, 21, para “um recrudescimento perverso da repressão” do governo de Daniel Ortega no contexto da crise política, econômica e social que afeta o país há mais de um ano.
Na apresentação de um detalhado informe sobre a violação de direitos humanos entre outubro e abril, Vilma denunciou o uso de novas modalidades repressivas, como a criminalização dos protestos, violência institucional, encarceramento e sequestros seletivos. O Cenidh responsabiliza o governo de Ortega pela morte de pelo menos 323 pessoas durante os protestos anti-governamentais, e mostra que esses crimes permanecem na impunidade.
O Centro, cujas instalações foram ocupadas pela polícia após a suspensão de seu estatuto jurídico em dezembro, documentou muitas das violações de direitos humanos ocorridas durante e depois o estouro dos protestos em abril de 2018.
Durante a apresentação do informe, Vilma Núñez frisou que as autoridades poderiam estar ensaiando novas formas de repressão, que teriam como exemplo o sequestro da líder estudantil Zaida Hernández, de 26 anos, que esteve desaparecida de sexta-feira da semana passada até domingo, usando isso como uma forma de “aterrorizar” a população.
A jovem foi levada por desconhecidos quando participava em um protesto pela morte do opositor Eddy Montes, ocorrida dentro da prisão onde estão centenas de pessoas detidas por participar nos protestos.
“Tem se instalado um estado policial e um sistema perverso de espionagem através dos Conselhos de Poder Cidadão (CPC)”, um esquema que deturpou a estrutura partidária da Frente Sandinista e que funciona nos bairros, com os aliciados encarregando-se de vigiar e denunciar seus vizinhos, sublinhou Vilma.
Apontou ainda que tem aumentado a “militarização nas ruas e se utiliza a força pública de maneira arbitrária e indiscriminada” contra os manifestantes, ao mesmo tempo em que se ocupam os espaços públicos para evitar manifestações.
O período analisado inclui documentos sobre a suspensão da pessoa jurídica de organismos da sociedade civil e de direitos humanos, incluindo o Cenidh, a ocupação e fechamento de meios de comunicação e a detenção dos conhecidos jornalistas Miguel Mora e Lucía Pineda do canal de televisão 100% Noticias, fechado pelo governo.