Extremamente doente, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, não está em condições sequer de participar de uma audiência de extradição por videoconferência solicitada pelos Estados Unidos.
Asilado na embaixada equatoriana em Londres, Assange, de 47 anos, foi retirado à força do prédio pela polícia inglesa no dia 11 de abril, sob pressão do governo dos Estados Unidos, que move um total de 18 acusações criminais e um pedido de 170 anos de prisão, com base numa lei do início do século passado, exumada pelo governo Obama para perseguir jornalistas e denunciantes de crimes do governo. Caninamente, o governo de Lenin Moreno se submeteu a Trump.
Frente aos últimos acontecimentos, o WikiLeaks disse ter “grandes preocupações com a saúde do nosso editor” e que ele foi transferido para uma enfermaria da prisão de segurança máxima londrina de Belmarsh, conhecida como “Guantánamo inglesa”.
“Durante as sete semanas em Belmarsh, sua saúde continuou a se deteriorar e ele perdeu peso dramaticamente. A decisão das autoridades prisionais de transferi-lo para a enfermaria fala por si só”, informou o site. A próxima audiência sobre o pedido de extradição está marcada para o dia 12 de junho.
Assange, que passou quase sete anos sem sequer ver o sol, confinado em salas da embaixada, disse várias vezes que teme ser extraditado aos EUA onde é retratado como uma figura perigosa, cúmplice de esforços russos para minar a segurança norte-americana. No começo do mês, o jornalista foi condenado a 50 semanas de prisão por um tribunal inglês por violar a condicional e ter escapado para a embaixada equatoriana. A primeira acusação é, normalmente, punida com multa e não com privação de liberdade.
Washington acusou Assange de espionagem, dizendo que ele publicou ilegalmente os nomes de fontes confidenciais e teria “conspirado” ao auxiliar a ex-analista de inteligência do Exército dos EUA, Chelsea Manning, a obter acesso a informações confidenciais.
Além da exposição de crimes de guerra – o mais conhecido deles foi a divulgação de um vídeo pelo WikiLeaks em que tropas dos EUA assassinam civis, inclusive dois jornalistas da Reuters, num bairro de Bagdá, a partir de um helicópteros militar – ; operações de vigilância em massa e conspirações diplomáticas de Washington contra a soberania de países mundo afora.
Apesar da impossibilidade de Assange de consultar seus advogados, um tribunal distrital sueco rejeitou nesta semana a solicitação de que uma audiência sobre falsas alegações de má conduta sexual seja adiada do próximo dia 3 de junho até que sua condição melhore e ele receba uma cópia em inglês do mandado de prisão.
A decisão deixa claro que a requentada “investigação preliminar” sueca visa unicamente impedir a defesa do fundador do WikiLeaks contra a extradição para os EUA, a fim de queimar o nome num esforço para tentar tornar palatável seu envio a uma prisão americana.
A Justiça inglesa ignorou olimpicamente o fato de que a ofensa foi efetivamente resolvida anos antes, como resultado da perda de Assange do dinheiro da fiança, dos anos que ele passou detido na embaixada e do término da investigação sueca em 2017. Apesar do caráter menor da acusação, ele foi colocado na mais alta classificação de segurança dos prisioneiros, sendo mantido em rigoroso isolamento.
Em carta ao jornalista inglês independente Gordon Dimmack na semana passada, Assange explicou que conta com permissão para tão somente duas visitas por mês, tem severas restrições em ligações telefônicas e não tem qualquer acesso à internet, laptops ou biblioteca necessária para preparar sua defesa.
Belmarsh é uma notória masmorra por suas condições extremamente desumanas. É onde os presos condenados pelas acusações de homicídio mais graves e por crimes de terrorismo são geralmente levados, depositados e abandonados.
Um relatório de 2009 do Inspetor-Chefe de Prisões observou uma quantidade “extremamente alta” de força usada contra prisioneiros. Um grande número de detentos relatou ter sido intimado ou ameaçado pelos guardas. O relatório de 2018 do inspetor disse que muitos dos “melhoramentos” recomendados na instalação não foram “incorporados” e em algumas áreas “nós julgamos que os resultados foram mais pobres do que da última vez”.
O cerco à embaixada além de ter impedido Assange do acesso à luz solar direta, inviabilizou o seu acesso a cuidados médicos necessários, resultando em sérios problemas de saúde, incluindo um abscesso dentário grave, problemas de articulação no ombro e uma tosse persistente. Dois médicos que o examinaram em janeiro de 2018 advertiram: “É nossa opinião profissional que seu contínuo confinamento é perigoso fisicamente e mentalmente para ele e uma clara violação de seu direito humano à saúde”. As autoridades rejeitaram seus apelos para que fosse encaminhado em segurança a um hospital.
No último ano de sua detenção na embaixada, a partir de março de 2018, as comunicações do jornalista foram bruscamente interrompidas e lhe foi negado até mesmo o direito de receber boa parte de seus visitantes.
Além da submissão do governo equatoriano, os ataques contra o fundador do WikiLeaks contaram com os servis apoios dos diferentes governos australianos desde 2010, que se recusaram a defender o renomado cidadão australiano.