O Irã segue cumprindo os limites estabelecidos no acordo nuclear, afirmou a agência nuclear da ONU, a AIEA, que é a responsável pelo rígido monitoramento, em seu relatório trimestral divulgado na sexta-feira (31). O relatório da AIEA disse que sua equipe teve acesso “a todos os locais no Irã que precisava visitar”.
Conforme a AIEA, os estoques de urânio e água pesada enriquecidos pelo país continuam bem abaixo dos limites máximos estabelecidos no acordo, mesmo com o anúncio de Teerã no início de maio de que suspendeu algumas das cláusulas, em decorrência das draconianas sanções do regime Trump e na expectativa que os cinco países que continuam no acordo cumpram com a sua parte para atender as necessidades urgentes iranianas.
A AIEA atestou o respeito do Irã ao teto de 300 toneladas de urânio enriquecido a 3,67%. Em 20 de maio, o Irã tinha 174,1 kg de urânio enriquecido, acima dos 163,8 kg de fevereiro, mas novamente dentro do limite relevante, acrescentou o órgão da ONU.
Teerã também segue respeitando limite de 130 toneladas métricas de água pesada. De acordo com o relatório, foi verificado em 26 de maio que o estoque de água pesada do Irã é de 125,2 toneladas métricas, um aumento de 0,4 toneladas em fevereiro. O relatório registra ainda que a operação da Planta de Produção de Água Pesada (HWPP) esteve interrompida entre 15 de abril de 2019 e 22 de maio de 2019.
Há um ano, o presidente Trump retirou abruptamente Washington do acordo, assinado em julho de 2015 entre Teerã e o grupo de países P5 + 1 – EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) + Alemanha -, alegando que o acordo assinado pelo antecessor Obama era “ruim” e impôs sanções unilaterais extremadas, anunciando como meta zero de exportação de petróleo iraniano.
Obama havia assinado o acordo com o Irã em 2015, oficialmente conhecido como Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA), depois de anos de detalhadas negociações, e estabelecendo o mais severo regime de monitoramento já aplicado a um país. Cuja essência era a troca de restrições ao programa nuclear iraniano, afastando qualquer temor sobre armas nucleares, pelo fim das sanções e pela normalização das relações comerciais e diplomáticas, depois intempestivamente rasgado pelo presidente bilionário.
CERCO MEDIEVAL
Como o Irã depende dessa receita para comprar tudo que importa e que ainda não produz, essas sanções funcionam como os cercos medievais às cidades antigas, para forçar a rendição pela fome. Recentemente, a Casa Branca suspendeu as isenções que permitiam que a China, a Coreia do Sul, a Turquia e mais cinco países, que são os principais importadores, seguissem comprando petróleo iraniano.
Em paralelo, Washington aumentou a escalada de provocações com o Irã, inclusive enviando um esquadrão de bombardeiros estratégicos nucleares B-52 e um frota capitaneada por um porta-aviões nuclear, ao Golfo Pérsico, até se tornarem públicas divergências entre Trump e o maníaco de guerra de guerra Bolton sobre uma guerra ao país, depois de incidentes que fizeram lembrar a lambança no Golfo de Tonkin, que serviu de pretexto para escalar a desastrosa Guerra do Vietnã.
Após esperar durante um ano medidas concretas de parte dos países ocidentais, para evitar que a economia iraniana fosse asfixiada pelas sanções de Trump, o governo de Teerã anunciou que deixaria de exportar o excesso de urânio e água pesada e estabeleceu um prazo de 60 dias para que seja encontrada uma saída. “Se a comunidade internacional e outros países membros da JCPOA e nossos amigos da JCPOA, como a China e a Rússia, querem manter essa conquista, é necessário que garantam que o povo iraniano aproveite os benefícios da JCPOA com ações concretas”, afirmou o min istro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif.
INSTEX NA MIRA
O mecanismo para manutenção do comércio com o Irã ao largo do dólar, o Instex, criado pelos europeus para escapar das sanções norte-americanas e proteger suas empresas, cuja eficácia ainda está para ser provada, mesmo assim foi objeto de advertência direta do Departamento do Tesouro, que exige de todos a sujeição às leis extraterritoriais norte-americanas, informou a Bloomberg.
A carta de advertência foi assinada por Sigal Mandelker, subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira. A Instex foi ameaçada com penalidades. Grande parte das corporações europeias que vinham comercializando com o Irã ou investindo no país, já deram para trás, para evitar as pesadas multas fabricadas pelos Departamentos do Tesouro e da Justiça, em operações casadas, em casos anteriores.
A.P.