Em palestra no Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro
O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (CE), vice-presidente do PDT, defendeu que, para “começar a virar o jogo” da estagnação econômica em que o país se encontra, o Brasil precisa implementar uma ação “inadiável e urgente”, que seja capaz de restabelecer as condições de “oferecer à sua gente perspectiva de ter uma vida minimamente justa e digna, com emprego remunerado com salário mínimo decente”.
“Ou com uma aposentadoria minimamente digna àqueles que, já não tendo mais idade, não podem trabalhar”, acrescentou. A “reforma” de Bolsonaro e Paulo Guedes pretende tirar dinheiro da Previdência, impondo a idade mínima e dificultando o trabalhador de se aposentar.
“Nós temos uma tarefa complicada, sob ponto de vista político, mas é muito importante que todo mundo saiba que o Brasil tem alternativas”, afirmou o pedetista, durante palestra no Clube de Engenharia com o tema “Por um Projeto Nacional de Desenvolvimento”.
Em sua fala no evento, realizado na sexta-feira (31 de maio) no Rio de Janeiro, Ciro observou, entretanto, que hoje, ao contrário do que esta perspectiva aponta, o desenvolvimento econômico e social no Brasil vive um cenário crítico.
“Nos últimos três anos, 13 mil indústrias foram fechadas no Brasil, 220 mil pontos de comércio foram fechados, e 63 milhões de brasileiros estão humilhados com o nome no SPC. Mais de 5 milhões de micro e pequenas empresas estão negativas no Serasa, indo para a falência. O empresariado nacional brasileiro está devendo 3 trilhões de reais, e 600 bilhões já estão atrasados”, denunciou.
O ex-governador ressaltou que, nos últimos 20 anos, os governos que comandaram o país permitiram “criminosamente” a monopolização do sistema financeiro como em nenhum outro lugar do mundo capitalista. “No Brasil, 82% de todas as transações financeiras estão concentradas nas mãos de cinco bancos apenas”, disse.
Para ele, os juros altos que resultaram desse processo engessam o consumo das famílias, um dos motores do crescimento econômico, que deve ser puxado por “renda e crédito”.
Ciro Gomes condenou também a desregulamentação das condições de trabalho, que gera uma inequívoca diminuição do valor da mão de obra. Nesse ponto, lembrou que a legalização “cretina, para não dizer mentirosa, da reforma trabalhista” reforçou a legião de 13 milhões de desempregados e 32 milhões de pessoas na informalidade.
“Hoje, o maior empregador do Brasil são os aplicativos, que estão remunerando pessoas com menos de metade do salário mínimo”, disse.
“Se não crescermos acima do aumento da produtividade e acima do crescimento da população, não temos como responder concretamente ao drama do desemprego, que é a retomada do desenvolvimento em direção aos salários”, salientou.
Ciro criticou a desindustrialização do país e o modelo econômico com base na exportação de commodities (produtos primários). “E é absolutamente vã, terrivelmente ilusória, perigosíssima, a crença de que nós vamos pagar o nosso moderno modo de vida ou de aspiração de vida — que é referida à microeletrônica, telecomunicações, celular, 5G, TV 4K, novos materiais, química fina de última geração, meios de diagnóstico médico sofisticado — com soja, milho, feijão, minério de ferro e petróleo bruto. Essa conta não fecha”, afirmou ele, observando que as commodities podem até ter uma alta no preço por um tempo e sustentar um pequeno crescimento, mas na queda a economia fica prejudicada.
O pedetista alertou que o “Brasil está hoje com o menor volume de investimento público desde a 2ª guerra mundial”. E enfatizou a necessidade de ter uma política industrial e de comércio exterior. Ele declarou que neoliberalismo descarta isso, asseverando que o próprio mercado controlaria o fluxo de capitais, mas “isso é uma grosseira inverdade à luz da experiência empírica de 100% dos países exitosos do mundo”, rebateu. “Todos formulam política industrial de comércio exterior”, disse Ciro, citando o exemplo atual os EUA, com a política de boicote a uma empresa chinesa como parte da guerra comercial com o país asiático.
Como motor do desenvolvimento, o ex-ministro também defendeu o investimento empresarial e o consumo das famílias.
Sobre a defesa da democracia sob o governo bolsonarista, o ex-ministro frisou: “A transgressão da institucionalização democrática encontrará resistência para defender a democracia brasileira”.
Ciro foi apresentado à plateia pelo presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, como um dos “principais líderes da resistência democrática na defesa da nossa soberania”, vinculando a trajetória política do pedetista com os valores históricos do próprio Clube de Engenharia.
“Vivemos um momento extremamente difícil da vida brasileira, que exige de nós o respeito à Constituição de 1988, que garante o funcionamento das instituições democráticas e conquistas sociais hoje ameaçadas”, alertou Celestino.
“É um momento que exige o relançamento da nossa economia, porque não é possível continuar a conviver com este desemprego alarmante, com este subemprego, com este desalento que já atinge quase metade de nossa população ativa. É necessário também trabalharmos uma política de contenção de danos, diante da destruição e do desmonte sistemático das instituições estatais que nos últimos 80 anos possibilitaram a transformação do nosso país em uma das maiores economias do mundo”, disse Pedro Celestino.
Com informações do Clube de Engenharia.
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