Milhares marcham nos campi dos EUA para exigir retirada de cláusulas que tornam isenções em renda tributável e cortam deduções sobre do juro de empréstimo estudantil
Apesar de todo o empenho do governo Trump para enfiar goela abaixo do povo americano na surdina sua reforma fiscal, que transfere até 2037 em torno de US$ 6,7 trilhões dos mais pobres para os ricaços e as corporações, a sociedade norte-americana começa a se mover. Na quarta-feira milhares de estudantes de pós-graduação marcharam em 50 universidades pelo país inteiro para exigir que seja retirada a cláusula aprovada na Câmara que transforma as bolsas e isenções de matrícula em renda tributável.
Na véspera, em Washington manifestantes contra a reforma fiscal de Trump invadiram reunião do Comitê de Orçamento do Senado – que empurrou por 11 x 12 o achaque para decisão do plenário -, aos brados de “mate a lei, não nos mate”. Uma dezena de manifestantes foi presa. Na segunda-feira, o “Dia Nacional de Ação” pressionou senadores e deputados para que rechacem o esbulho. Se três senadores republicanos mudarem de lado, a reforma não passa: o placar atual é 48 x 52. Mas Trump ligou o rolo compressor e como disse um senador republicano, sem corte de impostos vai faltar dinheiro para a campanha eleitoral do próximo ano.
A convocatória #GradTaxWalkout se espalhou pelo país inteiro. Em Nova Iorque, os estudantes se concentraram na Union Square para mandar para o inferno o pacotaço. Atos aconteceram em vários campi da Califórnia, no Massachusetts Institute of Technology, na Universidade de Minnesota, na Auburn University do Alabama, na Universidade Estadual de Ohio, na instituição do Kansas e em muitas outras. “Nenhum imposto sobre a graduação!”, exigiam os alunos, acrescentando “impeça os ricos, não os estudantes”.
Outra cláusula que prejudica os estudantes é a que corta a dedução para pagamento de juro dos empréstimos estudantis. Em dez anos, o dinheiro surrupiado pela reforma fiscal dos estudantes de pós-graduação significaria US$ 65 bilhões para as arcas de Wall Street ou para o Pentágono. “Por que os ricos precisam de ainda mais?”, questionavam manifestantes durante os protestos. Na Universidade de Denver, cartaz exibido pelos estudantes chamava a “reforma de Trump” de “Plano Piranha”.
A caracterização não é sem motivo. Trump enfiou pequenos descontos temporários nos impostos da classe média e dos mais pobres – voltando às taxas atuais após cinco anos -, para poder passar cortes gigantescos permanentes em favor das corporações e dos ricaços.
A ameaça que paira sobre os pós-graduandos é pesada. Na entrevista da ativista Heather McGhee com Amy Goodman, do programa Democracy Now, revelou-se que “escolas de todo o país poderiam perder a metade dos estudantes de pós-graduação”, que simplesmente não podem se dar ao luxo de bancar tal aumento de imposto.
Cinicamente, Trump gaba-se de sua reforma fiscal como sendo “o maior corte de impostos da história do nosso país” – o que só é verdade se você pertence ao 1% mais rico ou é dono, ou executivo, de uma grande corporação. Para as corporações, o imposto será reduzido de 35% para 20% – uma doação de US$ 1,5 trilhão em dez anos.
Na verdade, ainda maior, como esclarece McGhee ao responder ao co-entrevistador Juan Gonzáles sobre a repatriação de dinheiro que as corporações mantém no exterior. Garantiram a redução retroativamente dos impostos que as corporações ainda não pagaram para que possam repatriá-lo para os EUA. “E então eles terão uma taxa de imposto de zero por cento sobre os lucros estrangeiros”.
A reforma de Trump também reduz dramaticamente impostos para pequenos empresários e ricaços e corta ou elimina o imposto sobre a propriedade herdada, que atingiria 5 mil famílias. De acordo com o Centro de Orçamento e Prioridades Políticas, metade dos cortes de impostos irá para o 1% das famílias do topo, as de renda de mais de US$ 700 mil por ano. Já o 0,1 % receberá até 30 % dos cortes de impostos totais.
CORTE DE US$ 1,5 TRI
Outra consequência malévola da reforma de Trump será que essa transferência de US$ 1,5 trilhão em dez anos para corporações e bilionários – via corte de impostos -, acabará agravando o déficit federal, o que o establishment de Washington utilizará de forma hipócrita para exigir cortes na carne do Medicare, previdência, Medicaid e programas sociais.
Quanto à mentira de Trump de que o corte de impostos das corporações trará “investimentos e empregos”, não se sustenta de pé. Não é por falta de dinheiro que as corporações dos EUA não investem na produção – inclusive estão recomprando ações por atacado para inflar a distribuição de dividendos e o valor de mercado.
Aliás, 41 de 42 economistas pesquisados pela indefectível Universidade de Chicago concluíram que a transferência em massa de dinheiro para as corporações não trará crescimento substancial e certamente ampliará a dívida federal. Com a reforma fiscal de Trump, a economia dos EUA, que é a economia desenvolvida mais desigual do planeta, se tornará ainda mais desigual e perversa. E os magnatas e rentistas nem estavam precisando: desde 2007 cada família do 1% do topo ficou US$ 4,9 milhões mais rica, enquanto todos os demais ficaram US$ 4.500 mais pobre.
ANTONIO PIMENTA