Milhares de pessoas participaram com o presidente Andrés López Obrador do “Ato de unidade em defesa da dignidade do México e em favor da amizade com o povo dos Estados Unidos”, realizado na cidade fronteiriça de Tijuana no sábado (8), já após a conclusão de acordo entre ambos países sobre questões migratórias. “Os detalhes do acordo serão publicados em breve pelo Departamento de Estado”, disse Trump em postagem no Twitter.
Quase todos os 32 governadores do país, membros do governo e representantes do Congresso, além de líderes políticos, empresariais, de defesa dos diretos humanos e religiosos participaram na manifestação, que em princípio tinha sido idealizada para mostrar força e unidade nacional frente à ameaça do governo norte-americano de impor tarifas de pelo menos 5% a todos os produtos saídos do México para os Estados Unidos.
No acordo afinal conseguido, o México comprometeu-se a mobilizar 6.000 elementos da Guarda Nacional para controlar a sua fronteira com a Guatemala e a receber os que solicitam asilo nos Estados Unidos, até que os seus pedidos sejam processados pelos tribunais dos EUA.
A Casa Branca anunciou em 30 de maio que imporia uma taxa aos produtos importados do México e fecharia a fronteira se o governo de López Obrador não detivesse os imigrantes centro-americanos que atravessam o território asteca para chegar aos EUA. A taxa, começaria a vigorar na segunda-feira (10) se não houvese acordo e aumentaria paulatinamente até chegar aos 25% em outubro.
Na terça-feira (4) Trump recuou de sua ameaça de fechar a fronteira, mas advertiu seu vizinho do sul que adotaria tarifas sobre a importação de veículos “caso persista o atual fluxo de imigrantes”.
A mudança de postura da Casa Branca também teve a ver com a reação que o tarifaço progressivo ao México e países centro-americanos despertaram não só no Partido Democrata, como também no Republicano.
Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes, assinalou que o Congresso responsabilizaria a administração de Trump “pela sua incapacidade para abordar a situação humanitária em nossa fronteira sul” e disse que o presidente tinha socavado os esforços no Congresso para abordar os temas fronteiriços e os esforços com o México para abordar as redes de contrabando.
Senadores republicanos também rejeitaram a ameaça de Trump em um almoço privado com funcionários da Casa Branca e do Departamento de Justiça. “Aproximadamente meia dúzia de senadores do Partido Republicano ficaram de pé para falar sobre o quão imprudente seria a decisão de impor taxas ao México”, relatou à CNN uma pessoa presente no almoço.
A Câmara de Comércio dos Estados Unidos chamou a medida de “equivocada”. O presidente da Associação Nacional de Manufaturas declarou que era uma política similar a uma bomba molotov.
Caso fosse aplicada, a medida de Trump poderia afetar os preços dos carros, aparelhos de televisão, roupa, cerveja e outras bebidas, e de combustíveis que o México envia com regularidade. Muitos dos produtos são feitos com materiais ou partes que se produzem primeiro nos Estados Unidos e depois são montados do outro lado da fronteira. E, além disso, não há nenhum outro país que forneça mais produtos agrícolas aos EUA que o México.
López Obrador assegurou que cumprirá os compromissos assumidos com os Estados Unidos para evitar que a partir da segunda-feira que se imponham taxas a produtos mexicanos: “reforçar nossa fronteira, aplicar a lei e respeitar os diretos humanos”. Também disse que promoverá a aplicação imediata de programas de desenvolvimento para impulsionar ações produtivas e criar emprego na América Central e no sul-sudeste de México.
O presidente mexicano anunciou que a partir da próxima a semana “estaremos oferecendo ajuda humanitária e oportunidades de emprego, educação, saúde e bem-estar aos que esperem no México sua solicitação de asilo para ingressar legalmente aos Estados Unidos”.
Obrador destacou ainda que ante a “dolorosa realidade” da migração que tem levado milhares de pessoas a abandonar seus lugares de origem por fome, falta de emprego ou condições de insegurança, entre elas, 159.395 menores de idade, dos quais 43.875 são crianças que viajaram sozinhas, é claro que “ante essa amarga realidade, não pode se enfrentar a solução só fechando fronteiras ou utilizando medidas coercitivas”.
E destacou que “o mais eficaz e humano é enfrentar o fenômeno migratório combatendo a falta de oportunidades de emprego e pobreza para conseguir que a migração seja não forçada”.
Porfirio Muñoz Ledo, presidente da Câmara dos Deputados, em seu discurso no ato de unidade nacional em Tijuana, observou que o México “aspira a que sua relação com os Estados Unidos seja amistosa e cada vez melhor, mas como nação respeitaremos os diretos dos migrantes. Não aplicaremos medidas de força que atropelem a realidade injusta que eles sofrem”.