
Uma investigação iniciada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em 2016 aponta que Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da estatal paulista de construção de rodovias, Dersa, ordenou o pagamento de pelo menos R$ 740 mil em dinheiro a integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no ano de 2009.
O ex-diretor, mais conhecido como Paulo Preto, é apontado como operador de propinas do PSDB durante o governo de José Serra (PSDB) em São Paulo.
Segundo os autos do processo que correu no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), ao menos 37 pessoas envolvidas com a criminalidade da região do Jardim São Francisco e do Jardim Oratório, na zona sul da capital, foram indenizadas indevidamente. As irregularidades teriam ocorrido em meio a desapropriações para as obras do trecho Sul do Rodoanel Mário Covas e o prolongamento da Avenida Jacu-Pessêgo. A obra foi entregue em 2010.
Dentre as 37, 13 possuem passagem pela cadeia por crimes como homicídio, tráfico de drogas, roubo, entre outros. Nenhuma dessas pessoas teria direito aos cerca de R$ 20 mil que receberam cada, em um total de R$ 740 mil.
A quadrilha da região seria liderada por dois traficantes, Gilson, conhecido como Boca, e Rubão, conhecido como Pernambuco. A investigação do MP-SP aprofundou a apuração para chegar ao nome real dos dois, quando identificou os outros 35 envolvidos.
O dinheiro foi cobrado pelos integrantes da quadrilha para permitir a execução da obra pelos engenheiros e operários nos bairros citados, dominados pelo crime organizado e por onde passa o traçado do Rodoanel.
Durante depoimento ao promotor Cássio Roberto Conserino em 2016, José Geraldo Casas Vilela, funcionário de Paulo Preto na Dersa, também denunciado no caso, relata que els chegaram a receber na seda da Dersa uma carta com ameaças, assinada por traficantes do PCC.
A investigação foi iniciada após um funcionário da Dersa, em 2014, denunciar irregularidades no cadastramento de pessoas para desapropriações na empresa pública ao MP-SP.
A chefe do denunciante e ex-funcionária de Paulo Preto, Mércia Ferreira Gomes, firmou uma colaboração premiada com o MP-SP em maio de 2016 e contou para o promotor Conserino as irregularidades que aconteciam nas obras do Rodoanel.
Mércia ainda contou que foi ameaçada de morte por Paulo Preto caso colaborasse com as investigações.
Ainda segundo a delatora, criminosos armados e seus representantes compareciam à sede da Dersa, no Itaim, em São Paulo, para receber as indenizações. O dinheiro vivo era entregue em caixas e mochilas.
Ela contou que Hamilton Clemente Alves, que seria então assessor do hoje ex-deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), intermediava o contato entre a quadrilha e Paulo Preto.
Ao ser questionado pela reportagem do UOL Adriano Diogo diz que conhece Alves, mas que à época dos fatos não era seu assessor e não tem como responder por ele. “Essa acusação é tão absurda que eu nunca fui chamado para depor sobre isso, nunca fui acusado de nada”, afirma Diogo. “Fui várias vezes na Dersa me reunir com Paulo Preto, sempre em reuniões coletivas, e defendia os interesses do pessoal naquela região, mas nunca fiz nada de espúrio. Ele [Paulo Preto] derrubou mais de 4.000 casas em poucos meses, tudo sem processo judicial de desapropriação. Era aquela bagunça, tudo invasão, aí ele combinava no gogó uma indenização e as pessoas iam lá receber. Não duvido que eles tenham usado estes elementos para ajudá-los a fazer e organizar estas desapropriações”, disse.
CONDENAÇÕES
No início deste ano, Paulo Preto foi condenado a 145 anos de prisão neste processo pela Justiça Federal em São Paulo. José Geraldo Casas Vilela também foi condenado a 145 anos de prisão por conta das cerca de 1700 desapropriações irregulares.
Também neste ano, Paulo Preto foi condenado em outra ação do Rodoanel, sobre o cartel das empreiteiras, a 27 anos de prisão. Ele está preso e responde a outros processos na Lava Jato em Curitiba e em São Paulo.