“A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é uma empresa estratégica, autossustentável, insubstituível”
“Assim como defendi e respeitei todos os soldados do Exército de Caxias, também respeitei e defendi todos os empregados dedicados que orgulhosamente envergam o uniforme azul e amarelo”, diz um trecho da carta de despedida do general Juarez Aparecido de Paula Cunha, dirigida aos funcionários dos Correios. O general foi ovacionado pelos funcionários ao deixar a sede dos Correios em Brasília.
Na carta dirigida aos funcionários da instituição, Cunha escreveu que “obteve eco positivo no âmbito da maioria dos empregados” e que “se não fosse para exercitar minhas firmes convicções, não poderia ser presidente dos Correios”. Cunha se despediu com o lema: “Brasil acima de tudo! Correios no coração de todos!”
O general Juarez Cunha foi demitido por Jair Bolsonaro durante um café da manhã do presidente com jornalistas na sexta-feira (14) porque apresentou muitos argumentos sólidos para mostrar que a decisão de privatizar os Correios é lesiva ao Estado do Brasil e ao Povo Brasileiro. Bolsonaro o acusou de “agir como um sindicalista” por ter defendido os Correios.
Mesmo com o desrespeito e a deselegância de Bolsonaro, de demiti-lo pela imprensa, o general Juarez Cunha manteve-se firme e decidido a resistir. “Os Correios não vão acabar, ninguém vai acabar com a empresa e mandar todos os funcionários embora. Vamos ficar serenos, encarar com naturalidade, sem ninguém se estressar”, disse ele, na segunda-feira (17/06), a um auditório lotado de funcionários.
A afirmação do general, na audiência no Congresso Nacional, que irritou Bolsonaro foi a de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo “é uma empresa estratégica, autossustentável, insubstituível. Uma empresa cidadã, orgulho do Brasil”. Ele disse isso aos deputados, argumentando que o Estado não pode abrir mão de sua empresa de Correios, porque senão regiões inteiras do país ficarão sem assistência.
“Eu não queria falar de privatização, até porque não é problema meu, se privatizarem uma parte dos Correios, eu acredito que vai ser o lado bom, o que tirar daqui vai faltar lá. E quem vai pagar essa conta? Esse alguém será o Estado brasileiro ou o cidadão brasileiro que paga imposto. É um negócio complicado”, argumentou. Os Correios tiveram lucro em 2017 (R$ 667 milhões) e em 2018 (R$ 161 milhões).
O general Cunha foi homenageado pela Superintendência dos Correios do Amazonas, que lançou um selo com sua efígie. Trata-se de um exemplar para colecionadores, com uma tiragem de 12 selos. O general de quatro estrelas – ex-Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro – que presidiu os Correios por 7 meses, honrou os conceitos aprendidos na sua formação militar em todos os momentos. Em nota, os funcionários dos Correios agradeceram a contribuição do general e destacaram, principalmente, a sua bravura à frente da estatal.
Assista ao vídeo da despedida do general
Leia a carta na íntegra do general Juarez Cunha aos funcionários dos Correios
Meus caros amigos e amigas dos Correios!
Após sete meses à frente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, me afasto do vosso convívio com a consciência tranquila de ter empenhado o melhor dos meus esforços a serviço desta Empresa.
Foram sete meses de trabalho em equipe, num ambiente de muito profissionalismo, dedicação, camaradagem e cooperação, onde obtivemos excelentes resultados.
Os índices da qualidade operacional superaram todas as metas, a recuperação financeira no último ano apresenta resultados muito favoráveis e as perspectivas futuras são excelentes. Nossa Empresa prossegue num franco processo de recuperação iniciado em 2018.
A criação do Projeto Balcão do Cidadão me enche de orgulho, pois os Correios continuarão levando ao cidadão brasileiro, particularmente das localidades mais remotas, seu apoio, traduzido em cidadania e integração nacional.
Orientei minhas decisões com base na ética, na meritocracia e na restrição à influência político partidária. Fundamentei minha liderança na busca dos melhores resultados, no fortalecimento do espírito de corpo e no exemplo. Obtive um eco positivo no âmbito da maioria dos empregados, que alavancaram o moral, a confiança e o orgulho de pertencerem a esta empresa centenária. Meus amigos!
Há 50 anos, prestei meu sagrado compromisso perante a Bandeira do Brasil. Naquele momento, jurei tratar com afeição os irmãos de armas e com bondade os subordinados. Nunca deixei de cumprir com este juramento. Durante minha longa carreira militar, atingindo o mais alto posto no Exército, cumpri com retidão as palavras professadas diante do nosso invicto Pavilhão Nacional.
Assim como defendi e respeitei todos os soldados do Exército de Caxias, também respeitei e defendi todos os empregados dedicados que orgulhosamente envergam o uniforme azul e amarelo.
Se não fosse para exercitar minhas firmes convicções, eu não poderia ser o Presidente dos Correios. Se não fosse para recuperar os Correios, no contexto da recuperação do nosso País, eu não teria aceitado este grande desafio.
Esse é um momento de serenidade e confiança no futuro. Todos os integrantes da Empresa, desde a Diretoria Executiva até o Carteiro mais jovem, devem se conscientizar da necessidade de prosseguir na jornada de recuperação e modernização da ECT. Há ainda muito por fazer, existem muitos obstáculos a ultrapassar, mas nenhuma barreira poderá reter as ações empreendidas com coragem, dedicação e confiança.
O meu muito obrigado a todos que contribuíram com minha gestão nestes poucos meses. A missão ainda não está cumprida, mas confiamos que esta briosa organização, com 356 anos completos, ainda tem muito a oferecer ao País.
Brasil Acima de Tudo! Correios no Coração de Todos!”
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