O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, reiterou que o sistema de defesa antiaérea russo S-400 já está comprado, é acordo feito, e nada do que Washington faça mudará isso. Os EUA voltaram a ameaçar a Turquia com sanções.
“Não importa qual seja a decisão de sanções, não importa qual declaração venha dos EUA, já compramos o S-400”, afirmou Cavusoglu. A única questão relativa ao acordo ainda pendente é “quando” os S-400 serão entregues à Turquia, acrescentou.
Entre as ações punitivas já tomadas pelos EUA, estão o cancelamento do treinamento de turcos para pilotar aviões de combate F-35, bem como a ameaça de expulsar totalmente Ancara do programa de jatos de combate mais caro da história. Washington também cortou o status de nação mais favorecida, que possibilitava exportações turcas sem tarifas ou com tarifas mais baixas para os EUA.
Na quarta-feira (26), o secretário interino do Pentágono, Mark Esper, durante reunião da Otan em Bruxelas, voltou a dar um ultimato à Turquia de que Ancara “não terá ambos o S-400 e o F-35”, conforme disse à Reuters uma autoridade do Pentágono familiar com o embate. O ultimato continuava com a ameaça de que “se (os turcos) aceitarem o S-400 teriam de aceitar ramificações não só no programa F-35 mas também para sua situação econômica”. Nos últimos meses, ataques especulativos derrubaram a lira turca em 30% e foram um dos fatores para a recessão em curso.
A Turquia reagiu às pressões de Washington, prometendo retaliar as sanções, caso sejam decretadas. O governo turco advertiu os EUA para “pensar com muito cuidado” sobre seguir em frente com essas ameaças, conforme deixou claro em uma conferência de imprensa o presidente Recep Tayyip Erdogan.
“SISTEMA DE DEFESA, NÃO DE ATAQUE”
Conforme o presidente turco, não há “absolutamente qualquer questão quanto a recuar do S-400. É um sistema de defesa, não um sistema de ataque”. Ele acrescentou que as primeiras unidades são “esperadas em julho”.
Erdogan assinalou também que os armamentos russos são oferecidos com “termos muito favoráveis” e sem imposições, e se declarou potencialmente favorável à aquisição do ainda mais avançado S-500, assim que a Rússia completar seu desenvolvimento.
De acordo com o conglomerado russo de Defesa, o treinamento do pessoal turco que irá operar os S-400 já foi concluído. “Começaremos a entrega dos S-400 para a Turquia dentro de dois meses”, anunciou o CEO de Rostec, Sergey Chemezov, durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo no início do mês. Ele notou que o acordo já estava entrando nos estágios finais e que a Turquia havia feito todos os pagamentos em dia.
Cavusoglu destacou que a Turquia não pode confiar na Otan em sua defesa nacional e acusou os aliados ocidentais de deixarem o país por sua própria conta na hora de necessidade.
“A Turquia precisa urgentemente de defesa aérea. Não podemos dizer que ‘a Otan deveria nos proteger’ se houver um ataque, porque, sejamos honestos, a Otan só pode proteger 30% do espaço aéreo turco”, ressaltou o chanceler. Ele lembrou que foram “os EUA, a Alemanha e a Holanda que tiraram os Patriots quando mais precisávamos deles”.
CHANTAGEM COM O F-35
Quanto à ameaça dos EUA de excluir a Turquia do projeto F-35, Cavusoglu asseverou que iria “contra o acordo” e seria recebido com desaprovação por outros parceiros do projeto. “Todas as decisões devem ser tomadas por consenso. A Turquia é parceira do programa F-35 e tem contribuições significativas. Nós contribuímos com mais de US $ 1 bilhão para o programa”, salientou o chefe da diplomacia turca.
Projeto da gigante norte-americana Lockheed Martin, outros oito países participam da produção – Grã Bretanha, Itália, Holanda, Dinamarca, Noruega, Turquia, Canadá e Austrália. O Pentágono já revelou que começou a procurar fabricantes alternativos para as peças fornecidas pela Turquia.
A decisão de compra do S-400, tomada em 2017, aconteceu após todos os esforços de Ancara para comprar um sistema antiaéreo norte-americano avançado serem em vão. A aquisição ocorreu em paralelo ao projeto russo-turco do gasoduto Torrente Turca, que fornecerá gás russo à região sudeste europeia e tornará a Turquia um centro de distribuição de gás na região.
A contraproposta turca de que fosse criada uma comissão conjunta com os EUA para esclarecer se há qualquer fundamento na acusação norte-americana que o uso do S-400 pelos turcos comprometeria os sistemas da Otan, especialmente o F-35, caça furtivo, foi inteiramente ignorada por Washington.
MAIS DESEMPENHO COM PREÇO MENOR
A comparação do S-400 com o sistema antiaéreo Patriot é amplamente favorável aos russos, tanto em desempenho quanto em preço. O sistema russo pode abater um alvo que se desloque até Mach 14 (17.000 km/h), contra até Mach 4,1 do Patriot (5.000 km/h). O S-400 pode rastrear 160 alvos e engajar 72, enquanto os mesmos parâmetros para o Patriot são 125 e 36 alvos. O S-400 localiza um alvo a 600 km de distância e pode destruir a 400 km de alcance, contra respectivamente 150 km e 100 km.
O sistema russo é capaz de derrubar alvos que voam tão baixo quanto 10 metros e tão alto quanto 30 km, enquanto o Patriot PAC-3 destrói seu alvo mais baixo a uma altura de 50 metros, com o mais alto a 25 km. Ângulo de disparo: 90º versus 38º. Tempo de reação: 10 segundos, contra 15 segundos.
O tempo de implantação para o S-400 é de 5 minutos, comparado com 25 minutos do sistema norte-americano. Várias fontes informadas disseram que para acertar uma aeronave com uma probabilidade não inferior a 0,99, será necessário lançar 1-2 mísseis S-400 ou 2-3 mísseis Patriot. Em caso de lutar contra um ataque com mísseis balísticos, a relação será de 1 para 2 ou 3, a favor do S-400.