O professor de Engenharia Aeronáutica do ITA e Aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), Wagner Farias da Rocha, fez uma contundente denúncia, embasada, segundo ele próprio, em argumentos eminentemente técnicos, sobre o grave crime que representa para o país a venda da Embraer para a norte-americana Boeing.
Para ele, o “negócio” não significa a criação de nenhuma Joint Venture, mas sim um plano consciente de destruição, por parte da Boeing, de uma empresa concorrente nacional que vinha, por sua alta capacidade tecnológica, tomando cada vez mais seus espaços no disputado mercado de aviação mundial.
Ele alertou que, com a transferência, “o Brasil vai perder a capacidade de projetar aviões, retroagindo ao estágio tecnológico que tinha na década de 1950”. “Esse ponto de vista estou apresentado por dever de consciência, como cidadão brasileiro, sem nenhum vínculo com qualquer organização pública ou privada”, afirmou o professor.
Rocha alertou para o “complexo de vira-lata” brasileiro, segundo o qual tudo que vem de fora é melhor. Segundo ele, “o que vai sobrar” da Embraer não permitirá mais que a empresa desenvolva e fabrique aeronaves.
Seu pronunciamento se deu na Audiência Pública sobre a venda da Embraer, realizada no Supremo Tribunal Federal, em 28 de setembro do ano passado. Pela importância e a atualidade do tema, e o pelo fato deste depoimento importantíssimo do Aviador da FAB ter passado à época sem o nosso devido registro, reproduzimos aqui o vídeo com a sua apresentação.
Principalmente agora, que a bajulação da trupe bolsonarista aos países centrais, particularmente aos EUA, e a seus decadentes monopólios está se radicalizando, o alerta do especialista do ITA sobre os danos causados ao país pela venda de Embraer, ganha ainda mais importância e urgência.
Além do engenheiro aviador Wagner Farias, também participaram da audiência os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Aristeu César Pinto Neto e Herbert Claros da Silva.
Cabe aqui o registro de que este pronunciamento do militar da FAB e professor de Engenharia do Instituto Tecnológico da Aeronáutica está também veiculado no site do Instituto Presidente João Goulart, de onde tomamos a liberdade de reproduzi-lo aqui no HP.
Assista ao vídeo:
A manchete correta da Hora do Povo deveria ser “Venda da Embraer à Boeing faz Brasil retroagir à década de 1950”, disse professor do ITA em setembro de 2018. Essa polêmica já era, pois hoje, nós brasileiros, temos 2 empresas: Boeing Commercial, da qual temos 20% (e o sócio é um dos 2 maiores montadores de aviões do mundo) e uma planta no Brasil e Embraer, da qual temos 100% (e continua sendo uma das maiores montadoras de jatos executivos do mundo e pode assumir papel importante na aviação multi missão, com a ajuda do mesmo sócio já citado!). Em termos de potência, estamos, nessa nova configuração, mais bem estruturados do que antes, para brigar no mercado mundial! E se formos espertos, podemos passar a ser mais influentes na aviação global, inclusive em acervo tecnológicos.
Leitor, você vai nos desculpar, mas estupidez tem limite. E a paciência com ela, também. Quer dizer que agora nós somos donos da Boeing? Parece aqueles famosos acordos, dos quais não podemos mais falar, porque agora o STF decidiu que homofobia é crime…
Obviamente, a Embraer é dona de 20% da Boeing-Brasil Commercial, não da Boeing! Também, obvia e claramente, é minoritária nas decisões, pois vendeu 80% à Boeing por cerca de US$ 5 Bilhões, num ano (2018) em que teve as vendas reduzidas, acumulando perdas de US$ 170 milhões no ano seguidas de US$ 160 milhões, só no primeiro trimestre de 2019.
Nesse momento de mercado, é muito melhor ser sócio do que concorrente de uma empresa como a Boeing que buscou, na Embraer, uma forma de competir com a Airbus no mercado de jatos até 150 lugares. Se nós tivéssemos impedido o negócio, a saída da Boeing seria se associar a um montador da China, ou Japão, ou Rússia etc.. Portanto, teríamos 2 concorrentes gigantes, Airbus e Boeing, além dos vários emergentes que têm surgido.
Para que tanta tergiversação? Se você quer – ou acha muito justo – entregar a Embraer para os americanos, isto é, para a Boeing, então diga isso, com todas as letras. A única razão da Boeing comprar a Embraer é porque ela foi batida no mercado pela Embraer. A Embraer não estava com dificuldade alguma de vender seus aviões – tinha, inclusive, encomendas para os próximos anos. Quem estava com dificuldades de vender era a Boeing, que fora vencida pela Embraer na categoria de aviões que esta fabrica. Com a absorção da Embraer pela Boeing, que o governo Bolsonaro permitiu, a Boeing eliminou a concorrente que a derrotara no mercado – e, evidentemente, não pela excelência de seus produtos, mas por seu maior poder financeiro. Só isso. O resto são justificativas esfarrapadas de entreguista. Daquelas que se contentam com 20% (ou seja, 1/5) de qualquer coisa, ou até menos, contanto que os americanos estejam por cima.
A informação que se tinha e que o brasil ficaria como majoritário nessa transação, espero que o congresso/ senado intervenha nesse absurdo.
Seria bom, mas até agora não há sinal disso.
Lembro-me do orgulho nacional na ocasião em que se criava a EMBRAER, segunda metade da década de 1960, sob o slogan “UM PAÍS QUE VOA, VAI LONGE!”
Brasileiros investiam em ações da EMBRAER nas suas declarações de imposto de renda, DIRPJ, pessoa jurídica.
Primeiro grande e ousado passo foi a substituição dos cargueiros DC-3 Douglas pelo Bandeirante, o EMB 110.
A seguir, outro corajoso passo foi a substituição do patrulheiro P-15 Netuno pelo Bandeirulha, o Bandeirante adaptado para a patrulha das nossas 200 milhas oceânicas.
Sem se falar no invencível avião agrícola Ipanema que tanto tem apoiado o agronegócio brasileiro, até os dias de hoje.
Desnecessário dizer-se do sucesso do jato AT-26 Xavante, década de 1970, formador dos treinadíssimos pilotos de caça brasileiros.
Enfim, teríamos que escrever um livro tantos sucessos da EMBRAER que já provou a vocação Aeronáutica deste nosso imenso Brasil, como já anunciava o mineiro Alberto Santos Dumont, quando fez voar o primeiro avião no mundo.
Outro passo importante que foi dado com relação à EMBRAER, a desestatização, e isso aconteceu no momento apropriado.
O interessante é que, após sua privatização, a EMBRAER acelerou ainda mais o seu desenvolvimento e inovações.
Nisso tudo, não se pode deixar de mencionar o iluminado nome de Casemiro Montenegro que, além de ter fundado o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica – incontestavelmente a melhor escola de Engenharia do Brasil, ombreado apenas pelo já tradicional IME (Instituto Militar de Engenharia da Praia Vermelha), ele idealizou a EMBRAER, ainda na década de 1960, cuja primeira apresentação daquele genial projeto foi feita ao então Presidente Jânio Quadros.
Lamentável e deprimente imaginarmos que esta gigante brasileira venha a ficar subalterna ao americanismo estadunidense, a Boeing.
E esquecem-se os incautos de que “Não se mexe em time que está ganhando!”
E mais, o Brasil não apenas é abençoado por Deus, como também Ele quer que o Brasil voe!