Jair Bolsonaro (PSL) defendeu nesta quinta-feira (4), em uma transmissão ao vivo no Facebook, o trabalho infantil. Ele disse ainda sentir “saudades” da época “onde se tinha muito mais deveres do que direitos. Hoje você só tem direito e, dever, quase nenhum, e por isso nós afundamos cada vez mais”
Para Bolsonaro, “não atrapalha a vida de ninguém” começar a trabalhar ainda criança.
“Olha só, trabalhando com 9, 10 anos de idade na fazenda. Não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, dez anos de idade vai trabalhar em algum lugar, está cheio de gente aí falando que é trabalho escravo, trabalho infantil. Agora, quando está fumando um paralelepípedo de crack, ninguém fala nada. Então, o trabalho não atrapalha a vida de ninguém”, reclamou o presidente, que morou com a família por dois anos em fazenda, em Eldorado, São Paulo.
Bolsonaro ainda deu a entender que se não houvesse forte reação contrária, apresentaria um projeto para descriminalizar o trabalho de crianças e adolescentes.
“Fique tranquilo, que eu não vou apresentar nenhum projeto aqui para descriminalizar o trabalho infantil, porque eu seria massacrado”, afirmou disse.
Pelo Twitter, Eliseu Neto, que atua na liderança do Cidadania (Ex-PPS) no Senado, debochou de Bolsonaro. “‘Não foi prejudicado’? A gente discorda, Bolsonaro. Creio que você teve uma epifania sobre a origem desse governo de ressentidos. Faltou brincar na infância”, tuitou.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra Por Domicílio (PNAD-2015), mais de 2,7 milhões de crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, estão em situação de trabalho no Brasil, 70,9% na agricultura, 11,9% na indústria e 17,1% no setor de serviços.
O trabalho no campo predomina entre as crianças de 5 a 14 anos e, na faixa etária dos 5 aos 9 anos, foi a única modalidade a subir entre as Pnads de 2014 e 2015.
Ouro dado importante é que nas regiões urbanas duas em cada três crianças em situação de trabalho infantil são do sexo masculino, mas as meninas predominam no trabalho infantil doméstico: 94%, segundo dados do FNPETI.
Outro fator importante é que o Brasil tem hoje mais de dois milhões de crianças e adolescentes fora da escola, segundo levantamento do IBGE, em 2018.
Portanto, diferente de Bolsonaro que brincou na fazenda por dois anos, as crianças brasileiras que trabalham não têm a oportunidade de estudar.