“Hoje, nossa revolução venceu e nossa vitória brilha”, afirma, na sexta-feira, 5, a declaração da Associação dos Profissionais Sudaneses (SPA), informando do acordo entre os representantes das organizações populares, indicados pela SPA e pela Aliança por Liberdade e Mudança (ALM) e os representantes do Conselho Militar de Transição (TMC) que havia sucedido o afastado ex-presidente Omar Bashir.
Horas antes, Mohamed Hassan Lebatt, mediador indicado pela União Africana e que atuou junto com o enviado da vizinha Etiópia, durante o encontro entre as partes e que durou dois dias, 3 e 4, anunciara o acordo.
O anúncio do entendimento foi celebrado nas ruas de Cartum, apesar de muitos dos presentes ainda expressarem ceticismo quanto a sua materialização, em especial depois da violenta repressão que se abateu sobre os manifestantes no dia 3 de junho e nos que o sucederam causando a morte de 135 pessoas, segundo as organizações populares com 78 mortes admitidas pelos governistas, que, no entanto, negam participação na violenta repressão.
O ACORDO
Pelo protocolo assinado será formado um novo Conselho Soberano que governará o país por três anos e três meses até a posse de um novo governo eleito.
O Conselho terá 11 membros, 5 militares, 5 indicados pelas organizações populares e um civil indicado de comum acordo entre as partes.
O comando do Conselho será rotativo, sendo que nos primeiros 21 meses será exercido por um indicado pelos militares e nos 18 meses subsequentes por um líder indicado pelos civis.
Também faz parte do acordo o compromisso de que será organizada uma comissão de inquérito independente para investigar os eventos mortais que tiveram início com a queda de Omar Bashir em abril.
A Associação dos Profissionais destaca que terá papel central na indicação de um gabinete ministerial provisório.
“UM PRIMEIRO PASSO”
Omar al-Degair, um dos líderes da Aliança por Liberdade e Mudança declarou que o acordo “abre o caminho para a formação das instituições da autoridade transicional e esperamos que este seja o começo de uma nova era”.
O formato final do documento será apresentado nos próximos dias.
Khaled Omar, um dos líderes das manifestações destacou que “a transferência de poder para uma autoridade transicional com maioria civil significa que a revolução colocou seus pés na trilha para que seus principais objetivos sejam atingidos.
“É um primeiro passo”, afirma Khaled.
Antes da repressão ao acampamento dos manifestantes, no dia 3 de junho, as negociações haviam chegado a um impasse uma vez que os integrantes do Conselho Militar Transicional não queriam – como reivindicavam as organizações populares – entregar o poder aos civis.
Outro manifestante, Ashraf Mohamed Ali, presente nas celebrações pelo anúncio do entendimento, acrescentou que está “feliz pelo acordo que é positivo para o Sudão, mas quero vê-lo implementado de fato”.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também saudou o pacto e pediu para que as partes “garantam a implementação do acordo a tempo, com transparência e inclusão e que todas as pendências sejam resolvidas através do diálogo”.