O líder da oposição na Câmara Federal, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou, na segunda-feira (15), que a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos EUA revela o quanto esse governo é caótico.
“Você está discutindo Previdência e tem que discutir filho embaixador. Você está tratando de propostas para gerar emprego e renda e o presidente propõe mudar o número de pinos da tomada”, ironizou. “É inacreditável”, disse Molon.
“A cada hora é tiro para um lado e isso gera uma sensação de caos até no Congresso, que fica baratinado, correndo de um lado pro outro, tentando evitar o pior”, avaliou o parlamentar. “Muita gente diz que isso torna a vida da oposição mais fácil, nem precisaríamos fazer oposição porque o governo mesmo se faz oposição”, acrescentou.
Falando sobre a proposta do governo de desmonte da Previdência, Molon salientou que os ataques de Bolsonaro “estão dirigidos, sobretudo, contra os trabalhadores mais sofridos e as classes médias”. O deputado argumentou que pode-se discutir alteração da idade para se aposentar, mas “tem que se levar em conta o tempo de serviço das pessoas, sobretudo dos trabalhadores mais pobres”.
Ele avaliou também que a propaganda enganosa, feita pelo governo, e as dificuldades de comunicação da oposição, confundiram um pouco a sociedade, mas que, mesmo assim, as pessoas percebem que serão prejudicadas pelas propostas do governo.
“Depois de três anos de campanha a favor da reforma, metade da população, segundo o Datafolha, é a favor e metade é contra. Quando o povo brasileiro entender o que isso representa na vida das pessoas, essa margem vai mudar completamente”, disse o parlamentar, garantindo que a luta vai prosseguir.
“Não apenas votamos contra, apresentamos emendas para modificar o texto. Conseguimos emplacar algumas, felizmente, pelo bem do povo brasileiro, outras não”, destacou Molon , em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo .
O líder da oposição avaliou como muito importantes as mobilizações da sociedade contra as medidas do governo. “Houve manifestações importantes ao longo deste ano, em especial aquela catalisada pelos estudantes, a greve geral, que de alguma maneira colocaram esse tema da Previdência”, observou.
Alessandro Molon avaliou que o deputado Rodrigo Maia cumpriu um papel importante ao garantir um debate em que “a oposição saiu maior do que entrou”. “A oposição conseguiu fazer um debate qualificado e apresentar propostas que reduziram os impactos sociais mais cruéis do texto”, disse.
“Algumas conquistas foram nossas com outros partidos, mas a força da oposição foi importante para denunciar a crueldade daquelas medidas, que são a mudança no pagamento do BPC, pago a idosos carentes e deficientes e na aposentadoria rural, que foram excluídas na comissão especial”, acrescentou.
Ele destacou que outras vitórias foram da oposição mesmo. “Por exemplo, a retirada da capitalização Ela foi denunciada pela oposição, que conseguiu mostrar que seria o fim da Previdência Social”, afirmou.
“Somos de oposição ao governo Bolsonaro. Em muitas pautas, nós divergimos do presidente Maia, sim, porque a visão econômica dele é bastante alinhada com a visão do ministro Paulo Guedes, bastante liberal”, destacou Molon.
“O nosso desejo é, na convivência com ele, conseguir regar esse ambiente de uma convivência democrática, menos tóxica, mais baseada no diálogo, no debate de idéias, e fazer daqui da casa a possibilidade de construções de saída para o país, porque não podemos esperar isso do governo, do governo não virá”, acrescentou.
“Acho que ele [Maia] tem um papel fundamental para construir esse ambiente, um espaço para que as diversas visões possam crescer, ser debatidas sem violência, sem agressividade e sem demonização de quem pensa diferente. Uma democracia madura, sólida, passa por isso”, completou o deputado.