A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma inédita resolução que condena as tuitadas racistas do presidente Donald Trump, no domingo, contra quatro parlamentares. Trump, entre outras coisas, mandou-as “voltar para seus países fracassados e infestados de criminosos”. (v. https://horadopovo.org.br/trump-insulta-deputadas-da-oposicao-voltem-aos-seus-paises-rotos/)
O biliardário reagiu ao repúdio asseverando que “não há um só osso racista no meu corpo”. Osso pode não ter, mas que a cabeça é toda racista, lá isso é.
A votação foi por 240 a 187, sendo que quatro republicanos também votaram contra o racismo, apesar da pressão da Casa Branca.
Não foi Trump que, no ano passado, chamou de “países buracos de merda” aos países da América Central e da África?
Ou que, na sua campanha eleitoral, xingou os mexicanos de “estupradores”?
Ou que, anos antes, foi um dos principais apologistas da fake news de que Obama sequer era norte-americano, mas “queniano”?
Três das quatro deputadas atacadas por Trump nasceram nos EUA e uma se naturalizou. As ofendidas são Alexandria Ocasio-Cortez (deputada por Nova Iorque, de origem porto-riquenha); Ayanna Pressley (deputada negra de Massachusetts), Rashida Tlaib (do Michigan, de ascendência palestina) e Ilhan Omar (do Minnesota, nascida na Somália).
Foi uma condenação sem precedentes. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, ironizou o slogan eleitoral de Trump, declarando que o que ele quer mesmo é fazer “a America branca de novo”, no pior sentido.
De volta ao tuite, Trump insistiu em atribuir às deputadas o ódio que ele propaga, por denunciarem sua xenofobia e racismo e chamarem seus centros de detenção em massa de imigrantes de “campos de concentração”. O que, efetivamente, são, e sob a gestapo da fronteira de Trump. Mas revelar isso, segundo ele, é “antiamericano”.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, criticou o silêncio nas hostes republicanas sobre os xingamentos de Trump a parlamentares. “Pergunto-me se o silêncio de muitos republicanos diante dos tuites xenófobos é por vergonha ou porque concordam com ele”, questionou. Schumer considerou as duas opções “igualmente indesculpáveis”.
ACLU REFUTA CASSAÇÃO DO DIREITO DE ASILO
Em outra frente, a principal entidade de defesa dos direitos nos EUA, a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) processou o governo Trump na terça-feira em uma corte federal da Califórnia contra a nova norma para pedido de asilo decretada pela Casa Branca, que na prática impediria quase todos os migrantes de buscarem asilo na fronteira sul dos EUA.
Pelo ardil de Trump, qualquer migrante que não solicitar proteção em outro país pelo qual passe a caminho da fronteira com os EUA, incluindo crianças viajando sozinhas, terá o asilo negado.
Se não for derrubada, a regra efetivamente impediria que pessoas de Honduras, Salvador e Guatemala – que são a principal parcela da onda de refugiados em andamento – procurassem refúgio nos Estados Unidos.
“Este é o ato mais extremo do governo Trump em matéria de proibição de asilo. Claramente viola leis nacionais e internacionais, e não pode ficar de pé”, afirmou o advogado da ACLU, Lee Gelernt. No processo, são réus o ministro da Justiça de Trump, William Barr, e uma série de autoridades de imigração dos EUA.
INCONSTITUCIONAL
A nova regra exige dos solicitantes que primeiro tenham pedido asilo e tenham sido rejeitados em um dos países que viajaram antes de se tornarem elegíveis para aplicar nos Estados Unidos, o que constitui flagrante violação da cláusula de “terceiro país seguro” e transferindo ao México e Guatemala o ônus do processamento do pedido de asilo.
Como resultado, a nova regra forçaria as pessoas a retornarem aos países “que estão cheios de perigo e violência”, adverte a ACLU no processo.
Até mesmo as autoridades da imigração sob Trump admitiram que a coisa está muito mal parada. “Estamos mais uma vez sendo solicitados a nos adaptar, e a fazê-lo com muito pouco tempo para treinar e preparar”, disse John Lafferty, chefe da divisão de asilo dos Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS), em um e-mail a que a Reuters teve acesso.
Em outro movimento xenófobo destinado a punir os que foram empurrados para a estrada, rumo à fronteira dos EUA, sob décadas de intervenção e pilhagem norte-americana na América Central, o regime Trump cortou centenas de milhões de dólares em ajuda a Honduras, El Salvador e Guatemala. Como assinalou uma manifestação anti-xenofobia no final de semana, “se Trump não quer que os refugiados venham, têm de parar de criá-los em massa”.
A.P.