Centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de San Juan, na segunda-feira, 22, para seguirem exigindo a renúncia do governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló. Com manifestações em todos os recantos da ilha, este foi o décimo dia consecutivo de protestos após o vazamento de mensagens realizado pelo Centro de Jornalismo Investigativo em que Roselló e 11 homens de seu governo trocam comentários agressivos contra mulheres, líderes políticos de oposição, gays. Ele e membros de seu governo também estão encalacrados em processos de corrupção em setores chaves pelos quais a promotoria acusa ex-funcionários de sua administração.
A mensagem que mais revoltou a população é aquela em que o governador faz um comentário em tom de chacota sobre os cadáveres que se amontoavam no necrotério após o furacão Maria, que deixou 3 mil mortos segundo o balanço oficial e que um estudo da Universidade Harvard avaliou em mais de 4 mil 600.
Os manifestantes ocuparam desde a manhã o Expreso Las Américas (a principal avenida de San Juan, capital de Porto Rico), na maior manifestação contra Rosselló desde que estourou o levante contra o seu mandato. À jornada de protesto se somaram sindicatos, organizações sociais, estudantes, professores e funcionários de escolas e da Universidade Estatal de Porto Rico, em meio à greve que parou a ilha durante horas.
A mobilização contou com a presença de reconhecidos artistas do país que ficaram à frente da marcha, como Ricky Martin, Bad Bunny e Residente, que discursaram aos presentes desde um caminhão de carga onde estava um potente aparelho de som.
Entre bandeiras e palavras de ordem como “Ricky não está aqui, Ricky não está aqui, Ricky está vendendo o que resta do país”, os manifestantes ocuparam as principais ruas e avenidas de San Juan.
Rosselló disse que não renunciará a seu cargo, embora foi forçado a ceder parcialmente no domingo, 21, quando declarou que não tentará a reeleição em novembro de 2020 e que aceita o já inevitável julgamento político. “Os escutei e os escuto hoje. Cometi erros e tenho me desculpado”, disse o governador deste território estadunidense no Caribe, que respeita a anexação da ilha como Estado 51.
Porém essas desculpas não convenceram. “Não é suficiente. “Deve entregar o poder a novos líderes”, assinalou Isham Rodríguez, de 36 anos, batendo uma panela. Outra manifestante levava um cartaz que dizia “Tomara que nossos 4.645 mortos no furacão te puxem pelo pé. Ricky, Renuncia”.
Sob as leis de Washington, Porto Rico é definido como “um ‘território não incorporado dos Estados Unidos’”, situação rejeitada pela maioria da população que reivindica sua independência. Sob pressão, a ilha do Caribe se declarou em bancarrota em maio de 2017 devido à dívida pública inflada pelos colonizadores, tendo como resultado a perda da ínfima autonomia econômica que possuía.
Logo depois, em setembro de 2017, sofreu a enorme devastação causada pelo furacão Maria e os resultados da destruição ainda permanecem em grande parte.
“Ricardo Rosselló, você é não somente cínico, também é maquiavélico”, disse o cantor Ricky Martin, uma das figuras públicas influentes de Porto Rico, ridicularizado nas mensagens por sua orientação sexual.
René Pérez, conhecido profissionalmente como Residente, ex-integrante do grupo musical Calle 13, afirmou que a mensagem de Rosselló era “uma falta de respeito ao povo de Porto Rico”. “Não é somente pelos chats e pelo mal falar, sacana. É por toda a corrupção que há por trás de você. Muita gente morreu por tua culpa”, expressou em sua conta de Instagram.
As manifestações continuam.