A situação do país vai muito mal para trabalhadores, aposentados e para o setor produtivo. Mas os bancos vão muito bem, obrigada. É o que revela o resultado do segundo trimestre do banco espanhol Santander no Brasil: sustentado pelo crédito e pelas tarifas, seu lucro líquido chegou a R$ 3,635 bilhões, cifra 20,2% maior do que igual período do ano passado. Vale lembrar que esse é o resultado das suas operações no Brasil – não da operação global. Na Europa, o Banco Santander registrou queda de 18% no lucro líquido no mesmo período.
Como, então, o banco espanhol consegue esses estupendos resultados enquanto o país beira à recessão e o desemprego e o subemprego já atingem 28,5 milhões de brasileiros? O próprio banco, que esperava crescimento da economia de 2,8% no início do ano, reviu recentemente suas expectativas para 0,8% em 2019. A receita é apostar nas operações de crédito, especialmente para pessoa física, contornando a crise pela qual passam as empresas e lucrando com quem recorre a empréstimos, ao cheque especial e ao cartão de crédito para enfrentar o arrocho dos salários e a falta de trabalho. Essas operações de crédito têm as maiores taxas de juros (em média de 300% ao ano), fazendo com que os bancos literalmente ganhem com a crise.
“A tendência segue com os segmentos de pessoa física e financiamento ao consumo apresentando desempenho superior ao da carteira de crédito total, com crescimento de 18,0% e 17,2% em doze meses, respectivamente. Como resultado, nossa participação de mercado em crédito atingiu 9,5% em maio/19, expansão de 0,4 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado”, aponta o Santander.
Enquanto o Santander lucra mais de 20%, a produção industrial caiu -0,2% em maio na comparação com abril; o volume de vendas do comércio varejista recuou pelo segundo mês seguido e ficou em -0,1% em maio e o setor de serviços ficou zerado (0,0% em maio).
Por lado, o crédito às empresas desabaram no mês de maio, segundo Relatório de Inflação do Banco Central de junho/2019. (Ver https://horadopovo.org.br/a-catastrofe-economica-de-guedes/ ).
Não é à toa que à medida que os bancos apresentam lucros recordes a inadimplência atinge patamares elevadíssimos. De acordo com informações do Serasa Experian, 63,2 milhões de brasileiros estão nessa condição, o que significa que 40,4% da população simplesmente não consegue pagar suas dívidas. Não surpreende, também, que as dívidas com bancos e cartões representam sozinhas 28,6% dos registros de inadimplência, ainda segundo o Serasa.
A receita com as tarifas – aquelas cobradas por operações simples como transferências – foi a segunda que mais cresceu no segundo trimestre: +8,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Patrimônio engordando
O Santander encerrou o trimestre com um retorno sobre o patrimônio líquido (um indicador da lucratividade dos bancos) de 21,3%. É a operação do Santander no Brasil que garantiu aos espanhóis o posto de maior fonte de lucro. A filial do banco espanhol contribuiu com 29% de todo o grupo no trimestre encerrado em junho.
PRISCILA CASALE