Em passagem pelo Espírito Santo, Lula voltou a falar de sua notória honestidade e a proclamar inocência diante das denúncias de corrupção que se acumulam contra ele. Para arrematar, atirou: “lugar de ladrão é na cadeia”.
Não é a primeira e nem será a última vez que alguém se vale da tática do trombadão que arranca o cordão da moça e sai berrando “pega ladrão”.
Porém, no caso do ex-presidente, a situação é mais perversa.
Embora não diga de público, ele não nega em petit comité que por duas razões se achou no direito de apoderar-se de uma fatia do patrimônio público: outros governantes fizeram isso antes, sem serem incomodados, e não tinham um projeto nacional tão formidável quanto o do PT para promover a felicidade de todos os brasileiros – nada a ver com a atual crise, que, como se sabe, é da responsabilidade exclusiva de Temer…
Esse suposto direito a uma parcela do patrimônio público conflita com a ordem jurídica atual. Para contornar o problema, Lula adotou a linha de defesa de afirmar até a exaustão que não cometeu crime algum e tudo não passa de uma gigantesca perseguição política baseada em falsas acusações.
A inconsistência é flagrante.
Quem o persegue? Antes da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça, quem o “persegue” são os mesmos grupos econômicos que o foram subornando de modo gradual e sistemático, para que ele lhes fornecesse a chave dos cofres públicos – a começar pelos da Petrobras, onde Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez et caterva superfaturavam as obras e distribuíam as propinas aos agentes políticos, para pagar campanhas eleitorais milionárias e mordomias cada vez mais atrevidas, extensivas aos familiares.
Lula quer que acreditemos que a banda podre do empresariado e seus ex-homens de ouro, como Antônio Palocci, inventaram tudo e mentem para comprometê-lo. Quer que acreditemos que os processos que responde não passam de armações, que os imóveis registrados em nome de laranjas não são dele porque não estão em seu nome. Que recebeu 14,4 milhões de dólares por 72 palestras, entre 2011 e 2014, ao preço de 200 mil dólares cada uma, por seus talentos como palestrante. Que não tinha conhecimento dos muitos bilhões desviados da Petrobras (42, segundo estimativa da Polícia Federal).
Pode ser até que os mais ingênuos acreditem. Será por pouco tempo, pois Lula escolheu um caminho que o conduz a se enforcar com a própria corda, mas o que dizer dos que mesmo sem acreditar têm colaborado por ação ou omissão para mergulhar seus semelhantes num engodo dessa magnitude?
S.R.