
O governo Bolsonaro anunciou, na noite de terça-feira (24), que vendeu 30% das ações da BR Distribuidora pelo valor de R$ 8,5 bilhões. O crime poderá ser ainda maior, totalizando 35% das ações, num total de R$ 9,6 bilhões, reduzindo sua participação na considerada “joia da coroa” em 37%.
Com esta decisão, a Petrobrás perde a maioria das ações com direito a voto e o controle da subsidiária mais lucrativa, responsável pela distribuição de combustível para todo o país, passa para as mãos de grupos privados, provavelmente a Raízen, controlada pela Shell.
Em nota, divulgada no dia 23/07/2019 às 23:23:33 horas, a Petrobrás informou que privatizou “291.250.000 Ações, além de 58.250.000 Ações Adicionais, ao preço por Ação de R$24,50, perfazendo o montante de R$8.562.750.000,00. Por meio da Oferta a Petrobrás realizará a venda de ações correspondentes a 30% do capital da BR Distribuidora, passando a deter 41,25% do seu capital após a conclusão da operação“.
“Nos termos do artigo 24 da Instrução CVM 400, a quantidade de ações ofertada no âmbito da Oferta, poderá ser acrescida de um Lote Suplementar de até 43.687.500 Ações (sem considerar as Ações Adicionais), nas mesmas condições e ao mesmo preço por Ação das Ações inicialmente ofertadas. Caso haja a colocação integral do Lote Suplementar, o montante da Oferta poderá chegar a R$9.633.093.750,00 e a participação da Petrobras poderá ser reduzida para 37,50% do capital da BR Distribuidora“, continua a nota divulgada pelo Conselho Administrativo da Petrobrás.
O governo Temer, em 2017, privatizou 29% das ações da então BR Distribuidora, até então 100% estatal, por R$ 5 bilhões.
A transação, conduzida pelos bancos JP Morgan, Bofa (Bank of America Merril Lynch), Credit Suisse, Citi, Itaú BBA e Santander, foi considerada um sucesso pelo tubarões do setor petrolífero e seus porta-vozes no Brasil.
A BR distribuidora, criada em 1971, é a maior empresa de distribuição e comércio de derivados de petróleo e atende todo o mercado interno. São mais de 8.000 postos de serviços que atingem os municípios mais distantes do país.
No primeiro trimestre deste ano a companhia obteve um crescimento de 93,1% no seu lucro líquido, apesar da política de desmonte da maior estatal brasileira, implementada por Bolsonaro, Guedes e Roberto Castelo Branco.
Segundo o economista Henrique Jager, ex-presidente da Fundação Petrobrás de Seguridade Social (Petros), e atualmente pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), em artigo divulgado pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), a subsidiária é um dos sustentáculos da Petrobrás.
“Estes resultados foram obtidos apesar da crise econômica que assola o país desde 2014, responsável pela redução do consumo aparente de derivados, bem como das políticas internas da Petrobras que pressionaram a margem da comercialização dos segmentos de refino e, consequentemente, da distribuição”, disse ele.
“Como exemplo, pode-se citar o aumento da capacidade ociosa das refinarias, que atingiu cerca de 30% no final de 2018, ampliando significativamente o volume de derivados importados e o preço do petróleo de transferência do segmento de exploração e produção para as refinarias da Petrobras, que passou da média de 105% do preço do barril do Brent para 130%, no último trimestre de 2018, de acordo com levantamentos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)”, acrescentou Jager.
“Com esses números positivos, é difícil encontrar justificativa para a privatização da BR. A Petrobras alega a necessidade de a empresa reduzir seu endividamento, pois se comparada a outras empresas do setor, como Exxon, Shell e outras, o seu endividamento demandaria a venda de ativos a fim de gerar valor para acionistas e para a sociedade”, diz o especialista.
“As principais empresas do setor, que até meados do século passado possuíam a maior parte das reservas de petróleo do mundo, atualmente controlam apenas uma pequena porção das reservas existentes, principalmente, das recém descobertas. A Petrobrás, por outro lado, fez a maior descoberta de petróleo dos últimos 40 anos, o Pré-Sal. Colocar em produção essa descoberta exige muito dinheiro – o endividamento, sob esse ponto de vista deve ser entendido como parte corriqueira do processo – para contratação de sondas de perfuração, plataformas de produção entre outras maquinas, equipamentos e serviços. Ou seja, demonizar o maior endividamento da Petrobrás na sua comparação com outras empresas do setor é fechar os olhos, propositadamente, para o fato de que a venda futura do petróleo do pré-sal vai proporcionar muito mais valor do que as demais empresas são, hoje, capazes de gerar.”
“Para a Petrobras, não faz sentido vender excelentes ativos sobre o argumento de que é necessário reduzir dívidas. Na ponta do lápis, o benefício gerado pela redução da dívida é menor que a riqueza gerada por esses ativos no longo prazo. A BR Distribuidora é um claro exemplo disso”, conclui Henrique Jager.