“É impossível e inútil tentar impedir o progresso humano”
O jornalista canadense Matthew Ehret, fundador da Canadian Patriot Review, destacou, em artigo – que reproduzimos abaixo – publicado em 16 de julho deste ano no site da Strategic Culture Foundation, a importância da fusão nuclear como alternativa energética que possa garantir o desenvolvimento da Humanidade e a ampliação da tão almejada incorporação de novas e modernas tecnologias ao processo produtivo.
Baseado no discurso de presidente Vladimir Putin na 2ª Cúpula Global de Produção e Industrialização, realizada em Yekaterinburg, Ehret mostra que a Rússia está empenhada em dominar essa tecnologia do futuro e superar os atrasos provocados pela ideologia neoliberal que, segundo sua visão, é totalmente “incompatível com o necessário e urgente desenvolvimento tecnológico e humano”.
Com o título “Putin desafia os malthusianos: A energia de fusão é uma prioridade nacional para a Rússia”, o jornalista canadense destaca que o caminho para a Humanidade é avançar sem destruir a natureza e, ao mesmo tempo, garantindo acesso de todos ao bem estar e ao progresso. Para isso, segundo Ehret, é necessário derrotar a oligarquia financeira e seus tecnocratas anticrescimento e superar a ideologia neoliberal.
O jornalista destacou na fala de Putin o seu ataque aos tecnocratas anticrescimento que promovem uma travagem do progresso e a diminuição da população mundial.
Putin afirmou:
“Isto gera apelos pelo abandono do progresso o que possibilitará, na melhor das hipóteses, perpetuar a situação e criar bem-estar local para uns poucos seletos. Mas, ao mesmo tempo, milhões de pessoas teriam de se conformar com o que têm hoje, ou seria mais apropriado dizer com o que não têm hoje: acesso à água potável, alimentação, educação e outros aspectos básicos da civilização”.
Segundo Ehrete, Putin se afastou de uma cosmovisão cínica e afirmou que “é impossível e inútil tentar impedir o progresso humano. A questão é em que base pode este progresso ser construído realisticamente a fim de alcançar as metas de desenvolvimento do milênio estabelecidas pelas Nações Unidas?”
Respondendo a sua própria pergunta, Putin expôs “o importante papel do poder da [energia da] fusão como o fundamento para uma harmonização entre o reino da natureza (a biosfera) e o âmago da razão criativa (a tecnosfera)”.
“Soluções científicas, de engenharia e de fabricação super-eficientes nos ajudarão a estabelecer um equilíbrio entre a biosfera e a tecnosfera… a energia da fusão a qual, de fato, é semelhante à produção de calor e luz na nossa estrela, o sol, é um exemplo de tais tecnologias naturais”, disse Putin.
Como se pode ver com a fala de Putin, estamos literalmente, como disse ele, diante da energia que alimenta o sol e que, finalmente, está chegando ao conhecimento e ao domínio humano. Confira adiante.
S.C.
Abaixo, o artigo de Matthew Ehret e o discurso de Putin
Putin desafia os maltusianos: A energia de fusão é uma prioridade nacional para a Rússia
MATTHEW EHRET [*]
Num discurso em 9 de Julho na 2ª Cúpula Global de Produção e Industrialização em Yekaterinburg, Rússia, o presidente Putin fez uma brilhante intervenção quanto à falta de visão da ética anticrescimento (e anti-humana) característica da ordem mundial neoliberal e declarou que a liderança da Rússia na energia de fusão é uma prioridade nacional.
Falando para 2500 representantes dos setores público e privado, o Presidente Putin expôs o paradoxo da necessidade de desenvolvimento da Humanidade, a qual muitas vezes vem a expensas da saúde da biosfera, ao dizer: “Ainda não está claro como combinar o desenvolvimento a longo prazo e o fortalecimento da produção preservando ao mesmo tempo a natureza e altos padrões de vida”.
Ao atacar os tecnocratas anticrescimento que promovem uma travagem do progresso e a diminuição da população mundial, Putin afirmou: “Isto gera apelos pelo abandono do progresso o que possibilitará, na melhor das hipóteses, perpetuar a situação e criar bem-estar local para uns poucos seletos. Mas, ao mesmo tempo, milhões de pessoas teriam de se conformar com o que têm hoje, ou seria mais apropriado dizer com o que não têm hoje: acesso à água potável, alimentação, educação e outros aspectos básicos da civilização”.
Afastando-se desta cosmovisão cínica, Putin afirmou que ” é impossível e inútil tentar impedir o progresso humano. A questão é em que base pode este progresso ser construído realisticamente a fim de alcançar as metas de desenvolvimento do milênio estabelecidas pelas Nações Unidas?”
Respondendo a sua própria pergunta, Putin expôs o importante papel do poder da [energia da] fusão como o fundamento para uma harmonização entre o reino da natureza (a biosfera) e o âmago da razão criativa (a tecnosfera): “soluções científicas, de engenharia e de fabricação super-eficientes nos ajudarão a estabelecer um equilíbrio entre a biosfera e a tecnosfera… a energia da fusão a qual, de facto, é semelhante à produção de calor e luz na nossa estrela, o sol, é um exemplo de tais tecnologias naturais”.
Putin prosseguiu descrevendo o papel condutor do Instituto Kurchatov, o qual já iniciou um projeto sobre reatores híbridos de cisão-fusão (fission-fusion) e que estarão operacionais em 2020, bem como o seu papel no impulsionamento da ciência avançada. Esta será uma força decisiva para o programa do International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), na França, que está programado para entrar em serviço, com o seu primeiro plasma, em 2025.
A recuperação de um paradigma esquecido
Outrora, discursos como este de Putin eram comuns no Ocidente, quando o progresso científico/tecnológico era reconhecido como a base de existência para a civilização.
Mas isto foi antes de ter sido criada a “nova moralidade” na esteira da contracultura do sex-drugs-rock and roll de 1968.
O “velho paradigma obsoleto da família nuclear” que Woodstock procurou substituir reconheceu a simples verdade de que “uma vez que todos nós um dia estaremos mortos, para que servem nossas vidas se não deixarmos algo melhor para nossos filhos e para aqueles que ainda não nasceram?
Este era o fundamento para a fé no progresso científico e tecnológico que animou o combate da humanidade contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial e o lançamento da humanidade para além dos seus limites, explorando o espaço e os segredos do átomo.
O presidente da Comissão de Energia Atômica, Lewis Strauss, exprimiu esta ética brilhantemente em 1958, quando disse: “Espero viver o suficiente para ver a mesma força natural que impulsiona a bomba de hidrogênio domada para fins pacíficos. Um grande avanço pode ocorrer amanhã ou daqui a uma década. Dos nossos laboratórios pode sair uma descoberta tão importante quanto o domínio do fogo de Prometeu”.
Por que ainda não alcançamos a fusão?
A questão válida ainda permanece: Se os estadistas e os formuladores das políticas dominantes durante os anos pós Segunda Guerra Mundial acreditaram tão profundamente no poder da fusão, por que não atingimos os grandiosos objetivos, como a fusão, definidos como metas nacionais na década de 1980 ou antes?
O modo mais simples de dizer isto é que os maltusianos venceram.
A década de 1970 viu o Ocidente sofrer um sutil golpe de Estado com a eliminação de todos os líderes nacionalistas comprometidos na defesa das suas populações contra o ressurgimento de uma oligarquia financeira. Muito recentemente esta oligarquia fracassara em conseguir a dominação mundial sob Hitler e Mussolini.
Depois de o último bastião de resistência a este golpe ter sido morto com o assassinato de Bobby Kennedy e Martin Luther King, em 1968, organizações não-governamentais foram rapidamente constituídas para anunciar uma nova ética sob a orientação do 1001 Club, do Clube de Roma e do World Wildlife Fund.
Estas organizações estavam cheias de antigos eugenistas e imperialistas como o príncipe Bernhard da Holanda (fundador do 1001 Nature Trust e do Bilderberg Group), o seu amigo príncipe Philip Mountbatten e sir Julian Huxley. Todos os três oligarcas foram co-fundadores do World Wildlife Fund.
Os referidos grupos financiaram uma nova “ciência dos limites” a fim de promover a ideia de que a maior ameaça à Humanidade era a própria Humanidade, ao invés da escassez, da guerra, da fome ou de qualquer outro subproduto do imperialismo tal como se acreditava anteriormente.
O príncipe Philip incorporou esta ética elitista descaradamente quando disse em 1980: “O crescimento da população humana é provavelmente a mais séria ameaça à sobrevivência a longo prazo. Estamos à beira de um grande desastre se não for contido… Não temos opção”.
Um dos primeiros malthusianos a ganhar o controle da política dos EUA durante este período foi Henry Kissinger, que afastou os EUA de uma política de apoio ao desejo de progresso industrial das antigas colônias e [defendeu] uma política de controle populacional no seu relatório NSSM 200 de 1974 .
Ali se diz: “A economia dos EUA exigirá grandes e crescentes quantidades de minerais do exterior, especialmente de países menos desenvolvidos. Esse fato dá aos EUA o maior interesse na estabilidade política, econômica e social dos países fornecedores. Onde quer que a diminuição de pressões populacionais através da redução das taxas de natalidade possa aumentar as perspectivas de tal estabilidade, a política populacional torna-se relevante para o abastecimento de recursos e para os interesses econômicos dos Estados Unidos… Embora a pressão populacional obviamente não seja o único fator envolvido, estes tipos de frustrações são muito menos prováveis sob condições de crescimento lento ou nulo da população”.
Kissinger foi acompanhado por outro malthusiano chamado George Bush Sr., então um congressista que presidia uma Força Tarefa sobre a Terra, Recursos e População, o qual em 8 de Julho de 1970 disse: “É quase auto-evidente que quanto maior a população humana, maiores as demandas por recursos naturais… A questão primordial refere-se a uma população humana [de dimensão] ótima. Quantas pessoas são demasiadas em relação aos recursos disponíveis? Muitos acreditam que nossos atuais problemas ambientais indicam que o nível ótimo foi ultrapassado”.
Assim como Sir Kissinger e Sir Bush (foram condecorados em 1995 e 1993, respectivamente) reposicionaram a América rumo a uma agressiva política externa anti-crescimento para países do terceiro mundo, uma política de desindustrialização estava em andamento também dentro dos próprios Estados Unidos pois o setor produtivo de máquinas-ferramenta e o sistema de pequenas/médias empresas agro-industriais estava a ser desmantelado como preparação para uma era de globalização neoliberal.
Para assegurar que fosse mantida a nova ética de “adaptar-se aos limites” ao invés de tentar transcender estes limites com novas descobertas, programas tais como o programa espacial Apolo foram cancelados por “razões orçamentárias” seguidos logo após por um deliberado enfraquecimento dos ambiciosos programas de energia da fusão que haviam sido desencadeados durante a década de 1950 e cujo orçamento subiu de US$114 milhões em 1958 para US$140 milhões em 1968.
O orçamento continuaria a subir com conquistas recordes lideradas pelo Laboratório de Física de Plasmas de Princeton que rompeu a marca dos 44 milhões de graus para iniciar fusão em 1978 e rompeu recordes internacionais ao alcançar um plasma de 200 milhões de graus em 1986.
Ao invés de financiar a fusão e encorajar a construção de novas concepções e protótipos tão necessários a esta transformação da sociedade, ocorreu o oposto, como um subfinanciamento e o colapso de visão que levou à desmoralização de cientistas nucleares que não podiam executar seus experimentos.
Ao abandonar seu posto como Diretor de Fusão do Departamento de Energia dos EUA em protesto contra a sabotagem, Ed Kintner disse que “deixa o programa de fusão sem uma espinha dorsal estratégica – é uma coleção de projetos e atividades individuais sem uma missão definida ou cronograma… O plano para aumentar o envolvimento da indústria no desenvolvimento da fusão é adiado indefinidamente e os benefícios industriais e econômicos dos desdobramentos (spin-offs) da alta tecnologia, certamente um subproduto cada vez mais importante de um programa acelerado de tecnologia de fusão, serão perdidos”.
Indicativo da filosofia desonesta utilizada para justificar a rejeição americana da investigação da fusão, um dos pais do revivalismo neo-maltusiano, Paul Ehrlich que em 1968 escreveu a Bomba Populacional, disse numa entrevista de 1989 que fornecer energia barata e abundante para a humanidade era ” como dar uma metralhadora para uma criança idiota”.
Um seu discípulo e co-autor de Ehrlich que se tornou o “czar da ciência” sob Barak Obama foi o biólogo John Holdren, o qual em 1969 escreveu: “A decisão a favor do controle populacional será contrariada por economistas e empresários preocupados com o crescimento, por homens de Estado nacionalistas, por líderes religiosos apaixonados e pelos míopes e bem alimentados de toda espécie. Cabe portanto a todos os que sentem as limitações da tecnologia e a fragilidade do equilíbrio ambiental fazerem-se ouvir acima do coro vazio e otimista – convencer a sociedade e seus líderes de que não há alternativa senão a cessação do nosso crescimento populacional irresponsável, que exige tudo e tudo consome”.
A morte imanente do malthusianismo
O presidente Putin afirmou recentemente, em entrevista concedida ao Financial Times em 27 de Junho , que a ordem neoliberal a qual definiu o Ocidente nas últimas décadas é obsoleta. Com seu forte apoio à energia da fusão e um retorno a uma política de crescimento industrial global ao lado da Iniciativa da Estrada da Seda (Belt and Road), o Presidente Putin identificou claramente a visão de mundo neo-malthusiana como entrelaçada no tecido do liberalismo.
Assim como o liberalismo nega verdades objectivas de princípio em favor da opinião popular, o neo-malthusianismo só pode prosperar quando um “consenso” de pessimismo cega suas vítimas à verdade da capacidade natural da humanidade de fazer constantes descobertas intencionais e traduzir tais descobertas em novas tecnologias que levem a nossa espécie a sempre maiores estados de potencial (material, moral e cognitivo).
Enquanto o animal malthusiano está comprometido com a crença de que a humanidade só pode se adaptar à escassez sob um sistema fechado de recursos fixados por elites privilegiadas, humanistas como Putin e Xi Jinping reconhecem que a natureza da espécie humana não se encontra na carne, mas nos poderes da mente que nos caracterizam como uma espécie única capaz de fazer descobertas sem fim num universo criativo crescente que pode ser caracterizado da mesma maneira que Beethoven descreveu sua música: tão rigorosa quanto é livre.
Esta declaração simples reflete uma verdade poderosa que os liberais e malthusianos não suportam: O poder natural de mudança criativa do universo – que pode ser descoberto pelo poder amadurecido da razão criadora permitida pela coexistência da legalidade e da liberdade sob a condição única de harmonizarmos nossas vontades e razão pelo amor à verdade e aos nossos semelhantes.
16/Julho/2019
[*] Jornalista de investigação, autor de The Untold History of Canada, fundador da Canadian Patriot Review e co-fundador da Rising Tide Foundation.
Discurso de Wladimir Putin na II Cúpula Global de Produção e Industrialização, realizado em 9 de julho em Yekaterimburgo
Senhoras e Senhores, amigos,
Gostaria de recebê-los em Yekaterimburgo, um dos maiores centros históricos de ciência, educação e indústria da Rússia, para a Cúpula Global de Produção e Industrialização.
Pela segunda vez consecutiva, este encontro reuniu funcionários, empresas, cientistas e representantes de ONGs de quase todo o mundo. Com efeito, já fez uma séria reivindicação de se tornar uma plataforma internacional para discussões aprofundadas sobre os desafios da nova era tecnológica.
Gostaria de usar esta tribuna e agradecer-lhe o convite e descrever mais uma vez as abordagens da Rússia para resolver problemas civilizacionais fundamentais, sem qualquer exagero.
Gostaria de falar sobre a nossa visão de tendências de longo prazo que determinam o desenvolvimento global e os riscos que já enfrentamos ou que enfrentaremos em breve.
Sim, é óbvio hoje que transformações cada vez mais rápidas estão mudando radicalmente a aparência de regiões inteiras, indústrias, técnicas de produção e modelos de negócios.
Sistemas de IA, impressão 3D e outros desenvolvimentos estão exercendo enorme influência sobre a eficiência da gestão e produtividade do trabalho.
No entanto, as esperanças de que a nova tecnologia, como tal, irá salvar o mundo da crescente influência e carga antrópica, provou ser uma ilusão.
A degradação da natureza e do clima continua e é cada vez mais forte, manifestada em secas, quebra de safra e calamidades naturais.
Aliás, nós na Rússia somos os mais atingidos. Como eu disse recentemente, a temperatura na Rússia está crescendo 2,5 vezes mais rápido do que em média em outras partes do mundo.
Basta olhar para o que está acontecendo agora na Região de Irkutsk: grandes incêndios, centenas de hectares de floresta estão queimando e inundações horríveis.
Se nada for feito, o rápido desenvolvimento tecnológico irá exacerbar em vez de aliviar todos os nossos desafios ambientais, incluindo a mudança climática e o esgotamento de recursos.
De acordo com as previsões, bilhões de dispositivos de comunicação e a infraestrutura em rápido crescimento para armazenar, processar e transferir muitos dados consumirão mais de 30% da eletricidade mundial em meados da próxima década. Como podemos alcançar essa enorme quantidade de capacidade de geração? Não há uma resposta clara para essa questão.
Dito isto, a construção de capacidade de geração e o aumento do consumo de energia, como temos estado, resultarão em novos riscos e mais mudanças climáticas. Mesmo agora, o setor de energia responde por um quarto de todas as emissões de CO2 na atmosfera. Os outros maiores emissores de estufa são a agricultura, a indústria pesada e o transporte.
Ainda não está claro como combinar o desenvolvimento a longo prazo e a produção, preservando a natureza e os altos padrões de vida. Como evitar que a revolução tecnológica digital, a robotização e a mudança geral para a internet das coisas acabem em um impasse sem recursos e com danos ambientais?
Acreditamos que essas questões requerem uma discussão detalhada e significativa. No entanto, lamentavelmente, em vez de discutir a essência da agenda climática e ambiental, muitas vezes vemos o populismo declarado, falsas alegações e, eu ouso dizer, obscurantismo.
Tudo se resume a apelos para abandonar o progresso, o que tornará possível, na melhor das hipóteses, perpetuar a situação e criar bem-estar local para alguns poucos. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas terão que se conformar com o que têm hoje, ou seria mais apropriado dizer o que não têm hoje: acesso a água potável, comida, educação e outros fundamentos da civilização.
Naturalmente, essas abordagens ultrapassadas são uma estrada para lugar nenhum. Eles só podem levar a novos conflitos. Um derivado dessa abordagem, ou um dos derivativos, de qualquer forma, é a crise migratória na Europa, e os EUA também.
A fé cega e absolutista em soluções simples, vistosas, mas não eficazes, pode levar a problemas. Refiro-me a abordagens como a rejeição total da energia nuclear ou de hidrocarbonetos, por exemplo, concentrando-se apenas nas fontes de energia alternativas existentes.
Será confortável viver em um planeta coberto de cercas de turbinas eólicas e várias camadas de baterias solares? Como dizem, é como varrer o lixo debaixo do tapete, em vez de apenas limpar a casa.
Todo mundo sabe que a energia eólica é boa, mas alguém está pensando nos pássaros? Quantos pássaros morrem? Eles tremem tanto que os vermes rastejam para fora. Isso não é uma piada, na verdade, é um efeito colateral sério desses modos modernos de geração de energia. Não estou dizendo que não deva ser desenvolvido, claro que deveria; mas não vamos esquecer os problemas relacionados.
É claro que você não pode proibir que alguém use pele de animal ou viva em cavernas, mas é impossível e inútil tentar impedir o progresso humano. A questão é, qual base pode este progresso realisticamente ser construído para alcançar as metas de desenvolvimento do milênio estabelecidas pelas Nações Unidas.
Acredito que, para garantir ar, água e alimentos mais limpos, o que também significa uma melhor qualidade de vida e longevidade para bilhões de pessoas em nosso planeta, devemos oferecer tecnologias radicalmente novas e dispositivos mais eficientes e ecológicos.
Essas soluções científicas, de engenharia e fabricação supereficientes nos ajudarão a estabelecer um equilíbrio entre a biosfera e a tecnosfera, além de minimizar e controlar melhor o impacto antrópico sobre a natureza e o meio ambiente.
Isso também inclui as chamadas tecnologias naturais que reproduzem processos e sistemas naturais de acordo com as leis da natureza.
Pode parecer estranho a princípio, mas a energia de fusão, que de fato é semelhante a como o calor e a luz são produzidos em nossa estrela, no Sol, é um exemplo de tais tecnologias semelhantes à natureza.
Potencialmente, podemos aproveitar uma fonte de energia colossal, inesgotável e segura. No entanto, só teremos sucesso na energia de fusão e na resolução de outras tarefas fundamentais, se estabelecermos ampla cooperação internacional e interação entre governo e empresas, e nos juntarmos aos esforços de pesquisadores representando diferentes escolas e áreas científicas. Se o desenvolvimento tecnológico se tornar verdadeiramente global, ele não será dividido ou refreado pelas tentativas de monopolizar o progresso, limitar o acesso à educação e criar novos obstáculos à livre troca de conhecimento e ideias.
A propósito, o Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER) serve como um excelente exemplo de cooperação científica e tecnológica aberta. Os cientistas agora planejam usá-lo para iniciar o processo de fusão termonuclear controlada. (1)
Nosso país está participando ativamente deste projeto e agora está preparado para sugerir que eles usem a infraestrutura científica da Rússia para pesquisa conjunta, investigação científica conjunta, para as equipes científicas internacionais que estão trabalhando na esfera da natureza e outras tecnologias inovadoras, incluindo instalações únicas de mega-ciências.
Com a ajuda deles, os cientistas poderão literalmente ver os processos de criação da natureza. Eu gostaria de observar que esta instalação se tornou uma parte essencial do centro interdisciplinar de tecnologias convergentes semelhantes à natureza que está em operação em um dos maiores centros científicos da Rússia, o Instituto Kurchatov, há mais de uma década.
Lançamos o gerador de nêutrons mais potente do mundo, o complexo de reatores PIK, próximo a São Petersburgo. Ele serve de base para o futuro centro internacional de pesquisa de nêutrons. Nós também começamos a projetar uma fonte única de quarta geração de radiação síncrotron em Novosibirsk, e agora planejamos construir e modernizar instalações de megaciência na cidade de Vladivostok e na cidade de Protvino na região de Moscou.
Para o bem das equipes de pesquisa internacionais que querem trabalhar na Rússia, com o objetivo de receber projetos interdisciplinares de larga escala e estabelecer grupos científicos internacionais, pretendemos criar as condições mais confortáveis e mecanismos de apoio.
A Rússia está agora iniciando grandes programas científicos e tecnológicos com grande potencial de sustentabilidade ambiental e ecológica. Isso inclui áreas como inteligência artificial, novos materiais, tecnologia genômica, soluções agrícolas limpas, fontes de energia portáteis e transferência e armazenamento de energia.
Para atingir esses objetivos, pretendemos usar o potencial de nossas principais empresas parcialmente estatais. A propósito, como você deve saber, visitei recentemente a Itália e conversei com nossos parceiros; nossos colegas usam empresas parcialmente de propriedade do governo. Pode parecer estranho, mas estamos seguindo a mesma direção – primeiro, porque essa é uma tarefa internacional e, segundo, temos recursos estatais que podemos usar nas principais áreas de desenvolvimento.
Como eu disse, para conseguir isso, usaremos empresas parcialmente de propriedade do governo e, é claro, esperamos fazer parcerias com empresas privadas e os chamados “techpreneurs”. É crucialmente importante criar um ambiente legislativo e regulatório eficaz para eles.
É claro que estamos cientes de que, hoje, este é definitivamente um problema para nós que não pode ser resolvido rapidamente, infelizmente. Gostaríamos de resolver esses problemas mais rapidamente, mas é muito importante evitar quaisquer etapas imprudentes que possam levar a consequências inesperadas.
O Governo já foi encarregado de oferecer um mecanismo eficiente para a pronta adoção de soluções normativas e legislativas na área tecnológica. Em geral, continuaremos a fazer esforços consistentes para melhorar o clima de negócios e investimentos na Rússia. Essa liberdade na criação de iniciativas é uma condição fundamental para a sociedade e o sucesso do país nesse mundo em constante mudança.
Amigos, senhoras e senhores,
Temos que encontrar respostas abrangentes para os problemas que estamos enfrentando. Isso inclui uma garantia para o desenvolvimento sustentável. Acredito que nesta era de mudanças tectônicas e, infelizmente, de crescente incerteza, valores absolutos – ou seja, criar melhores condições de vida e oportunidades para desatrelar o potencial humano – devem ser uma prioridade.
O desenvolvimento tecnológico impressionante deve servir a esse propósito. É aí que reside grande responsabilidade para o futuro da nossa nação e do mundo em geral – e definitivamente devemos trabalhar juntos.
Amigos,
A Rússia está aberta a esse tipo de cooperação expansiva e equitativa.
Eu te desejo sucesso. Obrigado pela sua atenção.
(1) Os sete principais parceiros do International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER) – Rússia, China, Europa, Estados Unidos, Índia, Japão e Coréia do Sul – lançaram o projeto há 10 anos com planos para aquecer o primeiro plasma até 2020, e atingir a fusão completa em 2023.