A eleição dos prefeitos para os 335 municípios da Venezuela, acontecida no domingo 10 último, terminou em meio a denúncias de irregularidades por parte inclusive de partidos e setores que compõem o Grande Polo Patriótico, GPP, grupo político que, junto com o Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV, apoiou o governo de Hugo Chávez e também até agora era base de apoio de Nicolás Maduro.
O candidato a Prefeito de Caracas, Eduardo Samán, ao lado de Óscar Figuera, secretário geral do Partido Comunista Venezuelano, PCV, e de Rafael Uzcátegui, secretário geral do Partido Pátria para Todos, PPT, agremiações que apoiaram sua candidatura, em chamada telefônica às 20 horas de domingo, questionou o Conselho Nacional Eleitoral, CNE, por manter abertos injustificadamente os centros eleitorais além da hora regulamentar, por atrasar de maneira inconveniente e perigosa o início da transmissão dos resultados eleitorais, enquanto o PSUV já se proclamava vitorioso pelo Twitter.
“Por que se esforçam em manter os centros eleitorais abertos? Não há justificação alguma”, questionou Samán, avaliando que isso se presta a provocar o cansaço dos fiscais das candidaturas alternativas e para que a poderosa maquinaria eleitoral oficial, apoiada nos recursos do Estado, pudesse tentar manobras fraudulentas a avançadas horas, quando os outros fiscais já não possam suportar a espera, em condições de desvantagem logística e para o retorno a seus lares na insegura Caracas.
Identificando-se como chavista e revolucionário, estranhou que para votar nele, Eduardo Samán, os eleitores tivessem que marcar as cédulas dos partidos PCV ou PPT que não tinham seu rosto nem seu nome como as dos outros candidatos. O ex-ministro do Poder Popular para o Comércio, membro do PSUV até julho deste ano quando se transferiu para o PPT, frisou que isso indica o grau de degradação que vão adquirindo as instituições do Estado venezuelano que se supõe devem estar à serviço do povo e não do governo.
Com só 47,32% de participação eleitoral e com três dos quatro maiores partidos de oposição boicotando as eleições deste domingo porque afirmaram que o sistema eleitoral da Venezuela não é confiável, o madurismo se pavoneia de ganhar 300 prefeituras das 335 em disputa. “Nessas condições, com um baixo comparecimento que foi o comum denominador nessa jornada eleitoral, além da não participação da oposição, não tem como não ser uma vitória segura do governo”, apontou o sociólogo Luis Salamanca já antes de começar a contagem.
As agremiações de Henrique Capriles (Primeiro Justiça), de Leopoldo López (Vontade Popular) e de Henry Ramos Allup (Ação Democrática), não participaram das eleições após denunciarem “fraude” nas regionais de 15 de outubro, quando o madurismo ganhou 18 de 23 estados. Ontem se votou novamente no estado de Zulia, porque o candidato opositor que foi eleito, Juan Pablo Guanipa, se recusou a juramentar ante a Assembleia Nacional Constituinte.
Nicolás Maduro tensiona ainda mais a situação do país dizendo que “partido que não tenha participado hoje (pelo domingo) e tenha chamado ao boicote das eleições não pode participar mais, ficará excluído das eleições presidenciais de 2018. Esse é o critério que a Assembleia Nacional Constituinte decidiu e eu o apoio”.
A votação vem ao final de um ano turbulento para a Venezuela, com uma inflação acumulada até novembro de 1.369%. Na medida em que nada se produz internamente, o país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo ficou ainda mais prejudicado pela queda dos preços do produto e baixas na produção. As importações de produtos de primeira necessidade para a população se comprimem, faltam alimentos e remédios.
Outra das denúncias que a oposição expressou é a pressão governamental nos eleitores, pois o presidente Maduro chamou a votar com o denominado “Carnê da Pátria”, um instrumento para controlar o acesso aos programas sociais com que as pessoas devem registrar-se em centros que o PSUV habilitou ao lado dos lugares de votação para saber quem votou.
SUSANA SANTOS