Trabalhadoras rurais de todo o Brasil realizam, nesta quarta feira (14) a Marcha das Margaridas nas ruas de Brasília. As mulheres reivindicam políticas públicas voltadas para o campo. Segundo a coordenação da Marcha, cerca de 100 mil pessoas participaram da manifestação.
A secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), e coordenadora geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, explica que este ano, diferentemente de outros anos, o movimento não traz uma pauta fechada para o governo, porque visa sobretudo resistir à retirada de direitos. “A marcha deste ano é diferente de outras marchas, em que a gente entregava uma pauta para o governo. Nesta marcha a gente não tem como entregar uma pauta para o governo que está retirando direitos das classes trabalhadoras, sobretudo das mulheres”, afirmou.
“O projeto de Brasil pelo qual lutamos é feminista e agroecológico, e que se coloca contra ao sistema capitalista, sexista, racista, que reproduz profundas desigualdades no Brasil e no mundo e tem se aprofundado na atual conjuntura diante de um governo da extrema direita que se apóia num modelo econômico neoliberal e de valores conservadores”, ressaltou.
“Não foi fácil para nenhuma de nós chegar até aqui, o que faz desse momento grandioso. E é com essa emoção que quero saudar com muita alegria todas as Margaridas dos quatro cantos do nosso país e do mundo”, disse Mazé.
Diversos parlamentares compareceram à edição deste ano, como a líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ela acredita que, diante do tamanho do movimento, o Congresso precisa dar uma resposta às demandas das trabalhadoras rurais:
“Não é possível uma insensibilidade a esse protagonismo de mulheres do Brasil inteiro, que têm uma pauta de reivindicações que vai da questão das terras – da reforma agrária a um conjunto de reinvindicações em torno disso, que vai desde tecnologia, produção, direitos sociais, educação, financiamento a não violência”, disse. “Então há uma pauta imensa, e o Congresso vai ter que analisar essa pauta, olhar os projetos em tramitação, e não pode cortar recursos, tem que aportar recursos para essas áreas”, completou.
Na marcha, foi criticada, por exemplo, a chamada MP da Liberdade Econômica (Medida Provisória 881/2019), aprovada nesta terça pela Câmara. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) participou da marcha e criticou o fim das restrições ao trabalho nos domingos e feriados, contido na MP. O texto aprovado dispensa o pagamento em dobro do trabalho nesses dias se a folga ocorrer em outro dia da semana.
Já Vanusa Cardoso veio do território quilombola de Abacatal, no Pará, para participar da marcha, em defesa de seu território: “O governo federal e o governo estadual estão entregando o estado do Pará inteiro para o capital estrangeiro, junto com eles nossos territórios – o território quilombola, indígena, dos povos tradicionais. E nós viemos aqui porque a mulher também defende o território.”
A marcha é realizada a cada quatro anos, desde 2010, em homenagem à agricultora Margarida Maria Alves, que presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB) e lutava contra a violência no campo.
A ex-presidente ficou por mais de dez anos à frente do sindicato, lutou pelo fim da violência no campo, por direitos trabalhistas como respeito aos horários de trabalho, carteira assinada, 13° salário e férias remuneradas, ela foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983 a mando de latifundiários da região.
Agricultoras familiares, ribeirinhas, quilombolas, pescadoras, extrativistas, camponesas, quebradeiras de coco, trabalhadoras urbanas e mulheres indígenas, são participantes da Marcha. Este ano, o protesto recebe o reforço de grupos feministas do país. Participam também indígenas, quilombolas, ribeirinhas e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais dos Sem Terra).
Além da defesa do campo e da agricultura familiar, as mulheres também protestam contra a mineração em terras indígenas e a reforma da Previdência e carregam cartazes contra o governo de Jair Bolsonaro. Pautas em defesa da educação no campo, saúde pública para as mulheres e aborto também estão entre as reivindicações.
De acordo com Mônica Olinto, secretária-executiva da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais), a Marcha também reafirma “a defesa de temas como práticas agroecológicas, políticas de educação e saúde, combate à violência de gênero e Previdência Social, hoje no centro da principal queda de braço no Congresso Nacional”.