No último dia 7, três dias antes do “Dia do Fogo”, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará enviou um documento ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão do Ministério do Meio Ambiente, alertando que produtores rurais pretendiam fazer queimadas em Novo Progresso e Altamira, como forma de manifestação. O ofício do MPF foi ignorado.
Mais de 70 pessoas combinaram, através de grupo no Whatsapp, atear fogo nas margens da BR-163.
No dia 10 de agosto, entre as cidades de Altamira e Novo Progresso, fazendeiros e grileiros realizaram o “Dia do Fogo” na rodovia que liga essa região do Pará aos portos fluviais do Rio Tapajós e ao Estado de Mato Grosso.
O evento foi considerado a maior queimada da história do Pará. Segundo o Ministério Público Federal, que investiga os responsáveis pelo “dia do fogo”, só em Novo Progresso houve 124 registros de focos de incêndio no dia 10 de agosto. No dia 11 esse número subiu para 203 focos. Em Altamira, os satélites detectaram 194 focos de queimada em 10 de agosto e 237 no dia seguinte. Ao todo, até hoje, foram detectados 8.125 focos de queimadas no estado do Pará em agosto, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Segundo o jornal “Folha do Progresso”, que denunciou o crime, “a ideia era mostrar ao presidente da República Jair Bolsonaro que apoiam suas ideias de afrouxar a fiscalização do IBAMA”.
No dia 12, o Ibama respondeu ao MPF, informando que “a Coordenação de Operações de Fiscalização e o Núcleo de Inteligência da Superintendência do Pará haviam sido comunicadas” sobre a possibilidade dos incidentes ocorrerem. Além disso, o documento ressalta que as ações de fiscalização estavam prejudicadas por “envolverem riscos relacionados à segurança das equipes em campo”. Conforme o MPF, funcionários do órgão ambiental estavam sofrendo ataques de madeireiros e grileiros.
O documento, assinado pelo gerente executivo substituto do Ibama também afirma que já haviam sido “expedidos ofícios solicitando o apoio da Força Nacional de Segurança”. A entidade disse que não havia recebido resposta sobre o pedido.
Segundo a reportagem da Revista “Globo Rural”, as delegacias dos municípios de Castelo dos Sonhos e Novo Progresso receberam inúmeras denúncias de produtores rurais que se dizem prejudicados pelas queimadas. “Muitos perderam cercas, pastagens, lavouras e animais, tudo devorado pelo fogo”, afirma a reportagem.
DENÚNCIAS
Na reportagem, uma pecuarista acusa servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de incendiar a floresta. O texto foi compartilhado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A pecuarista Nair Brizola, de Cachoeira da Serra, que aparece na reportagem acusando o ICMBio, recebeu uma multa lavrada há 10 dias por, supostamente, “destruir 70,93 hectares de floresta do bioma amazônico mediante uso do fogo” dentro da Reserva Biológica da Serra do Cachimbo, umas das unidades de conservação mais desmatadas do Pará.
Além da multa avaliada em 1 milhão por desmatamento e queimada ilegal e embargo da área, Nair Brizola – que já foi candidata a vereadora em Guarantã do Norte (MT) –, teve uma motosserra apreendida avaliada em 1 mil reais. A ação de fiscalização que resultou na multa e embargo da fazenda da pecuarista contou com o apoio da Força Nacional.
A parte da matéria que ganhou voz entre os grupos bolsonaristas foi, justamente, a acusação da pecuarista Nair Brizola de que os responsáveis pelas queimadas são, na verdade, servidores da área ambiental.
Esse pequeno trecho da matéria tomou conta das redes sociais e foi mencionado, inclusive, pelo segundo escalão do ICMBio. Marcos Aurélio Venancio, diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade da autarquia, informou, em vídeo, que o órgão vai instaurar uma investigação para apurar se pessoas ligadas ao ICMBio incentivaram a prática. “Repudiamos qualquer agressão ao meio ambiente e vamos ser rígidos na apuração desses fatos”, disse. O vídeo foi compartilhado no Instagram do presidente do ICMBio, Homero Cerqueira.
INQUÉRITO
A Polícia Federal (PF) abriu inquérito, nesta segunda-feira (26), para apurar o “Dia do Fogo”. A investigação vai apurar os incêndios criminosos na região. Hoje, um grupo de cerca de 25 agentes, delegados e peritos decolou de Brasília com destino a região Norte.
A ideia é investigar o caso de Altamira, mas também outras suspeitas de incêndios criminosos na Amazônia. Além da equipe da capital federal, a PF informou que “todo o efetivo” da Amazônia Legal está “mobilizado” e ajudando nas investigações de queimadas.
Segundo o Ministério Público Federal, que investiga os responsáveis pelo “dia do fogo”, só em Novo Progresso houve 124 registros de focos de incêndio no dia 10 de agosto. No dia 11 esse número subiu para 203 focos. Em Altamira, os satélites detectaram 194 focos de queimada em 10 de agosto e 237 no dia seguinte. Ao todo, até hoje, foram detectados 8.125 focos de queimadas no estado do Pará em agosto, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Veja vídeo do chamado “Dia do Fogo”: