Com política de preços “America First”, ganham os produtores americanos e perdem os consumidores brasileiros, a Petrobrás e a União, diz a entidade
Em editorial intitulado “Política de preços de Temer e Parente é ‘America First!’”, isto é, “Os Estados Unidos primeiro!”, a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), presidida por Felipe Coutinho, afirma que, desde 2016, “foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes. A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 deve chegar a 82% do total importado pelo Brasil”.
Ainda segundo a Aepet, “ganharam os produtores norte-americanos, os ‘traders’ multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobrás, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação”.
Em outubro de 2016, com Parente na presidência, a Petrobrás adotou uma nova política de preços, com paridade no mercado internacional, controlado pelas múltis e sujeito a um alto grau de especulação, e previsão e avaliações para revisão de preços pelo menos uma vez por mês.
De acordo com a Aepet, “em 2016, 24% da capacidade de refino nacional ficou ociosa. Nos nove primeiros meses de 2017, a ociosidade das refinarias da Petrobrás foi de 22%. Ao mesmo tempo, os preços relativos do diesel pago aos produtores e importadores no Brasil se elevou de 1,02 (2011) para 1,67 (2016) e 1,50 (jan-set 2017) vezes o preço do diesel no mercado internacional. O aumento relativo dos preços da Petrobrás viabiliza a importação de derivados por seus concorrentes que ocupam o mercado da estatal que fica com suas refinarias ociosas”.
Como consequência da nova política de preços da Petrobrás, os concorrentes privados trataram de aproveitar a deixa para aumentar os seus ganhos. “Temos uma escala importante no mercado brasileiro e acreditamos que, na medida em que importação faz parte da oferta nacional, a Ipiranga tem oportunidade de expandir sua infraestrutura para receber essas importações”, disse o diretor-superintendente da Ipiranga, Leocadio Antunes Filho.
Este ano, a importação de derivados dispara e aumenta a ociosidade nas refinarias da Petrobrás, com forte impacto nos resultados operacionais da estatal. Entre janeiro e setembro, segundo a própria Companhia, houve “redução da receita no mercado interno (R$ 7.784 milhões), reflexo de: retração no volume de vendas de derivados, em função da colocação de produtos por importadores, com destaque para o diesel (R$ 6.962 milhões) e a gasolina (R$ 1.269 milhões)”.
Se a Petrobrás perde mercado e fica com suas refinarias ociosas, quem ganha com a atual política de preços da empresa? Conforme a Aepet, “em 2015, o Brasil importou 1,35 milhões de toneladas de diesel dos EUA, o que representou 41% do total. Em 2016, a importação subiu para 2,15 e em 2017 estima-se, a partir dos resultados de janeiro a outubro, que alcance 4,25 milhões de toneladas. De 2015 a 2017, o diesel americano dobrou sua participação, de 41% para 82% do total importado pelo Brasil”.
Para a Aepet, os erros do passado não podem justificar, ou legitimar, os graves erros que estão sendo cometidos atualmente: “É necessário mudar a política de preços e a estratégia da Petrobrás para utilizar o maior patrimônio dos brasileiros em favor dos seus interesses. Precisamos superar a sina colonial da exportação de produtos primários, é necessário evitar o ciclo neocolonial da exportação de petróleo cru, enquanto se importa derivados com maior valor agregado”.
VALDO ALBUQUERQUE