Os ministros de Relações Exteriores da União Europeia reiteraram diante de Netanyahu o repúdio à posição do presidente americano de reconhecer Jerusalém ocupada como a capital de Israel
Os ministros de Relações Exteriores do Bloco reiteraram frente ao premiê de Israel o posicionamento da UE de que as terras que Israel tem ocupado desde a guerra de 1967 – incluindo a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã – não fazem parte das fronteiras internacionalmente reconhecidas do seu país.Em uma reunião entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e os 27 chanceleres da União Europeia (UE) em Bruxelas, a UE rejeitou acompanhar o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, manifestado intempestivamente pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
“O primeiro-ministro mencionou algumas vezes que esperava que outros países seguissem a decisão do presidente Trump … Ele pode manter suas expectativas quanto a outros, mas do lado dos membros da União Europeia, essa mudança não virá”, afirmou a chanceler da UE, Federica Mogherini.
Anteriormente, Mogherini já havia declarado que a ação de Washington tinha “o potencial de nos enviar para trás até tempos mais escuros”, e que “o que acontece em Jerusalém diz respeito a toda a região e ao mundo inteiro” e chamara a UE a desempenhar um papel “mais ativo” na questão.
A reunião confirmou o que já havia sido expressado pelos principais líderes europeus, assim que Trump anunciou sua desatinada decisão, com o presidente francês Emannuel Macron chamando a ação de “contrária ao direito internacional e perigosa para a paz mundial”, o chanceler alemão Sigmar Gabriel denunciando-a por “exacerbar ainda mais [os conflitos]” e e a primeira-ministra inglesa Theresa May dizendo “não ter planos de mudar a embaixada de Tel Aviv” e que “Jerusalém Oriental é parte dos territórios palestinos ocupados.
Também condenaram o ato de Trump o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o Papa Francisco, a Rússia, a China e a Liga Árabe.
Antes da reunião, o chefe do apartheid israelense asseverou acreditar que “todos ou a maioria” dos países europeus mudariam suas embaixadas para Jerusalém, reconheceriam Jerusalém “como a capital de Israel”. Ainda segundo Netanyahu, o que Trump fez “foi colocar os fatos diretamente sobre a mesa. A paz é baseada na realidade” – isto é, na ocupação, e que os palestinos se contentem com dois ou três mini-bantustões próximos do Mar Morto, com a tortura e a pilhagem.
Mogherini reiterou o apoio da União Europeia à solução dos “dois estados”, com base nas fronteiras internacionais anteriores à guerra de 1967, o que chamou de “consenso internacional”. A chanceler acrescentou que a iniciativa da UE visava impedir que as ações de Trump provocassem mais danos à paz na região. “Nós não queremos ver uma administração desacreditada dos EUA quando se trata das negociações no Oriente Médio”.
ANEXAÇÃO CONDENADA
A anexação pela força de Jerusalém Oriental pelos israelenses foi cabalmente condenada por seguidas resoluções da ONU, que considera que a ocupação é ilegal e contrária ao direito internacional. Antes da questão do reconhecimento de Jerusalém, os europeus já estavam em divergência aberta com Trump sobre a manutenção do acordo nuclear com o Irã, que o presidente norte-americano tenta sabotar. Também a França interferiu, para desarmar a confusão, no caso da detenção – e suposta renúncia – do primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, pela Arábia Saudita.
Por sua vez a declaração do presidente palestino Mahmoud Abbas, de que os EUA haviam perdido qualquer condição de atuar como mediador no Oriente Médio, em decorrência da incontestável parcialidade em prol de Israel, acabou endossada pelo chanceler francês Jean-Yves Le Drien, que chegou à mesma conclusão: Washington”se excluiu” de ser mediador no Oriente Médio.
Enquanto na ONU a representante ianque, Nikki Halley, tentava sustentar a insanidade de Trump sobre Jerusalém, dizendo que “o céu não caiu”, Margot Walsstrom, ministra das relações exteriores da Suécia, país que nas últimas décadas abusa da condição de vassalo de Washington, como visto no caso Assange, afirmou após a reunião: “tenho dificuldade em ver que qualquer outro país faria isso [reconhecer Jerusalém capital de Israel] e não acho que algum outro país da UE o fará”.
ANTONIO PIMENTA