Ataque norte-americano a uma festa de casamento em Musa Qala, província de Helmand, no sul do Afeganistão, chacinou a tiros e explosões pelo menos 40 convidados e familiares, menos de uma semana após o massacre, com drone, de 32 camponeses, que colhiam pinhões na beira de uma floresta. Os mortos em Musa Qala incluem 12 crianças.
É o segundo crime de guerra contra civis desde que o regime Trump declarou “mortas” as negociações com a guerrilha Talibã para retirada das tropas dos EUA. A agressão ao país já dura 18 anos.
O sobrevivente Mohamad Salim, de 30 anos, na segunda-feira se dedicou, desolado, a carregar corpos de primos e parentes, que estavam na casa decorada para a cerimônia de casamento de sua cunhada.
Salim relatou à agência Reuters que estavam “indo para a casa da noiva para a cerimônia”, “alguns de nós fora da casa e outros dentro, (quando) de repente o ataque começou”. “Dissemos às forças de segurança que não éramos membros do Talibã”, denunciou. Em vão.
Outros 13 participante da festa de casamento ficaram feridos. Parentes das vítimas ficaram sentados do lado de fora do hospital de Helmand, esperando por notícias, nesta segunda-feira. De acordo com um membro do conselho provincial, Majeed Akhundzada, o total de civis feridos pode ser ainda maior: 18.
O “ministério da Defesa” fantoche informou que vai investigar “as alegações de perdas civis no distrito de Musa Qala”. O comunicado acrescentou que o ataque incluiu operações “terrestre e aérea” e arrolou “22 membros estrangeiros do Talibã mortos e 14 presos”.
O porta-voz das tropas norte-americanas no Afeganistão, coronel Sonny Leggett, asseverou que a operação em Helmand foi um “ataque de precisão contra terroristas barricados que dispararam contra as forças afegãs e americanas”.
Segundo Leggett, a maioria dos mortos – os civis – teria sido atingida por “tiros dos militantes” ou por “detonações de explosivos em seus esconderijos” ou de “coletes suicidas”.
Sobre porque realizar um ataque a um local, exatamente ao lado de festa de casamento, ou como pode ser considerado “de precisão” uma investida em que o ‘dano colateral’ são 40 civis mortos, inclusive mulheres e crianças, nenhuma palavra.
Na semana passada, o presidente Ashraf Ghani prometeu medidas para reduzir as baixas de civis. Na segunda-feira, ele tuitou um pedido de “cautela extra” em operações militares e disse ter ordenado “investigações”. Em Musa Qala, uma autoridade local confessou estar ciente “de que civis foram feridos no ataque”.
Já o porta-voz do regime fantoche acrescentou que o ataque fora “contra um grupo terrorista estrangeiro envolvido ativamente na organização de ataques terroristas”. Quatro ‘comandantes seniores’ do Taliban e o ‘governador-sombra’ de Musa Qala teriam sido mortos.
Em Nangarhar, no leste do país, onde o massacre com drones ocorreu, Malik Khyali, 62 anos, disse que não perdoaria os que realizaram o ataque com drones – e mataram seu filho -, pois sabiam que não havia guerrilheiros ali, só trabalhadores.
À Reuters, ele relatou que seu filho, Madad Khan, estava empregado como cozinheiro para os colhedores de pinhões, quando as barracas em que dormiam foram atacadas por drone. “Vi partes do corpo sendo coletadas em vários sacos … se você os tivesse visto cobertos de sangue e sujeira, não seria capaz de comer por dias”.