CARLOS LOPES
Publicamos, já, alguns artigos sobre o realismo socialista na literatura e no cinema. Entretanto, jamais publicamos algo sobre o realismo socialista na pintura.
Há poucos anos, houve uma espécie de redescoberta dos pintores soviéticos. Depois de décadas em que eram proferidas cobras e lagartos sobre eles – a cobra mais comum é a de que sua produção era estereotipada, apenas com “apolos” proletários mostrando os seus músculos – descobriu-se que nada disso era verdade.
Essa redescoberta manifestou-se do único modo pelo qual, em uma sociedade capitalista, a arte é valorizada: pelo aumento de seu preço no mercado.
Parece irônico, em se tratando de pintores que produziram dentro de uma sociedade, e para uma sociedade, em que a lei do valor, além de limitada pela planificação da economia, estava em declínio.
Mas assim são as voltas da História.
Há muitos anos tínhamos a intenção de escrever algo sobre o realismo socialista em pintura. Entretanto, a complexidade do tema, a falta de tempo e as condições para reproduzir os quadros fizeram com que adiássemos esse plano.
Porém, alguma coisa pode-se avançar, nesse sentido.
Assim é que, ao invés de um estudo de conjunto sobre o tema, veio-nos a ideia de, antes, simplesmente, mostrar (ou, melhor, “amostrar”) a produção daqueles artistas.
Talvez, ao invés de elaborações teóricas sobre a estética dos pintores soviéticos, o melhor seja, antes, expor do que estamos falando.
Comecemos, então, pelo – no passado – mais vilipendiado desses pintores, Alexander Mikhailovitch Gerasimov.
Alexander Gerasimov – que não deve ser confundido com outro grande pintor soviético, Serguei Gerasimov (eles não eram parentes) – foi o primeiro presidente da Academia de Artes da URSS (1947-1957).
Não sabemos se é verdade ou não, mas é voz corrente que Alexander Gerasimov era o pintor favorito de Stalin. Houve quem o chamasse de “o Velázquez de Stalin” – e não para elogiar, seja o pintor, seja o dirigente da URSS.
Mas, se não sabemos com absoluta certeza a opinião de Stalin sobre a obra de Alexander Gerasimov, sabemos a opinião deste sobre Stalin: jamais aceitou a contrarrevolução kruschevista – o que lhe valeu a exoneração de todos os seus cargos e o recolhimento de seus quadros aos porões dos museus.
Já em 1990, vi um dos retratos que Alexander Gerasimov fez de Stalin em um antiquário na rua Arbat, em Moscou. Até hoje me arrependo de não tê-lo comprado – o preço, naquela época em que alguns queriam se livrar, quase desesperadamente, desse tipo de obra de arte, não era caro.
Mas esse período parece acabado.
O que temos abaixo é, realmente e apenas, uma pequena amostra da grande produção de Gerasimov. Ordenamos as imagens por ano, exceto três (“A pioneira”, “Festa no bote” e “Retrato de Michurin”), porque não conseguimos descobrir quando Gerasimov pintou esses quadros.
Alexander Gerasimov nasceu em 1881 na cidade de Michurinsk (na época, Kozlov), na província de Tambov, na Rússia.
Estudou, ainda antes da revolução, na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Na I Guerra Mundial, foi auxiliar de enfermagem na frente russa.
Depois da Revolução Russa, Alexander Gerasimov mudou para Moscou, para continuar seus estudos. Em 1934, também como parte de seus estudos, esteve na França, Itália, Alemanha e Turquia.
Ao voltar, foi presidente do comitê para a organização da União de Artistas da URSS. Recebeu o título de Artista do Povo da URSS em 1943, e, após a II Guerra (1947), foi eleito presidente da Academia de Artes da URSS.
Recebeu quatro vezes o Prêmio Stalin e foi condecorado com a Ordem de Lenin (1938).
Membro do Partido Comunista desde 1950, faleceu em julho de 1963.
Além de pintor, Gerasimov foi arquiteto, professor e teórico da arte.
Abaixo, a nossa pequena amostra da obra de Alexander Gerasimov: