O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), defendeu a união de todos os democratas numa frente pela democracia, ameaçada pelo governo Bolsonaro.
Em entrevista para o programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (23) à noite, Flávio Dino afirmou que todos devem se unir na frente, sem exclusão, tendo “um conjunto de princípios”.
“Quais são os princípios fundamentais nesse momento? Democracia política, soberania nacional, direitos dos mais pobres”, assinalou.
“Quem concorda com esse tripé, para mim é aliado. Ou seja, quem defende soberania nacional, democracia política plena – é contra pensamentos ditatoriais – e quem defende nesse momento as conquistas sociais que nós tivemos em décadas deve poder fazer parte dessa frente, sim, independentemente de uma ou outra divergência”, explicou o governador maranhense.
A apresentar Flávio Dino, a jornalista Daniela Lima, âncora do programa, citou entre as qualidades do governador a busca pelo diálogo e lembrou que ele, “em nome da tentativa de viabilizar uma frente em defesa da democracia”, procurou conversar com os ex-presidentes José Sarney (MDB), “seu adversário mais notório”, Lula (PT) e FHC (PSDB). Ela ainda classificou o chefe do executivo maranhense como um político “de aspirações nacionais, agora cotado para a disputa presidencial de 2022”.
Participaram da sua entrevista, que entrou na lista dos assuntos mais comentados no Twitter, as jornalistas Mariana Schreiber (BBC News Brasil), Cristiane Agostine (Valor Econômico) e Juliana Coissi (Agência Folha) e os jornalistas Conrado Corsalette (Nexo) e João Gabriel de Lima (Estadão).
Flávio Dino argumentou que o momento do país exige uma unidade de todos os que defendem a democracia, a soberania e o desenvolvimento brasileiro. Falou do aumento da desigualdade, do crescimento do autoritarismo, da intolerância e de tragédias absurdas. Como exemplo, lembrou do assassinato cruel e covarde da garota Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada pela polícia, em uma Kombi, quando voltava para a casa da sua mãe no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. A garota estava acompanhada do avô.
“Nós temos que tentar que haja essa união, temos que acreditar”, reafirmou o governador.
Questionado se é viável a participação do ex-governador Ciro Gomes (PDT) na frente, já que é crítico de Lula e do PT e no segundo turno da eleição presidencial de 2018 esteve ausente da campanha de Fernando Haddad (PT), Flávio Dino disse lamentar “que ele tenha adotado esta atitude [sobre a campanha de Haddad] , mas considero que isso não é condição para excluí-lo do debate em 2022”.
Embora não tenha participado da campanha, Ciro Gomes na época foi claro ao dizer que jamais apoiaria Bolsonaro.
O governador do Maranhão elogiou Ciro. “Assim como eu o achei em 2018 um excelente candidato, continuo a achar que ele é um nome que contribui para o nosso campo político porque ele sustenta muitas bandeiras em relação às quais nós temos concordâncias. Acho que o Ciro deve continuar a ser ouvido”, declarou.
“Acho que ele é uma liderança fundamental do nosso campo democrático, nacional, popular, mesmo discordando, aqui e acolá, de declarações que ele faz ou de atitudes que ele toma”, completou.
Um dos jornalistas perguntou se os bolsonaristas foram eleitos com o discurso da violência porque, segundo ele, a esquerda não tratou da bandeira da segurança.
O governador respondeu: “temos que retomar algumas bandeiras que sempre nos pertenceram e que, infelizmente, perdemos ao longo do tempo”.
“Por exemplo, o verde e amarelo. O verde e amarelo foi monopolizado por correntes à direita, quando os patriotas somos nós. Quem defende o entreguismo são outras correntes políticas”, apontou.
“Na segurança pública a mesma coisa. Esse discurso da lei e da ordem, da violência, que vai dar tiro, vai matar, ele não funciona, ele é ineficiente, é ineficaz na prática”. “Conseguimos no Maranhão uma redução da criminalidade violenta – crimes violentos, letais e intencionais – no caso de São Luís (capital do Maranhão), maior que 60% de redução e não foi necessário que eu incentivasse a violência, incentivasse o uso da força, que deve ser usado, sim, mas de acordo com aquilo que o Código Penal diz: uso moderado e necessário. O uso com proporcionalidade”.
“Então o discurso dessa segurança demagógica, de fato, acabou seduzindo largos setores da sociedade”, reconheceu, mas ressaltou que “é evidente que a desigualdade é o fator que substantivamente alimenta a violência simbólica e material no Brasil”.
“Agora, se combate a desigualdade com escola, por exemplo, como fazemos no nosso estado, ou como Leonel Brizola e Darcy Ribeiro fizeram no Rio de Janeiro. E isso não exclui o uso da força quando necessário nos termos da lei”, ressaltou Flávio Dino.
Ele destacou que a fronteira é: “uso e abuso”. “E essas alternativas, infelizmente, vencedoras [refere-se aos bolsonaristas] até aqui no debate acabam preconizando o abuso”, disse. “E o abuso acaba resultando nessas tragédias como nós verificamos neste e em outros casos”, destacou referindo-se à tragédia da morte de Agatha, no Rio, provocada pela política criminosa do “abate”, promovida pelo governador Wilson Witzel (PSC), que já matou 5 crianças neste ano.
Flávio Dino defendeu um novo julgamento para Luiz Inácio Lula da Silva e esclareceu que tem “defendido a necessidade de serem respeitadas as garantias constitucionais legais de todo e qualquer acusado no Brasil”.
“Essa é uma conquista liberal, democrática, plasmada na Constituição e ela deve valer para todos, inclusive para o ex-presidente Lula, que hoje adquire o regime semiaberto”, sublinhou.
Na opinião do governador, o julgamento de Lula “não seguiu os ditames legais”.